De São Gonçalo ao Fifa The Best: a superação de Vini Jr.
Atacante nascido na região metropolitana do Rio driblou o racismo, mostrou futebol que hoje encanta o mundo e renova esperanças pelo hexa
O Brasil tem de novo um melhor do mundo depois de 17 anos. Vini Jr. recebeu nesta terça-feira, 17, o prêmio Fifa The Best, em cerimônia realizada em Doha, no Catar. O troféu é o símbolo da superação do menino preto e pobre, que saiu de São Gonçalo para conquistar o mundo.
Para ficar com o tradicional prêmio da Fifa, o atacante bateu concorrentes como Rodri (Manchester City), Jude Bellingham (Real Madrid) e Kylian Mbappé (antes no PSG e agora no Real Madrid).
Aos 24 anos, Vini Jr. deixa, de vez, para trás os apelidos jocosos para si mesmo e companheiros de profissão como, dribla mais uma vez o preconceito e renova as esperanças para o hexacampeonato da seleção brasileira em 2026. Antes dele, Ronaldo (1996, 1997 e 2002), Rivaldo (1999), Ronaldinho (2004 e 2005) e Kaká (2007) foram os brasileiros que ganharam o prêmio.
No palco do Fifa The Best, Vini fez questão de relembrar suas origens: “Não sei nem por onde posso começar porque era tão distante. Parecia impossível chegar até aqui. Era uma criança que só jogava bola descalço nas ruas de São Gonçalo, perto da pobreza, do crime e poder chegar aqui é algo muito importante para mim por que estou fazendo isso por muitas crianças.”
Relembre a trajetória de Vini Jr. até aqui.
Vini Jr. era o Adílio da Geração 2000
Assim que chegou ao Flamengo, entre a desconfiança e o deslumbramento, o moleque franzino foi comparado ao ídolo Adílio, campeão mundial em 1981, que morreu em agosto deste ano. Já com enorme capacidade para o drible, o garoto recebeu a camisa 8 da comissão técnica do sub-11 e a partir dali começou a enfileirar títulos naquela que ficou conhecida como a Geração 2000.
Além de Vini, Lincoln, Patrick, Wendel, Marx Lenin eram os expoentes do time que varreu as categorias de base. Entre 2011 e 2018, ano em que conquistaram a quarta Copa São Paulo, foram 19 títulos e quatro vices. Com a mesma facilidade com que levantava troféus, passava por adversários e foi parar na ponta esquerda.
Mesmo rico e famoso, com o mundo da bola aos seus pés, o menino de São Gonçalo não se esquece das suas origens. Um instituto que leva o seu nome é a materialização da sua responsabilidade social ao ajudar crianças carentes da região metropolitana do Rio a se desenvolver com o foco em cultura, tecnologia e futebol. A educação antirracista é outro compromisso inabalável.
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Vini Jr. no profissional do Flamengo
As boas atuações de Vini Jr. no título da Copa São Paulo fizeram com que o técnico Zé Ricardo, profundo conhecedor do lema “craque o Flamengo faz em casa”, promovesse o atacante de sorriso largo e aparelho nos dentes para o time principal ainda em 2017. Com 16 anos completos, seria natural que o jogador falhasse em tomadas de decisões.
O ano seguinte reservou algumas das melhores participações do jovem com a camisa rubro-negra. Com mais oportunidades, ele passou a ser mais decisivo e deixar a marca da ousadia nos campos por onde passava. Contra o Emelec, no Equador, em partida válida pela Libertadores, virou o placar com dois golaços, primeiro ao deixar os zagueiros no chão e depois com um chute forte da entrada da área.
Já negociado com o Real Madrid por 45 milhões de euros (164 milhões de reais ne época), continuou jogando no Flamengo já que só poderia se transferir quando atingisse a maioridade. Ficou a sensação de que poderia ter ficado mais para títulos além da Taça Guanabara de 2018.
