Brasil de Neymar abre a menos olímpica das competições
Fora de lugar nos Jogos, o futebol, disputado longe de Londres, é muito pouco comentado na capital. E Brasil, com time milionário, está ainda mais deslocado
Concentrados num hotel nos arredores de Londres – a única passagem pela Vila Olímpica até agora foi para uma breve visita, no domingo -, os jogadores da seleção não participarão, por exemplo, da cerimônia de abertura
É uma discussão que volta a aparecer a cada quatro anos: a Olimpíada deve ou não ter futebol? Em Londres-2012, não existe, pelo menos por enquanto, qualquer comentário sobre uma possível mudança no regulamento da modalidade mais popular do planeta – e do menos olímpico dos torneios. Mas sempre causam estranheza as características da briga pela medalha no futebol masculino. A regra do limite de idade, com a cota dos três atletas acima de 23 anos, segue como um remendo meio desajeitado – evitando um conflito com a Fifa, que faz de tudo para proteger o prestígio e a exclusividade da Copa do Mundo, mas abrindo margem para a modalidade ganhar uma pitada de interesse, através da convocação de jogadores famosos – o que, aliás, pouco aconteceu neste ano. Com a ausência de David Beckham na lista de convocados da Grã-Bretanha, o maior astro do torneio olímpico passou a ser um brasileiro de 20 anos (fora, portanto, da cota dos veteranos). Neymar é não apenas a grande esperança do Brasil mas também o único craque de primeiro escalão na competição. E ele puxa uma fila de jovens promessas que transforma a seleção brasileira em uma das equipes mais valiosas da Olimpíada. Antes do amistoso da semana passada contra os britânicos, em Middlesbrough, muito se falou sobre o valor estimado da equipe – cerca de 300 milhões de libras, ou quase 950 milhões de reais. Ou seja: o futebol, com sua enorme popularidade e altas cifras, já destoa do ambiente olímpico; o Brasil, com seus jovens milionários, foge ainda mais à média olímpica.
Concentrados num hotel nos arredores de Londres – a única passagem pela Vila Olímpica até agora foi para uma breve visita, no domingo -, os jogadores da seleção não participarão, por exemplo, da cerimônia de abertura, na sexta. Depois da estreia desta quinta, contra o Egito, em Cardiff, no País de Gales, às 15h45 (no horário de Brasília), o time viaja no dia seguinte rumo a Manchester, onde disputa a segunda partida da fase de grupos, contra a Bielorrússia, no domingo. Afastado da cidade e jogando fora de Londres, o futebol deve passar a atrair maior interesse apenas na reta final do torneio – a final, aliás, será no Estádio de Wembley, na capital. Atualmente, o futebol é o único esporte olímpico a ter um regulamento diferente, com a restrição de idade. Outra modalidade que trouxe superastros do esporte a Londres, o basquete masculino, também poderá ter uma regra parecida nas próximas edições dos Jogos. Mas esse é o desejo dos dirigentes americanos, cuja seleção domina a modalidade. Acredita-se que o Comitê Olímpico Internacional (COI) não tenha o menor interesse em esvaziar o basquete olímpico, já que a presença dos astros da NBA é garantia de ginásios lotados. A quantidade de torcedores no estádio em Cardiff, por sinal, é uma grande dúvida que cerca a estreia do Brasil no futebol. Com cerca de meio milhão de ingressos encalhados na semana passada, o torneio olímpico poderá virar fracasso de público. A presença de Neymar e seus companheiros é um dos poucos trunfos da organização para atrair o público. Sobre a escalação do time nesta quinta, não há incertezas – Mano Menezes escolheu o mesmo time que derrotou os britânicos, com exceção do goleiro Rafael, que foi cortado por contusão e será substituído pelo estreante Neto.