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Copa do Mundo

O que esperar de Ancelotti na seleção (com base em trechos de seu livro)

Em 'Liderança Tranquila', técnico italiano detalhe sua metodologia de trabalho, desapego a esquemas pré-determinados e incômodo com a presença de agentes. Vem aí a Família Ancelotti na seleção?

Publicado por: Luiz Felipe Castro em 25/05/2025 às 10:00 - Atualizado em 25/05/2025 às 14:33
O que esperar de Ancelotti na seleção (com base em trechos de seu livro)
Ancelotti deve potencializar Vini Jr. na seleção como fez no Real Madrid - Jose Jordan/AFP

Está chegando a hora. Depois de mais de dois anos de tentativas frustradas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), enfim, Carlo Ancelotti assumirá a seleção brasileira, na próxima segunda-feira, 26.

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A meta é uma só: reorganizar uma equipe em crise e guiar o Brasil ao hexacampeonato na Copa do Mundo de 2026 na América do Norte. É, portanto, uma missão ambiciosa, e parecia não haver opção melhor para o atual momento da seleção do que Carletto.

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O italiano de 65 anos tem 30 grandes títulos como treinador, incluindo cinco Ligas dos Campeões (além de outras duas como atleta do Milan). É constantemente elogiado não apenas por seu conhecimento tático, mas, sobretudo, por suas habilidades de gestão.

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Sua forma de liderar, sem gritos, gestos espalhafatosos e declarações polêmicas, o ajudou a domar alguns dos maiores egos do futebol e é motivo de admiração entre diversos colegas. Em sua autobiografia Carlo Ancelotti: Liderança Tranquila, de 2018, publicada no Brasil pela Editora Grande Área, o novo treinador da seleção brasileira narrou casos e detalhou alguns de seus métodos.

Assim, o blog Prorrogação separou alguns trechos abaixo:

 

Carlo Ancelotti: Liderança Tranquila - Diivulgação/Editora Grande Área

Carlo Ancelotti: Liderança Tranquila – Divulgação /Editora Grande Área

Não tem medo de peitar estrelas

Carlo Ancelotti botou Rivaldo no banco no Milan - Mike Egerton/EMPICS via Getty Images)

Carlo Ancelotti botou Rivaldo no banco no Milan – Mike Egerton/EMPICS via Getty Images)

Em diversos trechos do livro, Ancelotti declara sua admiração por Don Vito Corleone, personagem de Marlon Brando em O Poderoso Chefão (1972), e diz se inspirar na fala mansa e na forma tranquila como o mafiosa se fazia respeitar. Obviamente, Carletto não é adepto da violência, muito pelo contrário. No livro, ele diz lidar constantemente com a pecha de ser “bonzinho demais.”

Ancelotti, em contrapartida, precisou ser firme na hora de colocar ídolos mundiais no banco de reservas em alguns momentos da carreira, como ocorreu com Iker Casillas no Real Madrid e também com o brasileiro Rivaldo, no Milan, conforme destacou no trecho abaixo:

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Logo no início da minha primeira temporada completa, houve um jogo pela Champions League e Rivaldo, que não tivera uma pré-temporada integral, nem uma preparação completa para o jogo, foi para o banco. Tentei lhe explicar que ele jogaria dali a três dias, mas ele respondeu: “Rivaldo nunca fica no banco”. 

Eu lhe disse: “Tudo bem, sempre tem uma primeira vez, e agora é o momento certo para isso.”

“Não, não”, ele retrucou. “Rivaldo não vai para o banco.”

“Rivaldo, você tem de ir para o banco”, continuei. Ele simplesmente se levantou e foi para a casa. 

É difícil para jogadores realmente especiais entenderem que não podem jogar, mesmo quando estão somente 80 por cento em forma. Eles são fantásticos porque querem jogar todas as partidas, em forma ou machucados. Isso é, em parte, o que faz uma personalidade campeã.

Cresce, portanto, a expectativa sobre como será a relação de Ancelotti com Neymar, com quem nunca trabalhou no futebol europeu. Recuperado de lesão, ainda longe da forma física ideal, o atacante do Santos está na pré-lista de Ancelotti para os jogos da seleção contra Equador, dia 5 de junho, em Guayaquil, e Paraguai, dia 10, em São Paulo, pelas Eliminatórias.

