Em reta final da temporada, futebol feminino celebra recordes em 2024
Da seleção aos clubes e atletas, modalidade segue em desenvolvimento no país e vive expectativa para a Copa do Mundo no Brasil em 2027
Chegada a reta final do calendário oficial do futebol feminino no Brasil, o ano de 2024 consolida-se, para a modalidade, como um período repleto de novos feitos significativos. As marcas passam desde o público nos estádios e valores recordes registrados pelos principais clubes do país, até conquistas envolvendo a Seleção nacional e atletas brasileiras.
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Após a decisão do Campeonato Paulista na última quarta-feira (20), por exemplo, o Corinthians, mesmo tendo perdido o título para o rival Palmeiras, ainda garantiu, nesta temporada, o recorde de arrecadação na história da modalidade no Brasil. O alvinegro alcançou receitas de R$ 26,5 milhões em 2024, valor que supera em 56% os ganhos de 2023, assim como a previsão da folha salarial para a temporada, na mesma porcentagem.
No Campeonato Paulista, inclusive, a premiação para a atual temporada foi recorde, com R$ 4,18 milhões distribuídos entre as equipes, e R$ 1,15 milhão para o campeão Palmeiras. No caso do Corinthians, que ficou com o vice, o montante recebido foi de R$ 630 mil. Em outras das principais competições, a premiação também foi recorde em 2024, casos da Supercopa, Libertadores e Brasileirão. O Corinthians saiu vencedor nas três, faturando, respectivamente, R$ 600 mil, R$ 11,6 milhões e R$ 2 milhões.
Entre os clubes nacionais, além dos valores recordes conquistados em algumas das principais competições, também houve novamente a quebra do recorde de público na modalidade na América do Sul. A marca que perdura até o momento foi a de 44.529 torcedores presentes na vitória do Corinthians por 2 a 0 diante do São Paulo, na final do Brasileirão, em setembro, na Neo Química Arena.
Já para a seleção feminina de futebol, a temporada de 2024 também foi histórica. Nas Olimpíadas de Paris, apesar do outro não ter vindo, o Brasil novamente chegou à final, 16 anos após a última vez, em 2008, por mais que novamente fosse derrotada pelos Estados Unidos.
No caso das atletas, a cerimônia do Bola de Ouro, realizada em outubro, também reservou outro marco significativo. Pela primeira vez na história, duas brasileiras foram nomeadas entre as 30 melhores do mundo. Foram os casos da atacante Gabi Portilho, do Corinthians (em 18ª), e da zagueira Tarciane (23ª), que atuou por Corinthians e Houston Dash, dos EUA, nesta temporada.
Para Fábio Wolff, membro do comitê organizador da Brasil Ladies Cup, competição que encerra o calendário do futebol feminino no Brasil desde 2021, tal marca é um sinal claro do desenvolvimento da modalidade no país nos últimos anos.
“Ver a Gabi Portilho em 18ª e a Tarciane em 23ª, duas atletas brasileiras entre as 30 melhores do mundo, demonstra que o futebol feminino nacional está evoluindo de maneira geral. Não só em função desse fato, mas também, por exemplo, em relação ao aspecto comercial, como as recentes vendas de jogadoras brasileiras por valores recordes para o exterior, caso da própria Tarciane quando foi vendida pelo Corinthians em abril”, diz Wolff.
Expectativa para a Copa do Mundo e desafios
Também neste ano, em maio, o futebol brasileiro celebrou a escolha do país para sediar a Copa do Mundo Feminina em 2027, derrotando a candidatura tripla de Bélgica, Alemanha e Holanda. O fator também impulsiona a modalidade no país, em que a adesão também é crescente, com mais de 60 milhões de pessoas acompanhando o Mundial Feminino em 2023, por exemplo, o que foi um recorde de audiência para a modalidade em território nacional.
“Um evento como esse possui um enorme potencial de transformação da modalidade no país. Nos últimos anos, o Brasil já tem observado uma significativa evolução da modalidade, porém, sediar a Copa do Mundo irá potencializar ainda mais esse processo, o que por consequência deve trazer saltos expressivos no consumo e mudanças culturais mais concretas”, comenta Camila Estefano, gerente geral do projeto “Estrelas”, que oferece assistência médica, odontológica, nutricional e psicológica, para meninas que sonham em atuar profissionalmente.
“A realização da Copa do Mundo Feminina tende a ser mais fácil do que a masculina, não devido à comparação do tamanho da competição, mas sim à infraestrutura consolidada pelo país após sediar a Copa de 2014. Isso torna a tarefa mais simples, uma vez que o país já possui todas as ferramentas necessárias para a organização de um grande evento. A abordagem para a realização de uma Copa do Mundo passou por melhorias em vários aspectos, incluindo a qualidade da infraestrutura, a capacidade de cativar os torcedores e as condições de hospedagem. Nesse sentido, o Brasil destaca-se por ter recentemente organizado tanto uma Copa do Mundo quanto uma Olimpíada, e reúne todos esses requisitos, posicionando-se como um forte candidato para sediar o torneio. Comparado à maioria dos países do mundo, com exceção daqueles que também sediaram eventos nos anos seguintes aos nossos, o Brasil demonstra estar mais qualificado”, endossa Sergio Schildt, presidente da Recoma, uma das maiores empresas especializadas em infraestrutura esportiva da América Latina.
Mesmo que em desenvolvimento, porém, o futebol feminino no Brasil ainda vive realidade distante de grandes centros como a Europa, por exemplo, que teve 18 das 30 melhores jogadoras do mundo eleitas na Bola de Ouro este ano.
Além disso, a Uefa ainda anunciou, também em outubro, investimentos na casa do 1 bilhão de euros (mais de R$ 6,2 bilhões), até 2030, para apoio a projetos das federações nacionais europeias ao futebol de base e à transformação das competições, na modalidade, visando auxiliar na melhor formação de jogadoras, treinadoras e árbitras, além da profissionalização das ligas e do desenvolvimento comercial das competições.
Em contrapartida, na América do Sul as atletas do Corinthians, atuais campeãs da Libertadores, reclamaram de fatores como má qualidade dos gramados, jogos de três em três dias pela competição, estruturas precárias, entre outros pontos.
No que diz respeito à formação de atletas, entretanto, há avanços no sentido de iniciativas que buscam maximizar as oportunidades de jovens jogadoras. No Rio de Janeiro, por exemplo, o prefeito Eduardo Paes sancionou, em abril deste ano, a Lei 8.380/2024 que estabelece uma oferta de turmas femininas em escolinhas ou projetos esportivos de futebol que recebam recursos do Poder Público municipal. O projeto prevê ainda categorias femininas nos campeonatos e torneios de futebol realizados na cidade que recebam recursos da Prefeitura.
“Para transformar o futuro do futebol feminino, é fundamental que o incentivo às atletas se inicie desde jovem. Assim, minimizam-se as oportunidades para que talentos sejam encontrados e lapidados com as devidas condições para a formação. Dentro de um longo prazo, pode-se mudar o panorama da modalidade no país”, afirma Vanessa Pires, CEO e fundadora da Brada, startup que auxilia empresas a investir em projetos de impacto positivo.
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