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Opinião: SAF é projeto de longo prazo e não garante vitória imediata

Sociedades Anônimas de Futebol como a do Botafogo têm o papel de primeiro gerar uma atmosfera saudável para, mais adiante, buscar resultados em campo

Dos clubes recentes que se tornaram SAF no Brasil, e pegando como gancho a derrota para o Botafogo para o Goiás, pela última rodada do Campeonato Brasileiro, acompanhamos muitos comentários imediatistas nas redes sociais sobre o fato de o clube ter se tornado sociedade anônima e os resultados não estarem indo além das expectativas criadas, se tornando algo comum comparar os modelos de gestão e o desempenho dos times nas competições vigentes.

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Respeito opiniões divergentes, obviamente, mas entendo que essa relação causa-efeito (em que, supostamente, a gestão ocuparia a primeira categoria; e o resultado, a segundo), não existe – ou, no melhor cenário, não se sustenta no curto prazo. É um raciocínio com aparência de verdade, mas está equivocado. Trata-se de uma falácia.

A história dos clubes (e das empresas) ensina que a adoção de boas práticas de gestão, estruturadas sobre pilares como transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade corporativa, não garantem infalibilidade dentro das quatro linhas. Garantem foco no resultado, é verdade, assim como estabilidade, visão de médio prazo, previsibilidade, e eficiência e minimizam conflitos de interesses que costumam ser comuns no segmento.

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Mas, assim como em qualquer outra atividade, uma boa gestão não vai blindar os clubes de resultados ruins em campo. A SAF tem um papel de meio, de gerar a atmosfera saudável. Esse é o negócio e esse é, de fato, o resultado que a boa gestão vai gerar. Confundir esse papel com desempenho em campeonato, sem a devida calibragem, dá espaço para uma interpretação distorcida, superficial e equivocada do que é a sociedade anônima do futebol.

Do contrário, uma vez que todos os clubes constituíssem suas SAFs não teríamos mais segundo colocados. Um campeonato só de campões. É isso que o torcedor procura?

Por isso, o resultado em campo tem relação indireta com a atmosfera criada pela gestão.

Tende, sim, a ser melhor, mas não está garantido.

O que tem acontecido após algumas derrotas ou desempenhos aquém do esperado nos clubes que se tornaram SAF recentes no país não coloca em xeque o modelo baseado na adoção de boas práticas de governança corporativa – um caminho sem volta para os clubes brasileiros – do qual a SAF é uma das formas. Tampouco desqualifica a necessidade de organizar clubes. Se a premissa não for revista ou corretamente comunicada ao torcedor, obviamente que o sistema já nasceu fadado ao fracasso. A quem interessa essa derrota?

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*Juliana Biolchi é diretora geral da Biolchi Empresarial. Mestre em direito e especializada em revitalização de empresas, negociações complexas e recuperação extrajudicial

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