Vem aí a família Ancelotti na seleção?

Se no pentacampeonato na Copa da Coreia do Sul e do Japão, o técnico Felipão eternizou a união da “Família Scolari”, Ancelotti deve seguir a mesma estratégia de priorizar a harmonia do grupo. Um dos capítulos de seu livro é justamente dedicado a comparar as relações de um time de futebol com a de parentes. A figura do “paizão” é bastante elogiada por seus comandados.

“Nada é tão importante quanto a família. No futebol há dois tipos de família. Existe meu conjunto pessoal de assistentes e funcionários, pessoas com quem trabalhei ao longo dos anos dividindo os bons e os maus momentos – aqueles em quem confio e por quem tenho respeito. E existe o clube como uma família.

Quando me tornei treinador do Milan, foi como voltar para casa. O clube está organizado exatamente como uma família, apesar de ser um dos maiores times de futebol do mundo. Você tem seu próprio quarto em Milanello, o centro de treinamento, e o roupeiro e os outros funcionários estão ali há muito tempo. Há um restaurante em Milanello, e não e um buffet como no Chelsea e no Real Madrid, mas um restaurante de fato, com um garçom que se dirige a você como um amigo […] Ao passar a trabalhar na organização e no planejamento do Paris Saint-Germain,mcriar um restaurante foi uma de minhas prioridades. Sabia, dos meus tempos de Milan, como era importante que os jogadores fizessem as refeições juntos ajudando a formar um grupo mais próximo. Queria trazer o clima familiar que conhecia tão bem em Milão para Paris, parte valiosa da vida familiar. Gosto que a cultura do clube seja assim e acredito que a atmosfera familiar e crucial para o sucesso.”

[…]

Ao me oferecer o cargo, o Real Madrid sabia que eu podia me adaptar e que talvez eu fosse mais próximo do Real que Florentino Pérez desejava reviver. Para ele, o conceito dos galácticos era fundamental e o presidente acreditava que minha capacidade de criar relacionamentos com os jogadores era crucial para lidar com as diferentes necessidades das personalidades fortes e de alto nível existentes no vestiário. Florentino estava certo em acreditar nisso.

Davide e Carlo Ancelotti: jovem chegou a dirigir o Real Madrid em um jogo

Carlo Ancelotti e o filho Davide, membro de sua comissão – AFP

Imersão cultural obrigatória

Ancelotti bate na tecla de que seus comandados precisam se adaptar à cultura local, aprendendo o idioma do país e se adequando a seus costumes. Ele próprio faz questão de dar o exemplo. Por isso, é de se esperar que em pouco tempo estará dando entrevistas em português.

“Fui levado para a Holanda, juntamente com o Bruno, para fazer um curso intensivo de inglês de uma semana, de dias inteiros das 8h da manhã até às 8h da noite. Se o idioma havia sido um problema da primeira vez, estava decidido a fazer que não fosse um empecilho agora; gosto de ser visto como um bom aluno, por isso estudei bastante.

[…]

Comandei grandes equipes por toda a Europa, grupos de jogadores e de funcionários extremamente diversos, multinacionais. Trabalhar nesse tipo de ambiente oferece um conjunto único de desafios linguísticos. Claro que você pode dizer que o futebol é um idioma que temos em comum, mas é vital que também falemos, literalmente, a mesma língua.  Eu era um estrangeiro na Inglaterra, bem como na Espanha e na França por isso me obriguei a aprender o idioma. Fiz isso em cada um dos clubes que treinei no exterior e continuarei a fazer sempre porque e fundamental. Preciso me comunicar com os jogadores e com a imprensa na língua local e me comprometer a mostrar que estou levando a sério minha adaptação e adequação a esse novo estilo de vida. Para mim, é importante aprender o idioma como forma de me integrar à cultura.”

