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‘Grupo coeso, ideias distintas’: uma análise sobre o manifesto da seleção

Comunicado não cita pandemia, atira na Conmebol (mas poupa CBF e governo federal) e visa evitar discussões políticas

Publicado por: Alexandre Senechal em 09/06/2021 às 15:29 - Atualizado em 23/09/2021 às 19:26
‘Grupo coeso, ideias distintas’: uma análise sobre o manifesto da seleção
Técnico Tite reunido com jogadores da seleção brasileira na Granja Comary –

“Quando nasce um brasileiro, nasce um torcedor”. Com pachequismo e sem explicar em nada os boatos de que os jogadores estavam insatisfeitos e não iriam disputar a Copa América – informação que surgiu nos bastidores da própria seleção brasileira, lembre-se – os jogadores divulgaram o prometido manifesto, logo após a vitória por 2 a 0 sobre o Paraguai, que manteve os 100% de aproveitamento nas Eliminatórias.

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A carta tinha um objetivo: explicar o posicionamento do elenco da seleção em relação à realização da Copa América às pressas no Brasil, após Argentina e Colômbia desistirem do torneio em decorrência das consequências devastadoras deixadas nos dois países por causa da pandemia da Covid-19. Contudo, o documento não expôs os motivos da insatisfação e soou vago para quem esperava uma “revolução” contra o governo por abrigar a competição dada a situação de calamidade nos hospitais.

A palavra “pandemia” sequer foi utilizada. Também não há uma linha sobre qualquer tipo de lamentação pelas 476.792 mortes pelo vírus no país até esta terça-feira, 8. Os jogadores inclusive deixam claro que a doença não é a causa ao escreverem: “estamos insatisfeitos com a condução da Copa América pela Conmebol, fosse ela sediada tardiamente no Chile ou mesmo no Brasil”.

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A questão política foi outro ponto pouco abordado na carta. A Conmebol é a única apontada como culpada pelos atletas. Não há referências ao presidente afastado da CBF Rogério Caboclo, o principal responsável por viabilizar a Copa América no país, ou ao governo federal e ao presidente Jair Bolsonaro, que compraram rapidamente a ideia.

O próprio tom inicial do documento deixa claro que há divergências de opinião dentro do elenco da seleção – algo externalizado pelo capitão do Brasil contra o Paraguai, o zagueiro Marquinhos, que afirmou que “quem quiser se manifestar politicamente, faça quando estiver em casa”. O manifesto explica que o “grupo é coeso, porém com ideias distintas” e que “em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política”. Aristóteles definiu há séculos: “o homem é um animal político”. A omissão é, nada mais, do que um posicionamento político.

O caso veio à tona nos bastidores da seleção brasileira

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Quando a polêmica estourou, no confronto contra o Equador no dia 4 de julho, Casemiro, o capitão do time na ocasião, falou após o jogo ao repórter Eric Faria da TV Globo. “Todo mundo sabe nosso posicionamento”, explicou dando a entender que a situação noticiada por diversos veículos, sobre a possibilidade de um boicote à Copa América, era consenso no elenco.

Em busca de uma resposta concreta, Eric Faria ainda insistiu. “Eu não sei o seu posicionamento”. O volante olhou para o repórter seriamente e afirmou: “mais claro, impossível. O Tite deixou claro o que pensamos sobre a Copa América”. O técnico da seleção brasileira havia se negado a garantir que o time entraria em campo no torneio em casa, afirmado em entrevista coletiva que os jogadores iriam se manifestar após a partida contra o Paraguai.

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Após dias de apuração e reportagens com informações dos bastidores da seleção brasileira sobre a insatisfação e a vontade de vários atletas de não disputar a competição, Marquinhos surpreendeu. Ainda em campo logo depois do jogo, começou o discurso mais ponderado falando em “respeitar a hierarquia” e dizendo que os jogadores “nunca se negaram a vestir essa camisa”.

Na coletiva de imprensa minutos depois, foi mais incisivo e deu a entender que a imprensa teria inventado a história. “Quem falou que o momento era de não jogar? A gente entende o trabalho de jornalistas, repórteres, mas tem que ter muito cuidado nas coisas que passam, pois somos julgados por coisas que não falamos.”

O posicionamento é bem conhecido, inclusive entre membros do governo federal. É manobra comum na atual gestão do país que deputados, senadores e ministros soltem notícias em “off” para os jornalistas para ver a repercussão entre a população e, em caso de mídia negativa, voltem atrás, culpando o mensageiro.

Nos últimos dias, PLACAR recebeu informações de pessoas ligadas aos atletas que diziam que eles estavam extremamente insatisfeitos com a postura do presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, e preferiam o cancelamento do torneio para ter um merecido descanso após a longa temporada europeia, emendada com a anterior justamente por causa da Covid-19. Ficou claro que a pandemia em si jamais pautou o debate. O desfecho dá a entender que as nossas fontes estavam certas.

Enquanto os jogadores da seleção divulgaram um manifesto vazio, a realidade da doença atinge em cheio diversas equipes do país, desde aquelas sem muitos recursos até às mais ricas e organizadas. O goleiro Leandro Santos, de 36 anos, do Treze, da Paraíba, time da Série D, está com apenas 50% da capacidade pulmonar e foi hospitalizado ainda na noite desta terça-feira. O mesmo acontece com Cristiano Oliveira, segurança do Palmeiras. O técnico Rogério Ceni, do Flamengo, também testou positivo esta semana, mas está assintomático.

Confira o manifesto na íntegra:

“Quando nasce um brasileiro nasce um torcedor. E para os mais de 200 milhões de torcedores escrevemos essa carta para expor a nossa opinião quanto a realização da Copa América. Somos um grupo coeso, porém com ideias distintas. Por diversas razões, sejam elas humanitárias ou de cunho profissional, estamos insatisfeitos com a condução da Copa América pela Conmebol, fosse ela sediada tardiamente no Chile ou no Brasil.

Todos os fatos recentes nos levam a acreditar em um processo inadequado em sua realização.

É importante frisar que em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política. Somos conscientes da importância da nossa posição, acompanhamos o que é veiculado pela mídia e estamos presentes nas redes sociais. Nos manifestamos, também, para evitar que mais notícias falsas envolvendo nossos nomes circulem à revelia dos fatos verdadeiros.

Por fim, lembramos que somos trabalhadores, profissionais do futebol. Temos uma missão a cumprir com a histórica camisa verde e amarela pentacampeã do mundo. Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à Seleção Brasileira.”

Manifesto dos jogadores
Manifesto dos jogadores ./Reprodução
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