Rubens Barrichello: acelerando no YouTube
O ex-piloto de F1, hoje na Stock Car, diz ser mais respeitado hoje do que anos atrás e vibra com o sucesso como youtuber, com 1 milhão de seguidores

O Brasil não ganha uma prova de F1 desde sua vitória no GP da Itália em 2009, pela desconhecida escuderia Brawn GP. É muito tempo, não? Sou muito bom em datas e números, mas nunca gravei muita coisa da minha carreira, porque ela é muito ativa. Não sei quantas vitórias eu tenho na Stock Car, por exemplo. Então, essa é uma história para quando eu for avô e me sentar com os netinhos para contar. Mas é esquisito um país com tanto sucesso no automobilismo não vencer há uma década.
Por que não houve outras vitórias? Produzimos pilotos por muito tempo, mas isso foi quase sempre resultado de esforço individual. Precisamos aprender com países como a Inglaterra, por exemplo, que apoia pilotos desde o início da carreira. Todos os nossos campeões na F1, basicamente, tiveram de lutar por patrocínios e apoio das confederações para chegar lá.
Durante muito tempo você foi alvo de piadas sobre ser lento demais, de chegar sempre em segundo. Foi ruim para a sua vida? Não, mas piadas injustas irritam. Não é algo que acontece só comigo. Cria-se uma história que não é verdadeira, daí surge a piada, que só aumenta tudo. Sou uma pessoa que vive pelo amor, e só isso me consome. Se alguém quer escrever, quer falar algo assim, isso não vai mexer com o meu bem-estar. Já mexeu quando eu era mais novo, porque eu pensava: “Poxa, sou brasileiro, estou levantando a bandeira brasileira, e a minha história é mais bonita do que as pessoas podem imaginar”. Mas hoje não mexe com o meu dia a dia, nem a pau.
É mais valorizado hoje? Muito mais. O brasileiro, infelizmente, passa a vida inteira reclamando. Espera o cara morrer para pôr carro de bombeiro e fazer uma baita festa para dizer que ele era demais. Digo aos meus filhos que não esperem ninguém morrer para dar o devido valor.
Você agora divide seu tempo entre as provas de Stock Car e uma bem-sucedida carreira de youtuber. Como conciliar as duas atividades? Tem hora que não dá tempo de fazer tudo. Sempre digo que só fui conhecer a Netflix quando tive um AVC, no ano passado. Fiquei doze dias no hospital, e me deu um momento de pânico, porque sou uma pessoa muito ativa, então devorei documentários e La Casa de Papel completa. Foi uma maneira que Deus achou para dizer: “Calma, chefe, você está muito fora da casinha, dê um tempo para você mesmo”.
Como surgiu a ideia do canal Acelerados, no YouTube? Era uma paixão antiga, a de fazer aquilo de que gosto e poder mostrar às pessoas o que é verdadeiro em um carro. O canal tem tantos seguidores — são mais de 1,3 milhão de inscritos — porque é genuíno.
Publicado em VEJA de 18 de setembro de 2019, edição nº 2652