Publicidade
Publicidade

Três vezes no topo do Everest: overdose de frio, fome e sono

Rodrigo Raineri escalou a montanha em 2008, 2011 e 2013. Apesar da grande experiência, não há como evitar as condições hostis até chegar ao cume

“Tem dias que a gente acorda com o gelo no rosto, o vento bate na barraca o tempo todo. É difícil dormir bem. A alimentação nem sempre é muito boa”

O alpinista Rodrigo Raineri, de 44 anos, é o primeiro brasileiro a alcançar o cume do Monte Everest em três oportunidades – 2008, 2011 e a última em maio de 2013. Natural de Ibitinga, interior do estado de São Paulo, dá palestras, é guia de escaladas, tem uma empresa de segurança em montanhismo e é autor – com Diogo Schelp, editor-executivo de VEJA – do livro No Teto do Mundo (Editora Leya Brasil; 304 páginas; 34,90 reais), em que conta suas experiências nas viagens ao Everest. De fala mansa e aparentando estar muito cansado da exaustiva viagem do Nepal ao Brasil, Raineri contou ao site de VEJA, menos de 72 horas depois de desembarcar no país, quais as maiores dificuldades para chegar ao topo do Everest por três vezes das cinco expedições de que participou. Entre as facilidades, a companhia de um smartphone e sinal 3G até próximo do cume – assim, abasteceu seu site, que chegou a ter 70.000 acessos, e mandou comentários e fotos pelas redes sociais e ainda matou as saudades da mulher e do filho de 11 anos.

Publicidade

Leia também:

Leia também: Brasileiro chega ao cume do Everest pela terceira vez

Quais foram as dificuldades das duas primeiras escaladas ao Everest? Em minha primeira subida, em 2008, peguei um tempo maravilhoso e tive uma visão privilegiada do Himalaia. Mas são quase nove quilômetros de altura e falta oxigênio, o ar é seco, o chão é irregular e há dias em que a gente acorda com o gelo no rosto, o vento bate na barraca o tempo todo. É difícil dormir bem. A alimentação nem sempre é muito boa, a expedição é demorada e a saudade da família é grande. Na segunda subida, o tempo estava muito ruim. Eu queria fazer o voo de parapente lá do alto, mas o vento estava muito forte, e quando estava a 150 metros do cume tive de voltar e ficar cinco dias no acampamento da base. Depois subi de novo – foi como se eu tivesse subido duas vezes a montanha na mesma semana. Emagreci quinze quilos e foi uma escalada muito dura. É um desafio mental resistir muito tempo a tantas coisas difíceis.

Continua após a publicidade

E da terceira vez? Dessa vez foi mais fácil, mas fisicamente foi pior, pois estava com uma tendinite no pé direito. Sofri a contusão no final de fevereiro em uma maratona do Chile à Argentina, onde escalei montanhas e vulcões pelos Andes durante três dias. Tive de ficar um mês e meio sem treinar, sem colocar o pé no chão e só comecei a fisioterapia cerca de dois meses antes da viagem ao Everest. Tive de fazer uma parte da expedição até a base da montanha de helicóptero e outra a cavalo até melhorar da lesão. No dia 21 de maio, consegui chegar ao cume e foi muito emocionante. Depois disso, a maior emoção foi o reencontro com meu filho e minha mulher.

Publicidade

Na próxima subida a alguma montanha, o senhor acha que será mais fácil ou mais difícil? Por já ter a noção da quantidade de oxigênio necessário, do equipamento (barraca, roupas especiais, cordas) e do clima, a próxima vez será mais fácil. Mas fisicamente só tende a piorar. O peso da idade aumenta, claro que é possível manter a forma ideal, mas isso exige mais dedicação, quanto mais velho é preciso se cuidar mais e mais para manter um bom desempenho físico.

Qual foi a sua expedição mais complicada? Foi a que realizei entre o fim de 2001 e começo de 2002, no monte Aconcágua, nos Andes (Argentina). Subi carregando todo o equipamento, não há apoio nenhum: tudo se resume a você, seu parceiro e uma corda. A escalada é muito técnica, as avalanches são frequentes, é preciso ficar mais atento ainda que o normal. É muito complicado.

O senhor não sente medo quando está escalando? Não. Tenho de ficar bem concentrado e num estado de alerta muito grande. Não há espaço para o medo. As decisões têm de ser tomadas rápida e tecnicamente, pois são ligadas diretamente à segurança. O medo só atrapalha na hora de decidir.

Publicidade

O senhor já sabe qual será sua próxima aventura? De imediato, quero descansar, voltar à academia, recuperar meu peso e comer bastante (risos). Além disso, preciso retomar o trabalho na minha empresa, dar palestras e quero focar no projeto de um livro de fotos de todas as minhas expedições. Tenho 150 imagens separadas para a publicação, que deve sair em breve. Em novembro, vou escalar a montanha mais alta da Oceania, a Carstensz, na Indonésia.

Continua após a publicidade

Publicidade