Gana chega à partida decisiva de bolso cheio e time vazio
Na quarta, atletas receberam mala de dinheiro do presidente do país. Na manhã desta quinta, antes do jogo contra Portugal, Muntari e Boateng foram cortados
A imprensa ganesa diz que Muntari, jogador do Milan e um dos destaques do time, deu um tapa na cara de um dirigente e o perseguiu pelo hotel com uma garrafa de vidro quebrada na mão
A seleção de Gana parece ter entrado no clima da capital federal. Em Brasília, onde joga seu futuro na Copa contra Portugal, nesta quinta-feira, a delegação das Estrelas Negras escreveu dois dos capítulos mais inusitados deste Mundial. Primeiro, ainda na noite de quarta, uma cena que logo fez lembrar alguns dos episódios mais obscuros da vida política da cidade. Depois de desembarcar no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, uma pequena comitiva carregando uma mala� de dinheiro foi transportada num sedã Mercedes-Benz preto até o �Hotel Brasília Palace. Estima-se que o montante total levado ao hotel era de 3 milhões de dólares. Em seguida, em um dos quartos, maços de notas foram passados adiante – �era a entrega da premiação prometida aos atletas pela participação na competição. Alguns enrolavam o dinheiro em roupas. Outros recheavam seus bolsos com as notas. (Não se soube, pelo menos, de nenhum jogador ganês que tenha aderido aos costumes de alguns políticos brasileiros e recorrido à cueca como uma carteira improvisada.) As imagens foram registradas pela janela do quarto onde ocorreu a partilha por câmeras da TV Globo. Calcula-se que cada atleta tenha recebido uma premiação de 100.000 dólares, o equivalente a cerca de 220.000 reais.
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A farta distribuição de dinheiro, porém, não impediu os desdobramentos mais surpreendentes de� uma guerra de poder que já vinha se agravando dentro da delegação. A poucas horas de entrar em campo para brigar pela vaga, Gana suspendeu dois dos atletas mais importantes� do elenco, Sulley Muntari, do Milan, e Kevin-Prince Boateng, do Schalke 04, por tempo indeterminado, ambos por brigas dentro da concentração. Tanto Muntari como Boateng tiveram suas credenciais da Copa cassadas e foram desligados da seleção, que ficará com apenas 21 jogadores para a partida decisiva contra os portugueses (e, caso avance à segunda fase, também para as oitavas, já que a Fifa não autoriza troca de atletas no decorrer da competição). Segundo informou a Associação Ganesa de Futebol na manhã desta quinta, Muntari agrediu um integrante de seu Comitê Executivo numa reunião ocorrida na terça-feira. O cartola agredido, Moses Armah, garante não ter feito nada para provocar o atleta. A imprensa ganesa diz que Muntari deu um tapa na cara do dirigente e o perseguiu pelo hotel com uma garrafa de vidro quebrada na mão. Boateng foi banido por ter xingado o treinador Kwesi Appiah durante um treinamento em Maceió.
De acordo com os porta-vozes da entidade, a punição se deve não só às ofensas ao técnico mas também ao fato de Boateng não ter mostrado nenhum arrependimento pela atitude. Também nesta quinta, a Associação Ganesa de Futebol confirmou que o presidente do país, John Dramani Mahama, foi quem autorizou o envio do dinheiro entregue aos atletas na noite de quarta. Mahama conversou por telefone com alguns dos líderes do elenco para garantir que a mala recheada de cédulas estava a caminho de Brasília. Trata-se de verba pública, portanto: o governo aceitou emprestar o valor enquanto a associação não recebe a premiação da Fifa referente à participação da equipe na Copa. O dinheiro só será entregue aos cartolas depois da eliminação no torneio – o que, com tantas distrações e confusões na concentração, parece estar a poucas horas de ocorrer. Gana tem só um ponto no Grupo G e precisa derrotar Portugal, às 13 horas (de Brasília), no Estádio Nacional Mané Garrincha, para ter chances de avançar. Além de fazer seu próprio resultado, ela terá de torcer pela Alemanha na partida contra os Estados Unidos, no mesmo horário, no Recife.