Bate-volta — dia 11: um dos tantos ‘esquadrões imortais’
Copa de 74: cronista vê um desses ‘timaços’ da história, a melhor geração da Polônia, vencer Argentina e rumar ao 3º lugar, que vai tirar do Brasil
Elogiar um time de futebol chamando-o de ‘Esquadrão Imortal’ é a mesma coisa que enaltecer uma cidade dizendo que ela tem ‘O terceiro melhor clima do mundo’. São ‘trocentos’ por aí que se apresentam (e se qualificam) assim. Sei que também vai cair na lixeira do ‘lugar comum’, papo de ‘doido varrido’, mas preciso esclarecer a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1974, que sou um ‘Viajante do Tempo’, vindo de 2022, quando estará rolando neste momento mais uma Copa do Mundo, a 22ª, desta vez no Catar, sim, no Catar, coisas da Fifa. E que retornarei a tempo de ver uma nova disputa entre Polônia e Argentina, e daí ter escolhido ontem vir até aqui, no Mundial da Alemanha, para assistir à épica vitória polonesa (3 x 2) sobre o selecionado argentino, uma das partidas que ficarão na história deste timaço de jogadores que têm tantos recursos como consoantes em seus nomes. Um escrete que merecia epíteto melhor, mas ganhará a eternidade como ‘Esquadrão Imortal’ – o mesmo que qualifica (mas não diferencia) grandes equipes de todos os Tempos, do Vasco da Gama dos anos 40 ao, aguardem, Bragantino que ainda será visto nos anos 90. Prova de que a mídia esportiva nunca foi, não é e, daqui a 48 anos, ainda não será um ‘esquadrão imortal da originalidade’.
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Foi bonito ver de perto o atual campeão olímpico em ação. E curioso constatar como nomes de jogadores de Futebol criam reminiscências mágicas nas nossas cabeças e corações de torcedores apaixonados. Um goleiro chamado Tomaszewski não passa em branco na infância de um garoto que em 1974 está com 9 anos e certamente na sala de casa vendo na TV a repercussão da rodada de ontem no Mundial. E que viu este jogão entre Polônia e Argentina, claro, afinal Tomaszewski estava lá – assim como no álbum de figurinhas que segue colecionando e na caixa de sapatos onde guarda seu time de botão. Como é voraz leitor de noticiário esportivo, sabe que o arqueiro anda sendo chamado de “The Man Who Stopped England” (“O homem que parou a Inglaterra”), desde que, na última partida das Eliminatórias, fechou o gol e classificou a Polônia para a Copa, fazendo os ingleses se juntarem ao ‘time do sofá’. E também corria em campo (mais que todos) o atacante que, revelo, será o artilheiro da competição, Lato, um dos raros carecas já vistos nos gramados do mundo. Por que será?
Outra inconfidência que faço a vocês, queridos torcedores e queridas torcedoras de 1974, é que o time polonês terminará a Copa disputando o terceiro lugar, infelizmente, com o Brasil – sim, cairemos antes da final – mas o resultado, em respeito ao espetáculo, deixarei em sigilo. (‘Nota da Redação da Placar em 2022: vitória da Polônia, por 1 x 0, gol de Lato’). Mas informo que o jogo será uma espécie de divisor de águas no nosso futebol, pois ficará definitivamente claro que precisamos parar de viver sobre as loas do passado, da geração de Pelé.
Como o mundo, em especial o da Bola, dá voltas, todas as três seleções que citei aqui estarão vivendo momentos diferentes em 2022. O Brasil, o que mais interessa a todos, claro, terá iniciado o Mundial do Catar muito bem, com duas vitórias, obrigado… Já Polônia e Argentina estarão – ‘hoje’ ainda, para mim, mas daqui a 58 anos – disputando uma das vagas do Grupo C nas oitavas-de-final, a primeira trazendo na bagagem uma vitória e um empate das duas primeiras rodadas; a segunda, uma derrota e uma vitória – em jogos contra México e Arábia Saudita, no mesmo Grupo, que também ainda terão chances.
De hoje até lá, já terão sido 11 confrontos, com seis vitórias argentinas, três polonesas e dois empates. Adianto que chegará a vez de os argentinos derrotarem os poloneses em Copa, e já na próxima, em terras do nosso vizinho: 2 x 0, gols de Kempes, que ontem também incomodou a defesa adversária. Mas antes, dentro de poucos dias, aqui na Alemanha, a talentosa equipe do leste europeu vai dar uma mãozinha e tanto para o rival. Embora vá entrar em campo já classificada, pelas duas vitórias (a outra sobre o Haiti), nada de corpo mole com a Itália, em novo triunfo que permitirá à Argentina passar de fase. Mas no Futebol, como na vida, temos todos uma tendência a esquecer o bem que os outros nos fazem, guardando só o mal.
