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Nova Arena do Grêmio: pronta para 2014 – e fora da Copa

Com investimento privado, primeiro estádio da geração 2014 será inaugurado neste sábado. Enquanto isso, arenas públicas do Mundial seguem atrasadas

O Grêmio não pensava na Copa quando decidiu mudar de casa. A preocupação central era atender ao torcedor e repetir o salto qualitativo que dezenas de grandes clubes espalhados pelo mundo já deram nos últimos anos

Pouca gente ainda se lembra, mas a Copa do Mundo de 2014 foi anunciada como “o Mundial da iniciativa privada”. Era assim que Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL), retratava o torneio quando o Brasil foi confirmado como país-sede, em 2007. Os estádios seriam todos construídos ou reformados sem dinheiro público – afinal, o governo tinha coisas bem mais importantes para bancar, dizia o cartola. Passados cinco anos, a realidade é muito diferente. Dos doze estádios escolhidos para receber partidas da Copa, só três são privados: Arena da Baixada, Beira-Rio e Itaquerão. O último, porém, tem quase a metade de seu custo total – 400 dos 820 milhões de reais previstos em orçamento – fornecidos através de Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento emitidos pela Prefeitura de São Paulo. O setor público, portanto, foi indispensável para custear o palco da abertura da Copa, ainda que através de renúncia fiscal, e não de gastos diretos. Quatrocentos milhões de reais também era o valor estimado de um outro projeto que começou a sair do papel em 2007. Depois de contratar um estudo feito pelos gestores da Amsterdam Arena, da Holanda, o Grêmio se convenceu de que o velho Estádio Olímpico já não era mais capaz de abrigar as ambições do clube – e que havia chegado a hora de erguer um novo lar, com tudo o que há de mais avançado na tecnologia para estádios no mundo. Com custo final de 540 milhões de reais, esse sonho vira realidade na noite deste sábado, no bairro Humaitá, na Zona Norte de Porto Alegre, com a inauguração da nova Arena do Grêmio. Uma partida amistosa entre a equipe gaúcha e o Hamburgo, da Alemanha – clube derrotado pelo Grêmio na final do Mundial de 1983, no Japão -, será o grande destaque da festa, que contará também com shows e homenagens aos ídolos do time.

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A inauguração do estádio gremista é um momento histórico não apenas para a fanática torcida do clube gaúcho. A Arena do Grêmio é a primeira da “geração 2014” de estádios brasileiros – ainda que, por incrível que pareça, esteja fora da lista dos doze palcos da Copa no Brasil. A sede gaúcha do Mundial é o Beira-Rio, do arquirrival� Internacional, que só recentemente foi fechado para que a reforma exigida para 2014 deslanche de vez. A escolha do estádio colorado para receber a Copa certamente será mais um tema de interminável disputa entre as duas grandes torcidas gaúchas. Na véspera da inauguração, no entanto, o presidente do Grêmio, Paulo Odone, grande responsável pela concretização do projeto, evitou alimentar essa briga, lembrando que a opção da Fifa foi coerente, por mais que hoje ela possa causar estranheza. A arena gremista é maior (60.170 lugares contra 51.300 do Beira-Rio), mais moderna e tem excelente localização, próxima ao aeroporto de Porto Alegre. Quando a escolha foi feita, entretanto, o novo estádio era “apenas um projeto no computador”, lembra Odone. “O Beira-Rio era um estádio pronto, precisava apenas se adaptar às condições exigidas pela Fifa. Por cautela, foi ele o escolhido. A gente sabia que seria assim, e nunca fizemos concorrência”, ressaltou o cartola na sexta-feira. De qualquer forma, o Grêmio não pensava na Copa quando decidiu mudar de casa. A preocupação central era atender ao torcedor e repetir o salto qualitativo que dezenas de grandes clubes espalhados pelo mundo já deram nos últimos anos. A partir da evolução dos estádios europeus, a experiência de ir ao estádio mudou radicalmente. No futebol altamente profissionalizado deste início de século, conforto, segurança e praticidade não são mais privilégio de poucos, e sim necessidades básicas para atrair o torcedor e lucrar com a presença do público.