Sem apego a esquemas pré-determinados

Em diversos trechos do livro, Ancelotti deixa claro que os protagonistas do jogo são os atletas e não treinadores, e que não vê problemas em adaptar sistemas de jogo para potencializar seus principais talentos. Eis a notícia mais animadora: foi ele quem aproveitou da melhor forma as virtudes de Vinicius Junior no Real Madrid, com um jogo rápido de transição pela ponta esquerda como principal arma. Um arrependimento envolvendo um craque italiano fez Ancelotti amadurecer nesse sentido.

“Durante minha passagem pelo Parma, tive a chance de contratar Roberto Baggio. Àquela altura, utilizava o esquema 4-4-2, mas como Baggio queria jogar atrás do atacante, e, portanto não no 4-4-2, decidi não o contratar. Hoje vejo que fiz mal em descartá-lo. Não queria que ele jogasse lá na frente, e sim como um meia que avança. Recusei-me a mudar meu conceito sobre futebol porque não tinha confiança, era inseguro. Não possuía experiência, estava um pouco preocupado e no fim percebi que havia cometido um erro. Deveria ter conversado com Baggio e encontrado uma solução.

Aprendi a lição e passei a valorizar a qualidade, sendo mais flexível com os sistemas de jogo quando fui para a Juventus. Tive de mudar minha ideia de futebol para encaixar Zidane, construindo um sistema ao redor dele em vez de forçá-lo a se adaptar ao meu preferido 4-4-2. Passamos a três zagueiros, quatro no meio de campo, Zidane a frente deles, a atuar com atacantes. Sacrificamos a defesa porque não queria colocar Zidane no lado e mais dois esquerdo usando o esquema 4-4-2, onde ele não se sentia à vontade.”

Vini Jr. e Ancelotti - EFE/Juanjo Martín

Vini Jr. e Ancelotti: parceria segue na seleção – EFE/Juanjo Martín

Paciência para lidar com a chefia

Na CBF, Ancelotti lidará com um cenário político para lá de conturbado, com a entrada do jovem Samir Xaud na presidência, na vaga do afastado Ednaldo Rodrigues.

Nada que assuste o treinador que trabalhou com a constante pressão de convencer os bilionários Florentino Pérez, do Real Madrid, Nasser Al-Khelaifi, do PSG e, sobretudo, Roman Abramovich, do Chelsea.

“Um dia depois, Abramovich falou com o grupo, cobrando explicações. Foi mais um episódio que me ensinou a lidar com diferentes tipos de presidentes; uma vez mais decidi não rebater agressividade com agressividade, não é o meu estilo. Gosto de examinar os momentos de dificuldade, abordar os problemas de forma tranquila e racional.

[…] É importante que presidentes e treinadores possam ser honestos uns com os outros. Talvez a questão do favoritismo tenha sido usada como desculpa por Abramovich. Acho que a principal razão de minha demissão foi o fato de ele achar que a gestão da equipe não era correta. Ele achava que eu era muito gentil com os jogadores e tinha certeza de que eu era responsável por algo estar errado no elenco.”

“É crucial respeitar visão dos proprietários. Florentino Pérez é famoso por escolher galácticos contratando as maiores e mais caras estrelas do futebol: por isso, jogadores eram contratados e dispensados sem que fosse necessariamente minha escolha, mas era meu trabalho fazer com que a equipe jogasse independente dos atletas que me fossem dados. Lutar contra : algo que ja aconteceu é um desperdício de tempo e energia. Você deve administrar a situação; afinal, por isso que também somos gestores. Se o presidente decide que para uma campanha de marketing é preciso que p jovem norueguês atue em três partidas da equipe principal, vou encontrar uma forma de fazer isso. Caso 0 presidente decida, ainda, vender o meio-campista Xabi Alonso, também tenho de aceitar. Eu queria perder Xabi Alonso? Não, claro que não, mas meu trabalho é fazer com que as coisa deem certo.”