Glória e luta contra o racismo no Real Madrid
Vini Jr. chegou ao Real Madrid pelo Real Castilla, uma espécie de time B dos merengues, para que pudesse ganhar experiência e se adaptar ao futebol espanhol. Assim que subiu ao profissional, com craques como Sergio Ramos, Gareth Bale e Karim Benzema, ajudou a virar a partida contra o Valladolid com um gol e uma assistência. Mesmo assim, não ficou imune às críticas. O técnico Santiago Solari, treinador do Castilla, e interino nessa época, já dava o recado:
“Para mim, a questão do Vinícius é simples: ele precisa de tempo e jogo. Tempo porque tem todo o tempo do mundo pela frente, tem apenas 18 anos; além disso, experiência que é exigida deum jogador de futebol. Para ter essa experiência, precisa jogar. Com experiência, será um jogador melhor”, disse o treinador em 2018.
A maturidade (dentro e fora de campo) chegou e, com ela, as Champions League de 2022 e 2024, tendo marcado o gol do título na última. Se os madridistas ficaram eufóricos, os rivais intensificaram o ódio contra o seu estilo de jogo e até as dancinhas nas comemorações. O racismo foi evidenciado em tantos campos, mas Vini viu o pior do ser-humano contra o Valência (Mestala) e Atlético de Madrid (Metropolitano). No primeiro, coros organizados de “macaco”, contra o rival da capital, um boneco enforcado com a camisa 7 às costas.
Críticas na seleção
Por mais que tenha sempre se levantado, Vini Jr. se abalou com o racismo. As evidências, claro, estavam em campo, mas foram verbalizadas em março deste ano, antes de um amistoso pela seleção brasileira contra a espanhola, justamente contra o racismo.
“É cada vez mais triste [lidar com o racismo]. Cada vez tenho menos vontade de jogar”, disse o jogador. “Acredito que seja muito triste tudo que venho passando a cada jogo, a cada dia, a cada denúncia vai aumentando.”
Nem naquele, nem em tantos outros jogos, Vini Jr. conseguiu um desempenho convincente com a camisa amarelinha, é verdade. O atacante ficou sem o título das Copas América de 2021 e 2024 e da Copa do Mundo de 2022 nas competições em que disputou até aqui.
Mas com o The Best em mãos, as esperanças ficam renovadas para o hexa em 2026.
Os vencedores do The Best Fifa
1991 – Lothar Matthäus (Alemanha)
1992 – Marco Van Basten (Holanda)
1993 – Roberto Baggio (Itália)
1994 – Romário (Brasil)
1995 – George Weah (Libéria)
1996 – Ronaldo (Brasil)
1997 – Ronaldo (Brasil)
1998 – Zinedine Zidane (França)
1999 – Rivaldo (Brasil)
2000 – Zinedine Zidane (França)
2001 – Luís Figo (Portugal)
2002 – Ronaldo (Brasil)
2003 – Zinedine Zidane (França)
2004 – Ronaldinho Gaúcho (Brasil)
2005 – Ronaldinho Gaúcho (Brasil)
2006 – Fabio Cannavaro (Itália)
2007 – Kaká (Brasil)
2008 – Cristiano Ronaldo (Portugal)
2009 – Lionel Messi (Argentina)
2010 – Lionel Messi (Argentina)
2011 – Lionel Messi (Argentina)
2012 – Lionel Messi (Argentina)
2013 – Cristiano Ronaldo (Portugal)
2014 – Cristiano Ronaldo (Portugal)
2015 – Lionel Messi (Argentina)
2016 – Cristiano Ronaldo (Portugal)
2017 – Cristiano Ronaldo (Portugal)
2018 – Luka Modric (Croácia)
2019 – Lionel Messi (Argentina)
2020 – Robert Lewandowski (Polônia)
2021 – Robert Lewandowski (Polônia)
2022 – Lionel Messi (Argentina)
2023 – Lionel Messi (Argentina)
2024 – Vinicius Júnior (Brasil)
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