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Entrando no Jogo ícone blog Entrando no Jogo Por Leandro Miranda Analisando o que realmente acontece dentro de campo. Porque futebol vai além do trivial

Beckenbauer revolucionou o futebol como o primeiro líbero ‘moderno’

Maior nome da história do futebol alemão começou a carreira como meio-campista, mas atingiu seu auge ao se tornar um zagueiro que saía para o jogo

A importância de Franz Beckenbauer para o futebol tem muitas dimensões. Dono de duas Bolas de Ouro, a lenda do futebol alemão, que morreu neste domingo, 7, aos 78 anos, capitaneou alguns dos maiores esquadrões da história do futebol de clubes e de seleções, além de ter sido um dos únicos a terem conquistado a Copa do Mundo como jogador e treinador. E outra faceta que mostra o peso do “Kaiser” no mundo da bola foi a revolução tática que ele proporcionou ao reinventar a função do líbero nos anos 70.

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Beckenbauer é tido como o exemplo perfeito do “líbero” – um jogador que, sem a bola, fazia parte da zaga, mas, com ela, avançava para armar o time e participar do ataque. Acontece que, durante boa parte de sua carreira, ele não jogou na defesa, e sim no meio-campo. Na Copa de 1966, com apenas 20 anos, ele foi um dos destaques atuando como um segundo volante, que corria o campo todo e fazia gols. Em 1970, ainda estava jogando como volante, inclusive na lendária semifinal contra a Itália, em que terminou a partida com o ombro deslocado em uma tipoia.

Mas por que Beckenbauer demorou tanto para ser escalado na função em que foi eternizado? Simples: naquela época, o líbero era um jogador puramente destrutivo. Tratava-se apenas de um zagueiro a mais, que se posicionava por trás dos colegas de linha defensiva. Enquanto os demais defensores marcavam os atacantes adversários individualmente, o líbero ficava mais recuado, na sobra, interceptando passes e fazendo coberturas. Normalmente era um jogador de excelente leitura de jogo e inteligência tática, mas, antes de tudo, um defensor – como o italiano Armando Picchi, capitão da Inter de Milão bicampeã europeia dos anos 1960, que nem de longe tinha o talento com a bola no pé de Beckenbauer, por exemplo. Mesmo os mais técnicos, como o sérvio Velibor Vasovic, do Ajax, passavam longe da desenvoltura para atacar do craque alemão.

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O futebol alemão já jogava com líberos na época de Beckenbauer, mas o tipo de jogador que exercia essa função era normalmente um zagueiro de imposição física e poder de marcação, não um armador elegante como o “Kaiser”. Além disso, Helmut Schön, treinador da seleção, achava que escalar o jogador mais técnico do time na defesa era um desperdício de seu talento. Foi só quando ele começou a brilhar nessa função no Bayern de Munique que as portas também se abriram para a mudança de posição na seleção.

Capitão da Alemanha Ocidental, Franz Beckenbauer recebe a taça de campeão da Copa do Mundo de 1974 - AFP
Já como líbero, Beckenbauer capitaneou a Alemanha Ocidental no título da Copa de 1974 – AFP

Desnecessário dizer que foi um sucesso absoluto. Beckenbauer interpretou a função de líbero de forma totalmente diferente: além de fazer o trabalho defensivo, cobrindo os companheiros e organizando a zaga, ele passou a ser um armador extra para o time. Quando tinha a bola, ele era capaz de conduzir desde a defesa, tornando-se um meio-campista extra, dando o ritmo do time, distribuindo passes precisos e até aparecendo no ataque quando a jogada se desenrolava. Em vez de um simples defensor, o líbero se tornou uma peça ofensiva a mais.

Como líbero, Beckenbauer foi o capitão e craque da Alemanha Ocidental que conquistou a Eurocopa de 1972 e a Copa do Mundo de 1974, além do Bayern de Munique tricampeão europeu em 1974, 1975 e 1976. Seu sucesso inspirou outros líberos que passaram a exercer a função como o “Kaiser”, influenciando também o jogo ofensivo de seus times, como Matthias Sammer, Gaetano Scirea, Ronald Koeman e o melhor pós-Beckenbauer, Franco Baresi.

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No futebol atual, em que predomina a marcação por zona, a função do líbero praticamente não existe mais. Algo que se aproxima é o que Guardiola faz com John Stones no Manchester City, por exemplo – sem bola, um zagueiro; com bola, um meio-campista que até tem liberdade para chegar à frente. Mas seu legado permanece em outro sentido: mais do que nunca, exige-se que os zagueiros não apenas sejam bons marcadores, mas também talentosos tecnicamente, capazes de progredir a bola com passes, lançamentos e conduções. Como se vê, Beckenbauer era realmente um gênio à frente de seu tempo.

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