Os números da nova arena

60.170 lugares distribuídos por cinco setores, incluindo arquibancadas, cadeiras e camarotes

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27 meses foi o tempo de construção

540 milhões de reais é o custo total da obra, que foi realizada pela empreiteira OAS

65% das receitas ficam com o Grêmio

120 milhões de reais é o faturamento estimado do estádio já para o ano que vem

Esse, aliás, é um dos pontos em que a arena gremista se destaca na comparação com a enorme maioria dos estádios da Copa. Além de ser um empreendimento privado (erguido pela empreiteira OAS, com financiamento parcial do BNDES) e de ter ficado pronto antes de qualquer palco escolhido para o Mundial, trata-se de um projeto sustentável do ponto de vista financeiro. Enquanto os governos estaduais de várias sedes da Copa correm para encontrar maneiras de pagar as despesas dos estádios depois de 2014 (cidades como Cuiabá, Brasília, Manaus e Natal não têm times de primeira divisão e estão fora da rota de grandes shows e eventos no país, as principais fontes de receita de um estádio moderno), o Grêmio projeta um futuro tão azul quanto o de sua camisa. Logo em seu primeiro ano, a arena deverá registrar um faturamento de até 120 milhões de reais. Graças à presença maciça da torcida, ao conceito de arena multiuso e à realização de eventos importantes – ainda neste mês, ele recebe o amistoso anual contra a pobreza promovido por Ronaldo e Zidane -, o estádio tem tudo para dar muito dinheiro (nos primeiros vinte anos, a OAS ficará com 35% das receitas, e o Grêmio, com os 65% restantes). O formato é cada vez mais comum no exterior, mas o Brasil ainda não tinha nenhuma arena multifuncional antes deste fim de semana (Arena da Baixada, em Curitiba, e o reformado Morumbi, em São Paulo, eram as tentativas mais próximas disso). A intenção é fazer com que o estádio se transforme numa estrutura de uso diário, com lojas, restaurantes e espaços para eventos, que incluem desde pequenas festas particulares até convenções de maior porte. Além de gastar com cimento e vidro, a OAS investiu muito em tecnologia: cerca de 100 milhões de reais foram aplicados em sistemas elétricos e eletrônicos, presentes desde a segurança (com 239 câmeras de circuito interno de TV) até a iluminação, o acesso do público, a sonorização do estádio e a irrigação do gramado.

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Para assegurar o sucesso da empreitada, também investiu-se muito numa área que ainda é pouco desenvolvida no país: a gestão especializada da arena. Cerca de 230 profissionais trabalharão para manter o estádio em pleno funcionamento, e todos receberam qualificação específica para essa atividade. Com funcionários treinados para receber e atender bem, espera-se, por exemplo, que os camarotes corporativos possam ser usados não só para uma empresa receber seus clientes e fornecedores em dias de jogos, mas também como escritórios de uso diário. Cerca de 60% dos camarotes, 135 no total, já estão reservados. Preenchendo os padrões dos mais exigentes clientes corporativos, todo o complexo segue os conceitos mais modernos de conservação energética, redução do impacto ambiental e acessibilidade para pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida. No centro de tudo, porém, está mesmo o torcedor gremista. Mais do que receber shows e eventos, o estádio pretende mudar a rotina de quem apoia o time, oferecendo uma experiência totalmente nova – com acessos facilitados, melhor visão do campo, instalações limpas e agradáveis e opções de alimentação e consumo de qualidade. Na tentativa de fazer o torcedor sentir-se em casa logo de cara, o Grêmio decidiu manter um setor com cerca de 8.000 lugares sem cadeiras, permitindo que a tradicional “avalanche” na comemoração dos gols em um setor do velho Olímpico se repita na nova arena. É o único ponto do estádio que não cumpre totalmente o padrão Fifa (a entidade exige assentos individuais e numerados). Em todos os outros, a arena pioneira de Porto Alegre estaria absolutamente pronta para receber uma partida de Copa desde já, com um ano e meio de prazo até o Mundial. Enquanto a Fifa cobra rapidez nas obras para que os palcos de 2014 sejam concluídos a tempo, o Grêmio já coloca a bola em jogo nesta nova fase do futebol no país – e sem depender dos cofres públicos.

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