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Neymar, um craque em estado de graça

Neymar é a mais rara das aves na fauna do futebol: um bailarino-artilheiro Era o último minuto do primeiro tempo de Brasil x Camarões, e a equipe de amarelo repetia o desempenho irregular que tivera na Copa até então. Por cerca de quinze minutos, ali pelo miolo da etapa inicial, ela tinha sido posta na […]

Neymar é a mais rara das aves na fauna do futebol: um bailarino-artilheiro

Era o último minuto do primeiro tempo de Brasil x Camarões, e a equipe de amarelo repetia o desempenho irregular que tivera na Copa até então. Por cerca de quinze minutos, ali pelo miolo da etapa inicial, ela tinha sido posta na roda pela fraca seleção africana, que trocava passes com facilidade no meio de campo. O resultado parcial, 2 a 1, só não era pior porque Neymar dera um jeito de marcar dois belos gols – daqueles que ele faz parecerem fáceis, quase casuais – após falhas do adversário em seu próprio campo.

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Foi nesse momento que o craque brasileiro, numa rara ocasião em que a seleção conseguiu trocar passes envolventes em direção ao gol de Camarões, fez algo inusitado: começou a rodopiar como um dançarino de valsa. Girando, inventou um passe-chapéu e, ao receber a bola de volta já na entrada da área, continuou a rodopiar, empurrando-a feito uma centrífuga até um companheiro para dar continuidade à jogada. Todos esses movimentos espantosos de Fred Astaire foram mais que precisos – foram preciosos. Hulk perdeu o gol, mas ouso dizer que ali começou a se reacender a esperança do torcedor brasileiro de chegar ao hexacampeonato.

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Que o Brasil tem a sorte de contar com um supercraque, um dos melhores jogadores do planeta, todo mundo já sabia. A Copa está mostrando que Neymar, mais do que isso, é um supercraque faminto e em estado de graça – um forte candidato a melhor jogador do Mundial até aqui. Se parte da equipe dá mostras preocupantes de se encolher sob a pressão de jogar uma Copa em casa, o camisa 10 faz o caminho oposto: agiganta-se.

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A autoconfiança com que ele vem arriscando as jogadas mais improváveis – e acertando a maioria delas – fica no limite da petulância. Lembra a marra de Romário, mas o repertório de soluções de Neymar é mais variado que o do Baixinho. Não sou tão velho a ponto de ter visto Garrincha carregar nas costas uma seleção brasileira meio duvidosa em 1962, depois que Pelé se contundiu, mas imagino que aquele seja um bom precedente histórico para o papel assumido pelo craque do Barcelona na equipe de 2014. Resta torcer para que o desfecho seja o mesmo.

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Sempre encarei com reserva os jogadores- bailarinos. Denilson, por exemplo. Tinha tanta habilidade que fez o cronista Armando Nogueira, estilista fino, derrapar de puro entusiasmo na prosa. O problema era que, como quase todos os de sua estirpe, Denilson dava espetáculos de solista que levantavam a torcida, mas frequentemente deixava no ar certa impressão de esterilidade. É uma questão elementar de física: a energia que um atacante gasta em malabarismos, na tarefa de construir labirintos e desenhar arabescos em torno dos zagueiros, é energia desviada do objetivo supremo do jogo. Como se sabe, o objetivo se chama gol, palavra importada pelo português brasileiro do inglês goal, que significa meta.

Neymar é a mais rara das aves na fauna do futebol: um bailarino-artilheiro, um malabarista que esbanja invenção sem jamais perder de vista que, se a arte é bem-vinda no futebol, só costuma virar obra-prima quando a rede balança. Isso é notícia velha. A nova é que o rapaz está no auge da forma. Se os outros dez jogarem o suficiente para não entregar a paçoca – e um grande passo nesse sentido foi dado com a troca de Paulinho por Fernandinho -, as perspectivas são animadoras.

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