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GRUPO E – Brasil: mais do que pelos pés de Neymar, o hexa passa por Tite

Treinador enfrentou até o trauma do 7 a 1 para resgatar a autoconfiança da seleção, de fato uma das favoritas ao título mundial

Sete a um. O placar da humilhante derrota brasileira para a Alemanha, na semifinal da última Copa do Mundo, ecoou nos últimos quatro anos. Tornou-se o selo da falta de qualidade do futebol nacional, que vinha há tempos escorado na fama de ser cinco vezes campeão mundial (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), enquanto alemães e espanhóis evoluíam. Ao contrário de uma necessária chacoalhada, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) escolheu como remédio uma fórmula antiga: em julho de 2014, Dunga era reconduzido ao cargo de treinador com o discurso de resgatar o “amor à camisa” sob sua rígida gestão. A passagem anterior ficara marcada pelo tenso relacionamento com a imprensa e por um time que, sob pressão, reproduziu em campo o mau humor de seu comandante — na eliminação pela Holanda, na Copa de 2010.

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A segunda demissão de Dunga ocorreu após a vexaminosa eliminação na primeira fase da Copa América, em 2016, algo inédito. Além disso, o Brasil era o sexto colocado nas Eliminatórias Sul-Americanas, posição fora da zona de classificação para a Copa do Mundo da Rússia. Sob o risco de não ir ao torneio, a CBF não tinha escolha e ouviu o clamor popular. O técnico Tite realizou seu sonho com dois anos de atraso — havia admitido publicamente a frustração por não ter sido o escolhido para substituir o combalido Luiz Felipe Scolari. Naquela ocasião, vivia um ano sabático. Percorreu clubes no exterior e visitou treinadores renomados, como Arsène Wenger, do inglês Arsenal, e Carlo Ancelotti, então no Real Madrid, da Espanha. No período, desenvolveu a convicção no esquema tático 4-1-4-1, que implantou no Corinthians campeão brasileiro de 2015 e, posteriormente, na seleção.

Em 1º de setembro de 2016, justamente no aniversário do time paulista, Tite estreou na altitude de Quito (2.850 metros acima do nível do mar), pelas Eliminatórias. O Brasil aplicou 3 a 0 no Equador, a primeira de uma sequência de nove vitórias (uma delas em amistoso), finalizada com um 3 a 0 sobre o Paraguai que carimbou o passaporte com quatro rodadas de antecedência. Público e crítica mal podiam acreditar: a seleção voltava a impor respeito.

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O mérito de Tite passa por manter algumas apostas de Dunga, como o goleiro Alisson (hoje na Roma, da Itália), o zagueiro Marquinhos (Paris Saint-Germain, da França) e os meias Philippe Coutinho (Barcelona, da Espanha) e Renato Augusto (Beijing Guoan, da China). E por confiar em atletas com as chagas do 7 a 1: o lateral-esquerdo Marcelo (Real Madrid) e os meio-campistas Fernandinho (Manchester City, da Inglaterra), Willian (o também inglês Chelsea) e principalmente Paulinho.

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Titular no início da Copa de 2014, Paulinho foi mal e terminou na reserva. Na temporada seguinte, caiu de produção no Tottenham e foi vendido pelo clube inglês ao Guangzhou Evergrande, onde reencontrou Felipão. O emergente futebol chinês parecia um exílio para ele e Renato Augusto, mas Tite os comandara no Corinthians. Paulinho foi peça-chave nas conquistas do Mundial e da Libertadores de 2012, cumprindo a função tática de surpreender a defesa adversária e fazer gols decisivos. Exatamente o que tem repetido com a “amarelinha”: soma sete gols nessa nova fase.

Ao contrário de preparações anteriores, com amistosos programados com adversários inexpressivos, Tite solicitou à direção da CBF testes de peso. Contra a Argentina, a única derrota até aqui (1 a 0) — sem comoção, tamanho o crédito. Já o 0 a 0 com a Inglaterra foi importante para enfrentar uma linha defensiva com cinco jogadores. E o maior de todos os desafios: a Alemanha.

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Sabendo explorar a autoconfiança reconstruída nos últimos meses, a meta era encarar o trauma ainda latente. No último dia 27 de março, em Berlim, o Brasil venceu os alemães por 1 a 0, gol de Gabriel Jesus (artilheiro e melhor despertar da gestão Tite). O fato de o adversário jogar com apenas quatro titulares ajudou: conteve o que seria uma equivocada sensação de revanche, como se tamanho feito histórico pudesse ser apagado.

Nas duas ocasiões, o craque Neymar não esteve em campo. Em 2014, a dependência era tanta que a notícia da ausência contra a Alemanha causou uma espécie de luto. Dessa vez, uma fratura no pé criou apreensão se estará pronto para a Copa, mas Tite já traçou alternativas para a seleção ser competitiva sem ele.

O treinador se notabilizou como estrategista também fora de campo. No amistoso contra o Japão (vencido por 3 a 1, em 10 de novembro), em Lille, na França, acompanhou Neymar na entrevista pós-jogo. A imprensa local estava em peso em busca de aspas sobre a conturbada relação do novo astro do Paris Saint-Germain com o colega Cavani. Vendo-o pressionado, pediu a palavra: “Eu posso falar do caráter, da índole e do grande coração que o Neymar tem”. A estrela de seu time foi às lágrimas e pousou em seu ombro. Tite ganhou ali o melhor aliado e o maior exemplo de que todos os caminhos de um eventual hexacampeonato passam pela sua cabeça.

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