Cinco gols, sem sair de cima
Feito de Haaland em jogo da Champions League leva cronista à maior goleada em torneios nacionais do Brasil: Atlético-MG 11 x 0 Caiçara, 5 de Gérson, em 1991
O ‘talco’ é um bom exemplo de destaques do Século 20 que perderão espaço e brilho no próximo Milênio. Posso garantir isso por ter chegado aqui, queridos leitores e queridas leitoras de 1991, vindo de 2023 – sim, sou um ‘Viajante do Tempo’ –, quando, já na meia idade, ainda terei fresca na memória a agradável sensação infantil de ter o dorso salpicado pelo pó – que junta silicato de magnésio à fórmula química Mg3Si4O10(OH)2 – após o banho nos dias de verão. Coisas de ‘Bebezão’! Refresco a memória de todos para a eternidade ao destacar o feito de Gérson, atacante do Atlético Mineiro, autor de 5 dos 11 gols na goleada aplicada ontem sobre o Caiçara, do Piauí. Daqui a 32 anos, saibam, esse ‘11 x 0’ ainda será o maior placar já registrado na Copa do Brasil e em qualquer torneio nacional, mesmo considerando o Campeonato Brasileiro. Mas o goleador da noite não vai ser lembrado, amado e reconhecido como merece. Deixei o futuro logo após outra ‘manita’ (termo espanhol usado quando um jogador faz 5 gols numa partida), essa bem mais badalada pelo mundo, de um atacante norueguês (Nota da redação da Placar em 2023: Erling ‘Haaland’, atacante do Manchester City, em vitória de 7 x 0 sobre o Red Bull Leipzig, pela Champions League), de quase 2 metros de altura (1,94m), que ainda está por nascer (daqui a 9 anos) e será um goleador nato, apesar do jeitão aparentemente desengonçado que vai lhe render o apelido de ‘Majin Boo’ – personagem de um desenho animado japonês que já-já chega ao Brasil, ‘Dragon Ball’. Outro ‘Bebezão’!
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No futuro muito vai se falar de ‘hat-trick’, expressão que vai batizar três gols de um jogador numa partida – no Brasil vai dar direito até a escolher música no Fantástico (programa da TV Globo). Mas marcar 5 gols num jogo, convenhamos, é marca maior e precisa ser eternamente enaltecida. E pouco importa que o tal norueguês ‘matador’ venha a assinalar, um dia, 9 (nove!!!) gols em 90 minutos; ou que em 2014, anotem, um francês (Nota da redação da Placar em 2023: Yanick Manzizila) vá fazer 21 em goleada de 30 x 0 pela sétima divisão do ‘Suecão’, o campeonato nacional da Suécia. Quase dá pra contar nos dedos da mão o número de jogadores que já alcançaram ou um dia alcançarão a ‘manita’. Na Champions League, ou em torneios no exterior, até 2023 teremos futuros craques ainda desconhecidos e dos quais revelo aqui nacionalidades e nomes:
– um colombiano, Falcão Garcia (em 2012, em Atlético de Madrid 6 x 0 La Coruña);
– um argentino, Lionel Messi em Barcelona 7 x 1 Bayer Leverkusen, também em 2012);
– um brasileiro, Luiz Adriano (em 2014, Shakhtar Donetsk 7 x 0 BATE Borisov);
– um polonês, Robert Lewandowski (em 2015, Bayern de Munique 5 x 1 Wolfsburg, 5 gols em 10 minutos);
– e um francês, Kylian ‘Mbappé’ (5 gols em PSG 7 x 0 Pays de Cassel, em janeiro de 2023).
Aqui no Brasil já tivemos e teremos quem chegue a estufar as redes 6, 7 e até 10 vezes num único jogo (Dario ‘Dadá’ Maravilha, nos 14 x 0 do Sport sobre o Santo Amaro, pelo Campeonato Pernambucano de 1976). Mas goleada maior do que a de ontem, no Independência, em Belo Horizonte, até 2023 não haverá.
Sem querer estragar a euforia dos atleticanos e já estragando, aviso que o ‘Galo’ vai pular fora da disputa, já na próxima rodada, mas, servindo ou não de consolo, desclassificado pelo futuro campeão da Copa, o Criciúma (e quando acontecer, vocês vão se lembrar deste cronista que aqui se expõe à descrença). Gérson ainda vai marcar muitos gols (serão 166 em 291 jogos), mesmo encerrando a carreira precocemente (Nota da redação da Placar em 2023: atleta parou de jogador 2 anos depois da partida, em 1993, falecendo em 1994 de toxoplasmose e suspeita, nunca confirmada pela família, de ter contraído HIV). Campeão Mundial Sub-20 em 1985, Mineiro em 1989 e 1991 (Uhu! Este ano será alvinegro em Minas!), Gaúcho e da mesma Copa do Brasil ano que vem, pelo Internacional (sim, ele vai pra lá…), Gérson continuará detendo, em 2023, essa e outra marca na artilharia nacional: único jogador artilheiro de três edições da Copa do Brasil, em 1989 (7 gols), este ano (total de 6, o sexto na primeira partida contra o mesmo Caiçara, 1 x 0 em Teresina) e, aguardem, ano que vem (serão 9 gols com a camisa colorada). Daí serem incompreensíveis e inadmissíveis os apupos da torcida ontem contra o atacante, ao sair de campo, substituído. Ok, ele perdeu muitos gols, mas fez cinco! Não adianta tentarem ‘jogar’ talco’ sobre o craque. Gérson é e sempre será ‘matador’ (mesmo que daqui a seis anos essa marca venha a ser separada por um jogador, de apelido ‘Animal’). Aos piauienses do Caiçaras e a todas as vítimas do artilheiro, só me resta dizer: “Chora, ‘Bebezão’!”
PARA OS 11 VER GOLS DO JOGO
FICHA TÉCNICA
ATLÉTICO-MG 11 X 0 CAIÇARA
Competição: Copa do Brasil de 1991 – Primeira Fase – 2º Jogo
Data: 28 de Fevereiro de 1991 (quinta-feira)
Estádio: Raimundo Sampaio “Independência”
Local: Belo Horizonte (MG)
Público: 3.126 pagantes
Renda: Sem registro
Árbitro: Antônio Pereira da Silva (GO)
Atlético-MG: Carlos; Paulo Sérgio, Alfinete, Amauri e Marquinhos; Éder Lopes (Joélton), Gerson (Mattos), Edu Zanelo e Sérgio Araújo. Técnico: Jair Pereira
CAIÇARA: Dalmir; Gilvan, Chicão, Neto (Paulo César) e Chico; Macedo, Chiquinho Antônio Carlos e Zé Henrique; Edvaldo e Marques (Cordeiro). Técnico: Francisco Lopes de Oliveira
Gols: Primeiro Tempo: Gérson, aos 8’ (pênalti); Marquinhos, aos 10’; Gérson, aos 22; e Edu, aos 41’; Segundo Tempo: Gérson, aos 8’ (pênalti); Gérson, aos 14’; Marquinhos, aos 22’; Gérson, aos 23’; Edu, aos 28’; Sérgio Araújo, aos 30’; e Marquinhos, aos 44’
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