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Infectologistas condenam a volta do UFC em plena pandemia nos EUA

UFC 249 acontece neste sábado, 9, em Jacksonville, na Flórida, sem torcida e com rígido protocolo de segurança. Especialistas fazem alertas

Demorou mais que o esperado, mas o objetivo traçado pelo presidente Dana White de que o Ultimate Fighting Championship (UFC) fosse o primeiro grande evento esportivo a quebrar a paralisação forçada pela pandemia de coronavírus será alcançado neste sábado 9. O UFC 249 da disputa de artes marciais mistas acontecerá em Jacksonville, no estado americano da Flórida, sem a presença de torcedores mas com duas disputas de cinturão, além de contar com três brasileiros em ação. Haverá ainda outros dois eventos da organização na cidade nos dias 13 e 16. Dana garante a segurança de todos os presentes, mas especialistas ouvidos por VEJA contestam esta certeza do cartola.

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O médico Leonardo Weissmann, do Instituto Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, avalia que a decisão de realizar este evento agora nos Estados Unidos é “no mínimo, irresponsável”. Ele afirma que nem todas as medidas de segurança aplicadas pelo UFC serão suficientes para afirmar, com certeza, se todas as pessoas envolvidas não estão contaminadas. “Se o evento fosse realizado em um lugar que não apresenta mais novos casos, ou teve uma queda acentuada na curva, como a Alemanha, por exemplo, talvez fosse uma outra situação. Definitivamente não é o caso dos Estados Unidos”, argumenta Weissmann.

Já são mais de 73.000 mortes em solo americano, segundo dados da Universidade Johns Hopkins. De acordo com levantamento do jornal New York Times, o estado da Flórida já registrou mais de 37.000 casos e mais de 1.500 mortes por coronavírus. Há no entanto, forte pressão dos governos para reabrir a economia, sobretudo nas regiões menos afetadas. A realização das lutas foi possível devido a um decreto estadual de 9 de abril, que transformou eventos esportivos em “serviços essenciais” na Flórida. A única condição imposta pelo governador Ron DeSantis foi a de que os eventos ocorressem com portões fechados ao público. O último evento do UFC aconteceu em 14 de março, em Brasília, já sem torcida, no início da pandemia.

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Desde então, Dana White vem se esforçando para retomar as atividades o mais rápido possível, visando os lucros que a venda de transmissões em pay-per-view podem lhe render, ainda mais em uma época em que outros esportes estão paralisados. No entanto, foi justamente a TV quem frustrou seus últimos planos. A organização chegou a anunciar o UFC 249 para 18 de abril em uma reserva indígena na Califórnia, mas o evento teve de ser adiado, por pressão da Disney, proprietária da ESPN, emissora detentora dos direitos de transmissão. Foram as fortes críticas à jogada de marketing de Dana White que fizeram as empresas envolvidas recuarem.

Protocolo – O UFC apresentou uma série de normas rígidas visando garantir a saúde de todos os envolvidos. O plano foi detalhado a VEJA pela organização: assim que chegaram ao hotel em Jacksonville na última quarta 6, os atletas passaram por uma avaliação médica inicial, respondendo a um questionário e passando por uma checagem de temperatura. Em seguida, realizaram dois exames: a coleta de secreção com um swab (uma espécie de cotonete) nasal, para determinar se eram portadores ativos do vírus, e um, de sangue, para verificar se havia a presença do anticorpo para o vírus. Após a realização destes testes, os atletas permaneceram em isolamento.

O pneumologista Elie Fiss, professor titular da Faculdade de Medicina do ABC e médico do Hospital Oswaldo Cruz alerta para os perigos de se basear nos testes para afirmar que todos os envolvidos estarão seguros. “O PCR pode apresentar um falso negativo. Apenas entre o segundo e o sétimo dia de infecção, o PCR fica positivado. Antes ou depois disso, pode ser negativo. Ainda não podemos afirmar quanto tempo uma pessoa que já teve a doença pode ficar sem transmití-la”, afirma Fiss. Leonardo Weissmann complementa a fala do colega: “Ter anticorpos não significa que você não está transmitindo o vírus”, diz.

