Em carta aberta, Gio Queiroz denuncia Barcelona por assédio moral
Atacante da seleção brasileira revela ter sofrido pressão para que desistisse de defender seu país: 'Não tinha força para lutar pelos meus direitos'
A atacante brasileira Giovana Queiroz, de 18 anos, que atuou pelo Barcelona na temporada 2020/21 antes de ser emprestada ao Levante no final do ano passado, publicou em suas redes sociais uma carta aberta ao presidente do clube catalão, Joan Laporta. Ela diz ter sofrido assédio moral e psicológico enquanto jogadora do clube. O caso é analisado pela Fifa, enquanto o Barça ainda não se pronunciou oficialmente sobre o assunto.
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Os abusos, segundo ela, foram motivados por sua decisão de defender a seleção brasileira. A atleta já havia feito uma denúncia formal e direta à direção do Barcelona, uma vez que tinha provas documentadas, mas optou também por trazer o caso a público para encorajar mulheres que tenham passado pela mesma situação.
“Apesar de tudo que eu passei, hoje me sinto capaz de denunciar as condutas abusivas que sofri dentro do futebol feminino do Barcelona. Cheguei ao clube em julho de 2020, com apenas 17 anos. Os primeiros meses foram importantes no processo de adaptação. Estava em uma boa dinâmica até que eu recebi a primeira convocação para a seleção brasileira. A partir desse momento comecei a receber um tratamento diferente dentro do clube. Primeiro recebi indicações de que jogar com a seleção brasileira não seria o melhor para o meu futuro dentro do clube. Apesar de ser desagradável, não dei muita importância e atenção ao assunto. Com o tempo, eles usaram outros mecanismos para me pressionar dentro e fora do clube. Estavam me encurralando para que eu renunciasse defender a seleção. Usaram métodos arbitrários com claro objetivo de prejudicar minha vida profissional”, disse em suas redes sociais.
— Gio Garbelini (@GioGarbelini) March 29, 2022
Apesar de ter nascido no Brasil, Gio, como é conhecida, foi criada nos Estados Unidos e passou parte da vida na Espanha. Portanto, ela possui cidadania de ambos os países e já atuou na seleção de base dos dois. Há dois anos ela decidiu jogar pelo Brasil e chegou a ir aos Jogos de Tóquio como suplente.
A jovem conta que o assédio iniciou em outubro de 2020, quando foi convocada para atuar na seleção brasileira adulta. Segundo ela, algumas pessoas da comissão técnica a orientaram a não jogar pelo Brasil, pois isso poderia prejudicar a carreira dela futuramente no Barcelona. “Apesar do desagradável e insistente assédio, não dei muita importância e atenção ao assunto”, explica a atacante. Na carta, Gio expõe ainda que foi pressionada a desistir de sua decisão e que tentaram prejudicar o trabalho dela dentro no Barcelona.
Em fevereiro de 2021, a atacante conta ter sido confinada ilegalmente por chefes do departamento médico, após a alegação de que alguém próximo a ela havia testado positivo para Covid-19. Mesmo assim, desconfiada, ela recorreu ao departamento de saúde da Catalunha e foi notificada de que no caso dela não havia necessidade daquele o procedimento aplicado pelo clube.
Ao fim da quarentena, Giovana foi para os Estados Unidos junto da seleção brasileira. Ao retornar à Espanha, recebeu uma acusação de indisciplina, vinda do diretor do clube, por ter viajada sem a autorização do Barcelona e chegou a ser ameaçada de ser separada do resto da equipe e sofrer consequências.
“Entrei em pânico. Temi por meu futuro. Havia participado das campanhas da Fundação Barça para a aprovação da lei de proteção de menores contra a violência e ao mesmo tempo, dentro do clube, estava totalmente desprotegida. Voltei para casa completamente arrasada. Chorei muitas vezes. Senti um enorme vazio. Não tinha força para lutar pelos meus direitos”.