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Organização e equilíbrio: os lemas de António Oliveira, novo técnico do Corinthians

"Se o jogo for 5 a 4 ou 3 a 3, é porque defendemos mal", afirmou o treinador português, dias antes de deixar o Cuiabá, em entrevista exclusiva à PLACAR

António Oliveira tem acordo para ser o novo técnico do Corinthians. Após demitir Mano Menezes e desistir de Márcio Zanardi, o alvinegro buscou o técnico que se destacou pelo Cuiabá e deve oficializar o acerto em breve, assim que concretizar a rescisão com seu antecessor. Adepto de um estilo que preza por equilíbrio e organização, o português de 41 anos concedeu entrevista exclusiva à PLACAR no fim de janeiro, quando ainda estava no comando do Dourado, antes de qualquer abordagem do Timão.

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À PLACAR, António Oliveira enfatizou sua forma de enxergar o jogo. Defensor de pouco destaque quando atleta (passou por clubes como Benfica, Braga e Santa Clara) diz que não abdica de um bom sistema defensivo e prefere vencer sem ser vazado.

Em seu Cuiabá, o português que tem o Corinthians como destino organizou uma defesa sólida (7ª melhor do último Brasileirão), o que bate com seus principais preceitos: “Minhas equipes, acima de tudo, têm que ser muito estáveis, organizadas e equilibradas. Esses três desígnios definem muito.

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Fã da personalidade de José Mourinho, o jovem nome lusitano não se considera um seguidor da filosofia do Special One. Na mesma linha, também foge de alguns preceitos de outro conhecido conterrâneo: Jorge Jesus.

Em entrevista à PLACAR em 2019, o Mister, ídolo do Flamengo já admitiu que prefere um time que dê espetáculo, defendendo que aprendeu com Johan Cruyff que é melhor vencer por 5 a 4 do que por 1 a 0. António Oliveira defende o oposto e mostra isso dentro de campo.

É evidente que queremos marcar cinco. Mas não me peçam, porque não gosto de um resultado de 5 a 4, ou um jogo 3 a 3. Se o jogo está 3 a 3, atacamos bem, mas defendemos mal. Portanto, nessa perspetiva, quando se fala em grande jogo é um grande jogo para quem vê. Mas para o treinador eventualmente pode não ter sido“, analisou António.

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Outro ponto que caracteriza os times de António é a “forte pegada”. Ao todo, o Dourado desarmou em média 17 vezes por jogo no Campeonato Brasileiro de 2023 (sexta equipe no ranking), segundo o Sofascore. Os números batem com uma ideia confidenciada durante a entrevista.

Também tentamos sempre matar as transições do adversário. Isso nos permite estar sempre colocando pressão sobre o adversário“, disse o treinador.

Oliveira, porém, não abre mão da qualidade individual no momento ofensivo: “Gestão de espaço em termos defensivos para nós é como o pão para a boca. E depois, o movimento. a tomada decisão, a qualidade no passe e na recepção. Isso é que vai determinar a qualidade do nosso jogo.

Trajetória

Filho de Toni, ídolo do Benfica, o recém-contratado pelo Timão sempre teve o futebol em sua vida. Por isso, admite que sempre sonhou em trabalhar à beira do campo, mesmo que tenha sido jogador em uma breve carreira como zagueiro, que terminou aos 29 anos.

Ao longo da minha carreira de jogador eu fui me preparando para ser treinador. Sou licenciado no curso de educação física no ramo de treino desportivo, tirei o mestrado em treino desportivo de alto rendimento, fiz o meu estágio, a dissertação, no Benfica, e também as licenças da Uefa“, contou sobre a trajetória.

António Oliveira começou a trajetória ao lado de seu pai, Toni – Instagram / @antonio_oliveira33

Antes dos primeiros trabalhos como treinador principal, compôs a comissão de seu pai no Irã e no Kuwait, além de breve passagem na Eslovênia. Sobre a influência paterna na profissão, cita com carinho os aprendizados: “Sei que vendo também se aprende. Sobre liderança e comunicação, tirei muito dele. O que dizer, quando dizer, de que forma dizer.

Acho que nós não podemos dizer tudo que pensamos a qualquer hora, as coisas precisam ser minimamente preparadas, porque qualquer frase ou palavra podem por em causa um trabalho, porque estamos gerindo muitas cabeças. Aprendi muito com ele nessa forma de liderar, porque para lá do jogador existe o ser humano“, concluiu.

Durante a entrevista, António Oliveira buscou ressaltar que suas experiências em mercados alternativos e em Portugal enriqueceram seu currículo. Em certo ponto, considerou isso tão importante quanto o conhecimento tático.

