Bate-volta — dia 4: O amor é cego, ao menos no futebol
Cronista vai a último jogo do Canadá em Copa e revela futuras esperas longas e classificações que enfim serão alcançadas por países apaixonados pela bola
Daqui a 36 anos, em 2022, de ‘quando’ vim – sim, sou um Viajante do Tempo, acredite nisso ou pare de ler esta resenha agora –, já não será correto usar o velho clichê de que o Futebol é uma paixão nacional ‘nesse e naquele país’ – tipo Brasil, Itália, Argentina, para citar alguns povos tidos como mais fanáticos. Nã-nã-ni-nã-não! Esta ‘doença’ que nos faz tão bem já terá se espalhado pelos 11 cantos do mundo, e não por acaso voltarei ao Século 21 para seguir acompanhando uma Copa que será realizada no Catar, lá no Oriente Médio. E quando chegar assistirei à estreia do time do Canadá, este mesmo que ontem perdeu de 2 x 0 para a União Soviética, encerrando, com três derrotas na Fase de Grupos, sua primeira participação em Mundiais. E informo a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1986, que em 2022 o torcedor canadense terá esperado todo este tempo para retornar à disputa mas, mesmo assim, estará transbordando uma euforia de dar gosto. Na mesma Copa do futuro, outra nação viverá êxtase semelhante após espera ainda maior, de 64 anos: o País de Gales, que alcançou a vaga em 1958 e nunca mais. Cada vez mais, não haverá ‘patamar abaixo’ do Mundo da Bola ou décadas de afastamento dos Mundiais que diminua a paixão pela bola, seja qual for a nacionalidade, lhes garanto. Ao menos no Futebol, o amor é mesmo cego.
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Serão 80 os felizardos países (classificados no campo) que, até 2022, já terão participado da Copa ao menos uma vez. Mas outros 131 filiados à Fifa ainda aguardarão, ansiosos e aflitos, na ‘fila’, buscando o tão desejado sucesso nas Eliminatórias. Pelo menos isso! E entre eles estarão a Finlândia, Venezuela, Moçambique e, atenção, a Índia – o que aumenta considerável e numericamente a quantidade de torcedores que sonham com a vaga. O Brasil será o único país a ter participado de todas as 22 edições do torneio, seguido pela Alemanha, com 20 presenças, Argentina e Itália, com 18, e México com 17. E apenas oito seleções nacionais terão conquistado o título. Vale dizer que em 2022 teremos mais países filiados à FIFA do que à ONU! Sério! Placar de 211 x 193, pro Futebol!
Um outro clichê sobre Futebol, comum em apostilas escolares, pra sempre poderá ser usado: as Copas contam a História e as transformações do mundo. É verdade, desde os anos 1930, e inclusive as geopolíticas. Até 2022, anotem, já serão nove os países que terão disputado a competição mas não existirão mais: Iugoslávia (depois de 9 participações, a partir de 1992 se desmembrará); Tchecoslováquia (classificada 8 vezes, sendo vice em 1962, mas daqui a quatro anos terá sua última representação na disputa, fragmentando-se em 1993, pacificamente); União Soviética (o gigante, vitorioso de ontem, também vai se dividir, creiam-me; a sétima e última presença com a configuração e o tamanho atuais será também em 1990, aguardem!); Alemanha Oriental (jogou em 1974, e os motivos desse fim têm muito a ver, dá pra supor, com o destino do país citado anteriormente); e as Índias Orientais Holandesas (depois do Mundial de 1938, foram invadidas pelo Japão e, muitos de vocês devem saber, desde 1945 passaram a fazer parte da independente Indonésia). ‘Comentarista do Futuro’ também é cultura!
O Canadá está dando adeus ao Mundial do México sem marcar um gol sequer e tendo dois jogadores expulsos nos três confrontos (chegará, portanto, ao Catar, em 2022, com mais cartões vermelhos que tentos na história das Copas). Outra curiosidade da competição que acompanho no futuro é que será a segunda vez na História que não teremos estreantes na competição classificados nas Eliminatórias, não contando, assim, o Catar, que estará lá pela primeira vez mas foi incluído por ser o país-sede. O mesmo se dará, podem me cobrar, em 2010, quando os jogos acontecerão na África do Sul. Não falei que a adoração pelo futebol estará por todo o planeta?
Retornarei ao Século 21 torcendo para que a tristeza do torcedor canadense ontem seja recompensada daqui a 36 anos, quando se inicia a disputa no Grupo F do Mundial do Catar – em que também estão Bélgica (adversário na estreia, dia 23 de novembro, anotem), Marrocos e a Croácia. Tenho certeza que o destino reserva para o Canadá grandes alegrias em 2022! Nem que seja apenas o primeiro gol em Copas do Mundo! Já vai ser demais!!!!!
PARA VER OS MELHORES MOMENTOS DO LANCE
FICHA TÉCNICA
CANADÁ 0 X 2 UNIÃO SOVIÉTICA
Competição: Copa do Mundo de 1986 (México)
Data: 9 de junho de 1986 (segunda-feira)
Horário: 7h (horário local)
Local: Estádio Sergio León Chávez, em Irapuato, no México
Público: 14.200 espectadores
Árbitro: Idrissa Traoré (Mali)
CANADÁ: Tino Lettieri; Bob Lenarduzzi, Ian Bridge, Randy Samuel e Bruce Wilson; Randy Ragan, Paul James (Branko Segota), Dave Norman e Gerry Gray (Georges Pakos); Carl Valentine e Dale Mitchell. Técnico: Tony Waiters
UNIÃO SOVIÉTICA: Viktor Chanov; Oleg Kuznetsov, Gennadiy Morozov, Aleksandr Bubnov e Sergei Aleinikov; Gennadiy Litovchenko; Andriy Bal, Vadym Evtushenko e Sergei Rodionov; Oleg Protasov (Igoir Belanov) e Oleg Blokhin (Oleksandr Zavarov). Técnico: Valeriy Lobanovskyi
Gols: Segundo Tempo: Oleg Blokhin, aos 13’; Oleksandr Zavarov aos 29’
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