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A partir desta quinta-feira 7, os atletas passarão diariamente por avaliação médica. Durante toda a semana, deverão também respeitar as regras de distanciamento social e usar máscara, incluindo nas atividades oficiais da semana. Não haverá pesagem cerimonial para este evento, somente a pesagem oficial realizada na manhã de sexta-feira 8, no Host Hotel do UFC em Jacksonville. Após a pesagem oficial, serão realizadas as encaradas oficiais do evento normalmente.

No dia da luta, somente a chamada “equipe essencial” irá até ao local do evento: além de atletas e os árbitros da comissão atlética da Flórida, estarão presentes as equipes de produção, transmissão do evento e segurança. Cerca de dez jornalistas farão a cobertura do evento – o número de profissionais de imprensa é geralmente bem maior em condições normais – todos em mesas separadas.

A tradicional entrevista pós-luta, ainda dentro do octógono, será feita em uma área isolada, onde o lutador receberá um fone higienizado para ser entrevistado remotamente. No hotel onde os atletas estão hospedados, foram disponibilizadas salas de treino individuais com tapetes, higienizador de esteira e saunas privativas para redução de peso.

Em nota, o UFC afirma que “saúde e segurança têm sido há algum tempo uma prioridade” e que tomou suas decisões sob “estreita colaboração com nossa equipe médica e autoridades estaduais e locais”

O que diz um dos brasileiros que disputará o evento – Em entrevista a VEJA, o brasileiro Ronaldo Jacaré, que enfrentará o jamaicano Uriah Hall, pelo peso-médio, disse confiar na organização. “Estamos sendo direcionados para os locais sempre com máscara, luvas, distanciamento, diversas normas para seguir. Fui testado quando cheguei e serei testado de novo várias vezes até a luta. Preocupação sempre temos, o mundo está uma loucura… mas acredito que o UFC está pensando em tudo e vá dar tudo certo”, afirmou o lutador capixaba de 40 anos nesta quinta-feira.

Jacaré ressaltou que nenhum atleta foi obrigado a participar do evento por questões contratuais. “Dana White deixou muito claro que quem não se sentisse confortável para lutar não seria obrigado. Foi o que aconteceu com a Amanda Nunes”, disse, citando a brasileira campeã peso-galo e pena, que pediu para postegar seu duelo com a americana Felicia Spencer por ter tido seus treinamentos atrapalhados pela pandemia. Outra brasileira, Jéssica Andrade “Bate Estaca”, teve de deixar o card do UFC 249 por motivos trágicos ligados à sua adversária. A americana Rose Namajunas optou por não participar devido à morte de dois parentes, vítimas da coronavírus.

A luta principal do UFC 249 seria inicialmente o aguardado duelo entre o russo Khabib Nurmagomedov e o americano Tony Ferguson, valendo o cinturão dos leves. O atleta europeu, no entanto, foi obrigado a seguir isolado em seu país e teve de ser substituído pelo americano Justin Gaethje, em luta que valerá o título interino. Além de Ronaldo Jacaré, os compatriotas Fabrício Werdum e Vicente Luque estarão em ação, todos no card preliminar.

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UFC 249 – 9 de maio de 2020

Card principal (a partir das 23h, horário de Brasília):

Peso-leve: Tony Ferguson x Justin Gaethje

Peso-galo: Henry Cejudo x Dominick Cruz

Peso-pesado: Francis Ngannou x Jairzinho Rozenstruik

Peso-pena: Jeremy Stephens x Calvin Kattar

Peso-pesado: Greg Hardy x Yorgan De Castro

Card preliminar (a partir das 19h30, horário de Brasília):

Peso-leve: Donald Cerrone x Anthony Pettis

Peso-pesado: Alexey Oleynik x Fabricio Werdum

Peso-palha: Carla Esparza x Michelle Waterson

Peso-médio: Ronaldo Jacaré x Uriah Hall

Peso-meio-médio: Vicente Luque x Niko Price

Peso-pena: Charles Rosa x Bryce Mitchell

Peso-meio-pesado: Ryan Spann x Sam Alvey

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