Eu utilizo muito daquela velha máxima que mais do que qualquer estrutura (4-4-2, 4-3-3 ou 5-4–1, seja lá o que for), o futebol nos dá a oportunidade de fazer amigos, conhecer novas culturas. Fiquei muito mais rico do que quem eu era outrora. Nos dá bagagem, traquejo, para mais tarde enfrentarmos maiores experiências“, relatou.

António Oliveira chegou ao Brasil como auxiliar de Jesualdo Ferreira no Santos e depois integrou a comissão técnica do Athletico Paranaense, onde treinou a equipe sub-23 antes de ser alçado à posição de treinador principal.

António Oliveira trabalhou com Jesualdo no Santos – Instagram / @antonio_oliveira33

Na sequência, assumiu o Benfica B em 2022, até voltar ao Brasil para comandar o Cuiabá. Após a primeira passagem, passou pelo Coritiba sem sucesso e retornou ao Dourado, onde brilhou. Agora, alçará novos voos.

Confira outros principais tópicos da entrevista exclusiva de António Oliveira à PLACAR

Futebol brasileiro

“Eu digo sempre que (o futebol brasileiro) é muito desgastante emocionalmente porque nos consome muito, mas ao mesmo tempo é bastante fascinante. Sobre a liga não ter fama das melhores, penso que principalmente pela forma que trata seus profissionais. Mas isso faz parte de uma cultura esportiva bastante agressiva.

Mas hoje em dia acho que mais do que treinadores, precisa haver a formação de dirigentes. Precisam ter mais convicções, olhar um caminho, escolher esse caminho e não se desviar, a não ser que vejam que o trabalho anda muito mal.

Felizmente estou em um clube que sabe muito bem aquilo que quer. Tem um projeto e as pessoas não se desviam porque um resultado não veio. As pessoas têm convicções, percebem o que rege um grupo, a comunicação de um grupo, a forma de ser e de estar. Quando é assim é muito mais fácil. Felizmente estou em um local que dá toda a tranquilidade para desempenhar o trabalho. E o que é fato é que os resultados com naturalidade tem vindo.”

Portugueses no Brasil

“Sabe que essa minha vinda com o professor Jesualdo, tem muito a ver com o bom trabalho que o Jorge Jesus desempenhou durante seis meses, que deixou marca principalmente em um clube e que faz também com que as pessoas olhem para treinadores portugueses para ver se o resultado é o mesmo. Isso é normal.

Ano passado eram oito ou nove e no final terminaram os mesmos. O Abel e o António, que estavam aqui há mais tempo, e o Pedro Caixinha, que saiu um bocadinho fora da caixa, digamos assim. Mas vai que daqui 10 anos não está aqui mais ninguém. Vivemos modas. Se calhar daqui uns anos virão espanhóis e neste ano há mais argentinos. O resultado impera e as pessoas regem as coisas muito por ele.”

O sucesso do Cuiabá

“É evidente que o primeiro impacto no Cuiabá não é fácil, mas eu costumo dizer que primeiro estranha-se e depois entranha-se. Foi isso que se passou na minha vida. Eu vim de de contextos com com infraestruturas megalômanas, como é no Athletico e no Benfica, e dei de cara com uma situação de um clube ainda jovem, que está a crescer.

Hoje, passados mais dois anos que eu estou aqui, é um privilégio ver o clube crescer sobre os seus diversos aspectos, sobre as condições estão a oferecer cada vez mais aos seus profissionais. É um orgulho para nós todos pertencer a esse crescimento.

E a decisão de retornar para cá depois daquela passagem pelo Coritiba, já conhecendo, foi mais fácil. Conhecendo as pessoas que que estão conosco, conhecendo jogadores, conhecendo a cidade e já levando daqui muitos amigos.

Nós no Cuiabá devemos manter os pés no chão. É evidente que viemos de uma temporada de sucesso, histórica para o clube, a melhor de sempre. Mas também temos que perceber que não podemos dar passos maiores do que as pernas. E nessa perspectiva, acho que devemos perceber que para o projeto esportivo do clube a necessidade de uma continuação é fundamental. Manter o clube na elite é vital.”

Elenco barato, bom resultado

“É um trabalho de muita gente, onde todos somos importantes e determinantes. Até aquele que possa se sentir menos é importante como os outros. A estabilidade faz com que toda gente goste de estar aqui. É aquilo que eu digo: ao olhar para o nome, estranha no início, mas depois gosta de estar aqui.

Uma parte muito grande e fundamental do sucessos são os jogadores. Os grandes artistas que desempenham da melhor forma suas profissões, que é jogar futebol.

Por isso, como digo, estou muito grato ao clube, ao presidente e principalmente aos meus jogadores, porque são eles os responsáveis desse feito enorme que o clube acabou de fazer, sabendo que temos um dos orçamentos mais baixos e uma das folhas salariais mais baixas da última temporada.”

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