Nos suntuosos estádios que serão erguidos pelo Catar, a Polônia chegará ao seu nono Mundial. E contando com um craque que já terá sido eleito pela FIFA (nos dois anos anteriores, 2020 e 2021) como melhor jogador do mundo, anotem: Robert ‘Lewandowski’, com mesma terminação (‘wski’) do meu goleiro imortal. Não haverá, como ainda há, acho eu, dúvidas de que o país é uma potência do esporte, pródigo em formar equipe vencedoras. Em 1938, na segunda Copa, protagonizaram com o Brasil um dos lendários ‘matches’ da primeira metade do século, vencido pelo nosso escrete, com Leônidas da Silva e Domingos da Guia, por 6 a 5, placar que atesta como foi acirrado. A Segunda Guerra arrasou e afastou, por 36 anos, a Polônia dos Mundiais, mas eles estão de volta. Com a chegada do treinador Kazimierz Górski, ainda no comando, um grupo de jovens promissores começou a ser preparado e agora estão mostrando que essa gente nada bronzeada também tem seu valor! Entre eles o ‘carequinha’ Grzegorz Lato, que tem a fama de correr 100 metros em menos de 11 segundos. Ao seu lado, muitos atletas e consoantes, como Szymanovski, Cmikiewicz, Szymanovski, Cmikiewicz, Kasperczak e Maszczyk. Mas tinha também gente com nomes menos complicados: Gorgon, Deyna e Gadocha. Não acha?
Essa mesma geração que estamos testemunhando, e que eliminou a Inglaterra nas Eliminatórias, na próxima Olimpíada, daqui a dois anos, em Montreal, não repetirá o feito de Munique (1972, Medalha de Ouro, vitória sobre a Hungria na final), mas chegará perto. E mais uma vez, usando uma expressão da imprensa esportiva, ‘no tocante ao tema’, manterei suspense… (‘Nota da Redação da Placar em 2022: Medalha de Prata após derrota de 3 x 1 para a Alemanha Oriental na final’). Daqui a seis anos, voltará a ‘fazer um bonito’, na Copa da Espanha, com alguns remanescentes desta equipe e uma nova estrela: Boniek. Podem me cobrar! Uma craque cheio de talento e fartas madeixas no cocuruto. Mas registre-se, entre as novidades do Futebol no futuro, o surgimento de ‘calvos’ assumidos, anotem: Zidane (França), Robben (Holanda), Verón (Argentina) e, no Brasil, Roberto Carlos e Ronaldo Fenômeno, entre outros. Todos bom de bola. Será dos carecas que a bola gosta mais?
A verdade é que hoje e sempre será assim: qualquer seleção nacional só ganha status de ‘cachorro grande’ no Futebol depois que conquista uma Copa do Mundo. A França é uma que vai penar até chegar lá. A Argentina não demora a subir este degrau, mas a Polônia, ao menos até 2022, seguirá na fila. Na disputa na Alemanha, os poloneses só não vão chegar à final porque na ‘semi’, contra o time da casa, serão prejudicados pela chuva, que anulará a principal qualidade da equipe: a velocidade. Não basta talento, é preciso sorte. Que ela sorria para o Brasil em 2022!
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FICHA TÉCNICA
POLÔNIA 3 x 2 ARGENTINA
Competição: Copa do Mundo de 1974 (Alemanha)
Data: 15 de junho de 1974
Horário: 15h30 (horário local)
Local: Estádio Neckarstadion, em Stuttgart (ALE)
Público: 31.500
Árbitro: John Thomas (País de Gales)
Assistentes: Robert Davidson (Escócia) e Heinz Aldinger (Alemanha Ocidental)
Polônia: Tomaszewski; Szymanowski, Gorgon, Zmuda e Musial; Deyna, Kasperczak e Maszczyk; Lato, Szarmach (Domarski) e Gadocha (Cmikiewicz). Técnico: Kazimierz Gorski
Argentina: Carnevali; Wolff, Perfumo, Bargas (Telch) e Heredia; Sa, Babington e Brindisi (Houseman); Ayala, Balbuena e Kempes. Técnico: Vladislao Cap
Gols: Primeiro Tempo: Lato aos 7′; Szarmach aos 8′; Segundo Tempo: Heredia (ARG) aos 15′; Lato aos 17′; Babington (ARG), aos 21′
Cartões Amarelos: Perfumo, aos 21′; e Babington, aos 47′
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