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O Comentarista do Futuro ícone blog O Comentarista do Futuro Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer

A bola de futebol que anda para trás

Com dificuldade em enxergar a pelota azul da Série B de 2023, cronista vai até à abertura da Copa de 70, que apresentou ao mundo a icônica ‘Telstar’

Quem aí ‘dá bola’ para saber qual a bola que está sendo disputada num jogo de futebol? A partir de hoje, muita gente – garanto a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1970. Sou um Viajante do Tempo, vindo do futuro, e daí poder atestar que o enfadonho 0 x 0 entre México e União Soviética, que abriu ontem a 9ª edição da Copa do Mundo da Fifa, será eternamente lembrada e citada como uma das piores partidas inaugurais do torneio. Mas também como um marco na simbologia e na mística em torno do esporte. Assim que soou o apito do juiz, o mundo foi apresentado à mais icônica bola de futebol que terá sido desenhada e lançada na história – ao menos até 2023, de ‘quando’ vim.

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Não foi à toa que a ‘Telstar’ (‘estrela de televisão’) ganhou o nome do esférico satélite de comunicação que vai permitir a inédita transmissão dos jogos ao vivo para todo o planeta e com imagens a cores. Nela, a tecnologia também está presente. A começar pelo engenhoso icosaedro – formado por 12 gomos pentagonais pretos e 20 hexagonais brancos (inspirados nos painéis solares do satélite) – que facilitará a identificação da ‘redonda’ em qualquer TV (em sua grande maioria, ainda em ‘preto & branco’). Pois acreditem: o mundo daqui a 53 anos terá muitas inovações mas também dará curiosos e injustificáveis passinhos pra trás. Decidi fazer esta viagem ao passado logo após espremer os olhos tentando assistir a um jogo da Série B do Campeonato Brasileiro de 2023. Tudo porque alguns ‘cartolas’ sem noção, ajudados por engenheiros e designers idem, lançaram e adotaram uma pelota… Azul! Não há quem enxergue uma esfera azulada sobre o gramado verde nas TVs coloridas, ora bolas!

A bola azul da Série B
A bola azul das Séries B, C e D do Brasileirão

De hoje até 2023, cada edição do Mundial terá, a exemplo do México este ano, sua ‘bola oficial’ da Fifa, que obrigatoriamente vai ser usada em todos os confrontos. Soarão medievais relatos como a final de 1930, disputada com uma bola em cada tempo de jogo, acerto encontrado para o impasse de preferências entre Uruguai e Argentina. Ou uma troca do modelo de bola com a competição já em andamento, como ocorreu em 1962, pelo desaprovação à ‘Crack’, substituída pela ‘Top Star’. A Adidas, criadora da futurista ‘Telstar’ chegará a 2023 já tendo assinado 14 bolas oficiais de Copa do Mundo. E pensar que bexigas de porcos (recheadas com penas ou novelos) mantiveram acesa esta paixão por séculos, nos primórdios do futebol. Até as bolas de couro marrom, como as que rolaram pelos gramados da Inglaterra há 4 anos, ficarão na saudade. O design e as cores de cada criação serão muitos, todos eles com predominância do Branco. E cada redonda trazendo alguma novidade tecnológica… Até vir a inteligentíssima ‘Bola Azul’. Que bola fora!

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Outras inovações lançadas ontem no futebol foram os cartões amarelo (de advertência, mostrado a quatro russos e um mexicano) e vermelho (que não sairá do bolso dos árbitros até o término do Mundial) e as substituições de jogadores de linha, e não mais apenas do goleiro. A entrada de Anatoli Punzach no lugar de Víctor Serebrjanikov, no time soviético, tornou-se assim a primeira substituição da história. Mas nada como a ‘Telstar’, que voltará renovada daqui a quatro anos, na Copa da Alemanha, e mesmo depois de aposentada seguirá aparecendo em desenhos animados e outras representações visuais do esporte. Acreditem: essa bolinha em gomos pretos e brancos chegou para ser eternamente um ícone do Futebol.

Pelé e Tostão na final entre Brasil e Itália, no Estádio Azteca, na Copa do México-1970
Pelé e Tostão na final entre Brasil e Itália, no Estádio Azteca, com a Telstar em destaque

Alerta de ‘spoiler’: saibam vocês que daqui a 29 anos, em 1999, uma antiquíssima bola de bexiga de porco, com mais de 450 anos, será encontrada perdida em meio às vigas sobre a cama de uma rainha, que costumava lançá-la de sua sacada para dar início às partidas entre os empregados reais e soldados. (Nota da Redação da Placar em 2023: Maria dos Escoceses, no Castelo de Stirling, na Escócia; objeto está exposto no Museu e Galeria de Artes Stirling Smith). As ‘bexigas’ (daí um dos sinônimos da bola nos campos de várzea) foram desaparecendo em meados do Século 19, justo quando chegava ao Brasil e o processo de vulcanização da borracha já permitia a criação da esfera elástica coberta por camada de couro. Foi em nosso País, na Copa de 1950, que pela primeira vez usou-se a ‘Duplo T’, com válvula no lugar do antigo laço que permitia o enchimento com ar. Além de grafismos arrojados, as futuras bolas de futebol terão nomes curiosos (‘Questra’, ‘Tricolore’, ‘Jabulani’, ‘Fevernova’, Al Rihla’, etc.), materiais sintéticos de última geração e até um ‘chip’ instalado – espécie de microcomputador capaz de enviar dados para dirimir dúvidas como o lance da finalíssima de quatro anos atrás, entre Inglaterra e Alemanha. Entrou ou não entrou? A própria bola dirá. Com tantos avanços, imaginem minha surpresa, daqui a 53 anos, ao me deparar com a obscura pelota que virá a ser adotada, aguardem, em 2023, para a Série B nacional. ‘Uhlsport Match Pro’ (e ‘Uhlsport Game Pro’, na séries C e D) será o nome da ‘criança’. É de ficar azul de vergonha…

Jabulani, bola oficial da Copa 2010 na África do Sul
Jabulani, a polêmica bola oficial da Copa 2010 na África do Sul

PARA VER LANCES E GOLS DO JOGO QUE APRESENTOU A ‘TELSTAR’ AO MUNDO

https://www.youtube.com/watch?v=EXo3CqoBZto

FICHA TÉCNICA
MÉXICO 0 x 0 UNIÃO SOVIÉTICA

Competição: Jogo de Abertura da Copa do Mundo de 1970
Data: 31 de maio de 1970
Estádio: Estádio Azteca
Local: Cidade do México (MEX)
Horário: 12hs (local)
Público: 107.160 pagantes
Árbitro: Kurt Tschenscher (ALE)
Assistentes: John Taylor (ING) e Keith Dunstan (BER)

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MÉXICO: Calderon; Vantrolra, Peña, Guzmán e Pérez; Hernández, Pulido e Velarde (Munguia, aos 22’ do Segundo Tempo); Valdivia, Fragoso e Lopez. Técnico: Raúl Cardenas

UNIÃO SOVIÉTICA: Kavasashvili; Kaplichni, Shesterniev , Lovchev e Logofet; Asatiani, Muntian e Viktor Serebryanikov (Anatoly Pusach, no intervalo); Bishovets, Evriuzhikan e Nodya (Khmelnitski, aos 22’ do Segundo Tempo). Técnico: Paramonev Kachalin

Cartões Amarelos: Lovchev, Nodya, Asatiani e Logofet (URSS); Peña (MEX)

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