Zanetti cita maior derrota: não ter salvado Adriano da depressão
Ex-jogador argentino, ídolo da Inter de Milão, relembrou o dia em que o atacante brasileiro soube da morte do pai, em 2004
Poucos jogadores conheceram Adriano de forma tão íntima como Javier Zanetti. Ex-capitão da Inter de Milão, clube pelo qual atuou por 19 anos, o argentino trabalhou com o brasileiro entre 2001 e 2008 no clube italiano e o considera um dos companheiros mais talentosos que já teve. Neste domingo, Zanetti, hoje vice-presidente da Inter, relembrou, com tristeza, os últimos anos de convivência com Adriano. Ele considera o fato de não ter conseguido ajudar o atacante a superar seus problemas pessoais como “a maior derrota da carreira.”
Segundo Zanetti, a morte do pai, Almir, de ataque cardíaco, em 2004 foi realmente o grande baque na vida do brasileiro. “Quando ele recebeu o telefonema sobre a morte do seu pai, nós estávamos no quarto. Ele bateu o telefone e começou a gritar de um jeito que ninguém poderia imaginar. Isso me arrepia ainda hoje“, contou Zanetti ao site italiano Tutto Mercato. “A partir daquele dia, Massimo Moratti (ex-presidente da Inter) e eu tratamos ele como um irmão mais novo. Ele continuou a jogar futebol, fazer gols e dedicá-los a seu pai apontando para o céu. Mas depois daquele telefonema, nada foi como era antes”.
A morte do pai aconteceu dias depois de Adriano marcar seu gol mais recordado, justamente diante da Argentina de Zanetti, na final da Copa América de 2004. A carreira do ex-atacante (aos 35 anos, está afastado do futebol profissional desde 2014) começou a ruir após a decepção na Copa do Mundo de 2006. Ainda teve boas passagens por São Paulo e Flamengo, mas sem jamais repetir os grandes momentos de “Imperador” de Milão.
“Quando ele marcou aquele gol no Real Madrid, eu disse a mim mesmo que nós tínhamos encontrado o novo Ronaldo”, contou Zanetti, citando um gol de falta marcado em 2001. “Uma noite, Ivan Córdoba (zagueiro colombiano da Inter) dividiu quarto com Adriano e lhe disse que ele era uma mistura de Ronaldo e Zlatan Ibrahimovic e perguntou se ele estava consciente de que se tornaria o melhor do mundo. Nós não fomos capazes de tirá-lo do túnel da depressão. Essa foi minha maior derrota, eu me senti impotente“, completou o argentino.
Após o bom momento pelo Flamengo (foi campeão brasileiro em 2009), Adriano acumulou passagens curtas e ruins por Roma, Corinthians (fez um gol importantíssimo, contra o Atlético-MG, na campanha do título nacional em 2011, mas pouco jogou) e Atlético-PR. Lesões e casos de indisciplina, como os excessos de festas e bebida, encurtaram a carreira do atacante forte e canhoto que assombrou o planeta no início dos anos 2000. Desde 2014, Adriano só atua em partidas festivas e passa a maior parte do tempo com os amigos na Vila Cruzeiro, o bairro onde nasceu.