Cristiano marca e Portugal desencanta, mas vai para casa
Vitória sobre Gana, por 2 a 1, em Brasília, não resolveu: no saldo de gols, lusos perdem vaga nas oitavas para americanos. Astro Ronaldo deu adeus com gol
Na torcida, Brasília mostrou mais um caso de infidelidade partidária: o público começou com Portugal, depois aderiu a Gana. Cristiano começou sendo aplaudido, e depois foi vaiado
Portugal enfim venceu na Copa do Mundo – mas o primeiro triunfo veio tarde demais. A equipe de Cristiano Ronaldo derrotou Gana nesta quinta-feira, no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, por 2 a 1, com o primeiro gol do craque na competição. Não adiantou: com saldo de gols pior que o dos Estados Unidos, que também terminaram a primeira fase com quatro pontos, o selecionado luso acabou sendo eliminado precocemente do Mundial. A seleção de Gana veio a Brasília em crise, com atritos entre os jogadores e a comissão técnica e brigas entre os atletas e os dirigentes. A equipe de Portugal chegou desanimada, com o orgulho ferido depois de somar apenas um ponto em dois jogos, com Cristiano Ronaldo passando em branco em ambos. Pior: o time tinha cinco jogadores lesionados e fora de combate. Tudo isso se refletiu claramente na qualidade do duelo, que nem parecia valer um lugar nas oitavas de final da Copa. Apesar dos muitos erros de passes e de algumas trapalhadas, o jogo pelo menos teve boa dose de emoção, em especial no segundo tempo, quando as duas seleções chegaram a sonhar com a classificação – em seu melhor momento na partida, Gana ficou a apenas um gol das oitavas (mas foi justamente aí que sofreu o segundo gol português). Alemanha e EUA seguem adiante, e os rivais desta quinta embarcam de Brasília rumo a Lisboa e Acra.
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Gana chegou à partida decisiva de bolso cheio e time vazio
Erros demais – Apoiada pelos torcedores brasileiros, a seleção portuguesa assumiu a iniciativa da partida. A primeira chance da equipe veio aos 5 minutos, quando Cristiano Ronaldo quase marcou – e, pelo que pareceu, sem querer. Ele foi lançado pela ponta direita e, ao tentar cruzar para o atacante Éder na área, acabou encobrindo o goleiro Dauda e acertando o travessão. Aos 11, ele voltou a assustar o arqueiro ganês numa cobrança de falta com veneno, que Dauda espalmou para escanteio. Na base da força e da velocidade, Gana revidava, mas sem muita organização tática. Tentando apagar a má impressão deixada até aqui, Cristiano mostrava muita disposição, mas se ressentia da falta de companheiros de ataque mais capacitados – com Hugo Almeida e Helder Postiga machucados, a vaga de titular do comando de ataque ficou o esforçado mas limitado Éder. Sobrou para o craque e capitão do time a responsabilidade de fazer o gol, mas aos 18 minutos, depois de cruzamento perfeito de João Pereira da direita, Cristiano parou nas mãos de Dauda, que defendeu uma cabeçada à queima-roupa.
No minuto seguinte, Gana respondeu com o seu atacante mais perigoso, Asamoah Gyan, que recebeu na área, entre os zagueiros, e tentou concluir rasteiro. Foi a vez do goleiro português Beto entrar em ação para tirar o perigo com os pés. Aos 27, Ronaldo foi lançado pela faixa central, mas não conseguiu levar adiante uma de suas célebres arrancadas – caçado por dois zagueiros, teve de lançar para Miguel Veloso, que cruzou mal. Na tentativa seguinte do lateral, aos 30, os lusos finalmente saíram na frente – e nem precisaram de Ronaldo. O cruzamento da esquerda veio a meia altura, procurando o camisa 7 na pequena área, mas o zagueiro Boye se atrapalhou, espanou o corte e mandou para as próprias redes. Portugal, porém, precisava de muito mais para se aproximar da vaga, já que os alemães apenas empatavam com os americanos – e, para complicar, Gana não desistia da partida, também de olho numa despedida ao menos honrosa. Mesmo em vantagem, a seleção europeia parecia não acreditar nas próprias chances, enquanto os africanos paravam nos próprios erros, em especial no setor ofensivo. Ambos precisavam mostrar muito mais para sonhar com uma improvável vaga.
Infidelidade – O ritmo do jogo não mudou no início da segunda etapa. Mesmo diante da possibilidade cada vez mais real de estarem disputando seus últimos 45 minutos de Copa, portugueses e ganeses anulavam mutuamente suas forças e paravam, inevitavelmente, em suas nítidas deficiências. Como seu caminho até a vaga era um pouco mais curto naquele momento, Portugal avançou sua equipe e começou a insistir mais, com algumas tabelas interessantes entre Cristiano, João Moutinho e Nani. Aos 10, porém, a equipe voltou à estaca zero ao sofrer o empate, em cabeceio preciso de Gyan completando cruzamento de Asamoah. Foi o sexto gol do atacante de 28 anos em Mundiais. A Alemanha abria o placar no Recife, tornando a missão dos africanos bem menos improvável. Ao mesmo tempo, no Mané Garrincha, Gyan fazia mais uma grande jogada, cruzando para Waris desperdiçar, de cabeça, cara a cara com o goleiro Beto. A essa altura do jogo, os africanos precisavam de apenas mais um gol em Brasília – e, numa cidade tão acostumada à infidelidade partidária, não demorou muito para o público local virar casaca e se voltar contra os portugueses, passando a torcer por Gana.
Aos 24, numa rara aparição de Cristiano Ronaldo no segundo tempo, o craque avançou bem pela esquerda, mas cruzou forte demais, longe de Vieirinha, que tinha acabado de entrar no lugar de Éder. Aos 27, o astro desabou na área numa dividida com seu marcador, atraindo vaias do mesmo público que tanto o aplaudiu no início da partida. Estranhamente, assim como ocorreu logo depois de Portugal sair na frente, quem marcou o gol acabou não mantendo o ritmo: Gana passou a sofrer com as jogadas criadas por Vieirinha e não conseguia manter o mesmo sss. Aos 34, o detentor do troféu de melhor jogador do mundo – e que, ao menos durante a Copa, ficou tão ofuscado por Messi e Neymar – finalmente desencantou, aproveitando um presente do goleiro Dauda. Ele fez uma trapalhada numa despretensiosa bola alta e espalmou nos pés do astro português, que empurrou para o fundo das redes e nem sequer comemorou. O imprevisível Dauda voltou a duelar com Ronaldo apenas dois minutos depois – agora, voltando a fazer grande defesa. Já nos acréscimos, Cristiano perdeu outras duas chances, primeiro desviando um cruzamento pelo alto, depois batendo em cima do goleiro, com certa displicência. Os portugueses não tiveram força nem talento suficiente para ampliar o marcador – e morreram abraçados com os ganeses na Copa.