A investigação apontou disparidades nas transferências entre a Fifa e o COL relacionadas ao dinheiro investido para a criação e manutenção do comitê
A CPI do Futebol investiga a participação do ex-secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, em um esquema de desvio milionário nas contas do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, ocorrida no Brasil. A CPI apura informações de que o COL transferiu dinheiro para um paraíso fiscal e fez pagamentos milionários nos Estados Unidos, em contas não identificadas do banco Itaú, como devolução do financiamento da Fifa para a criação do comitê.
Na Suíça, Valcke já é investigado por corrupção por supostamente ter participado de um esquema de enriquecimento ilícito com a venda de ingressos para a Copa de 2014, que teria gerado pelo menos 2 milhões de euros apenas para o bolso do dirigente. A revelação custou seu cargo na Fifa e, posteriormente, foi suspenso por 12 anos pela entidade máxima do futebol de qualquer atividade relacionada à modalidade. O COL foi criado com a função de organizar o Mundial e teve como seu presidente Ricardo Teixeira e José Maria Marin. Em uma última fase, a partir de abril de 2015, ela foi liderada por Marco Polo Del Nero.
Transferências suspeitas – Entre 2012 e 2015, a Fifa transferiu ao COL um total de 1 bilhão de reais para gastos com a Copa do Mundo. Ainda segundo o material preparado pela CPI a partir de dados do Banco Central, o COL recebeu entre 2009 e 2012 um empréstimo de cerca de 66,7 milhões de dólares da Fifa.
O Comitê começou a devolver o empréstimo em 2013, mas 23,7 milhões de dólares foram destinados pelo COL, em quatro depósitos, para uma conta do Itaú nos Estados Unidos e não na Suíça como todos os demais. No registro do Banco Central, os depósitos apenas aparecem como “empréstimos direto”. O principal objetivo da investigação é saber quem é o beneficiário desta conta nos EUA.
As disparidades também foram encontradas em outros itens. O Balanço Patrimonial do COL oferecido pelo órgão no âmbito da CPI do Futebol demonstra que a Fifa repassou 55 milhões de reais para o comitê em 2012. Já a quebra de sigilo bancário do COL demonstra que, em 2012, foram três transações para o comitê, totalizando 105 milhões de reais. Há, portanto, uma diferença de 50 milhões de reais entre o que aponta o Balanço Patrimonial oferecido pelo COL e o que demonstra a quebra de sigilo informada pelo Banco Central.
Em novos documentos obtidos pela CPI, alguns contratos assinados por Valcke estão sendo examinados para os investigadores apurarem se há legitimidade nas transferências de recursos e nos pagamentos. Outro dado que chamou atenção da CPI foi o valor de 1 bilhão repassado pela Fifa para o COL, sendo que quase 60% dessa quantia foi destinada para o pagamento de salários de dirigentes brasileiros como o CEO do COL e dos diretores, entre eles Joana Havelange, neta do ex-presidente da Fifa, João Havelange, e filha do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
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(Com Estadão Conteúdo)