Carlo Ancelotti e Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, cultivam amizade - Real Madrid/Divulgação

Carlo Ancelotti e Florentino Pérez cultivam estreita amizade – Real Madrid/Divulgação

Sem tempo para agentes

O livro apresenta Carlo Ancelotti como um líder sereno, capaz de dobrar atletas e dirigentes com uma breve e franca conversa. A relação com a imprensa também é tranquila, tanto que não mereceu menção especial na obra. Mas se há um profissional do futebol capaz de fazê-lo levantar a sobrancelha (a senha para quando o italiano está nervoso, segundo o amigo Zlatan Ibrahimovic) é o agente/empresário.

Um segundo problema surgiu em uma manhã de março, recebi um telefonema do diretor executivo dizendo que o presidente queria falar comigo ao término do treinamento daquele dia. Isso era muito incomum. Ao visitar o presidente, ele me disse que 0 agente de Gareth Bale tinha estado em seu escritório para discutir o “caso Bale”. No começo do ano em 4 de janeiro, eu substituíra Bale no jogo que pôs fim à nossa sequencia de vitórias, e rumores davam conta de que o presidente afirmara: “Tirar Bale é o mesmo que me atacar”.

[…]

Em janeiro, o agente de Bale vinha falando algumas coisas e talvez sentisse que sua situação era favorável pois já havia conversado com o presidente. Agora ele dizia que Bale estava insatisfeito em sua posição, que queria jogar mais centralizado. O presidente me perguntou o que faríamos e eu respondi: “Nada”. Era impossível mudar sua posição àquela altura da temporada porque teria de mudar todo o sistema de jogo e trocar o posicionamento de muitos jogadores. Também falei para o presidente que estava surpreso com o fato de o jogador não ter se dirigido a mim diretamente. Isso seria o normal. Esperava que o atleta viesse até mim porque não quero conversar com agentes. Sempre evito falar com eles. Mais tarde durante a temporada, respondendo a outes comentários feitos pelo agente de Bale, eu disse numa entrevista coletiva que às vezes é bom que os agentes fiquem quietos, que calem a boca.

Bale tinha qualidades espetaculares e tudo que eu estava tentando fazer era ajudá-lo entender que ele tinha de melhor para que pudesse atingir o seu potencial; aliás, eu era certamente mais capacitado a auxilia-lo do que seu agente e do que o presidente.”

Logo, fica a dica para Samir Xaud e companhia: a farra dos empresários na concentração não será bem-vinda por Ancelotti na seleção.

Blindagem e motivação

Atletas que trabalharam com Ancelotti narram no livro a sua habilidade para manter um bom ambiente. Em um dos trechos, Ibrahimovic relembra conversas com seu treinador favorito:

“Carlo nunca concordou com os proprietários quando eles criticaram os atletas; sempre nos protegeu dizendo que os jogadores haviam feito tudo o que ele tinha nos pedido. Ele protegia a equipe de diferentes maneiras. Se alguém chegava atrasado para treinar porque tinha ido para a noite na véspera, ele o chamava até seu escritório e perguntava o que ocorrera. Ouvia e depois dizia: “Não faça mais isso. Fica entre nós dois, mas não repita esse erro novamente; seja profissional”. Carlo também tinha senso de humor em relação a esse tipo de situação e, quando era apropriado, podia acrescentar: “Da próxima vez me chama para ir junto’ “

Ancelotti dá valor especial ao espirito competitivo de atletas de elite: “Meu papel não é motivá-los, mas apenas não desmotivá-los”, diz. Desse modo, ele considera que as necessidades de atletas experientes e jovens merecem cuidados diferentes.

“Como você continua a fazer com que jogadores que já chegaram ao topo, como Cristiano Ronaldo, se desenvolvam? É fácil. Esses atletas são tão profissionais que lhe dizem onde precisam melhorar e sentem-se à vontade para discutir os pontos que você acredita que podem ser aprimorados. Nunca serão aprimoramentos técnicos, mas sempre relacionados à forma como uma partida pode ser administrada e a dados analíticos ou físicos. Com atletas mais novos é um pouco diferente. Para os jovens é preciso fazer determinadas atividades especificas a fim de expandir seus limites, o entendimento que eles têm do jogo e a função de cada um dentro de diferentes sistemas, bem como alguns trabalhos técnicos relacionados a determinados aspectos em que possam apresentar deficiências.”

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