Pouca inspiração e erros repetidos: a análise da eliminação do São Paulo
Tricolor reclamou de pênalti polêmico, mas também demonstrou ataque pouco fértil e caiu em armadilha de Abel na semifinal contra o Palmeiras

A derrota do São Paulo para o Palmeiras, por 1 a 0, na última segunda-feira, 10, dificilmente fugirá dos debates sobre arbitragem. Aliás, foi de um pênalti polêmico, que Raphael Veiga marcou o gol decisivo para a classificação palmeirense para a final do Campeonato Paulista de 2025.
Até mesmo entre os jogadores, os protagonistas da peleja, o assunto não parece ser outro. Como deixou claro o volante Alisson, ao responder de maneira mais dura um repórter que o questionou sobre a partida além da decisão do árbitro: “Você falou um lance? É o lance do pênalti. E foi a eliminação, né?”.
No entanto, há, sim, mais formas de explicar a pouca inspiração dos treinados por Luis Zubeldía. A começar pelas estatísticas, considerando os 431 passes certos no clássico, sendo que 120 foram dos zagueiros.
As mais de quatro centenas de toques ficam ainda mais expressivas (e desproporcionais) se comparadas aos modestos seis chutes realizados, com só um exigindo defesa do goleiro Weverton. Ou seja, em média, foi preciso passar a bola ao menos 71 vezes para arrematar uma única vez.
Essa não foi uma realidade posterior exclusivamente ao pênalti marcado em Vitor Roque, que aconteceu aos 42 minutos de jogo. Mas um contexto geral, de uma equipe que trocou 206 passes na etapa inicial, finalizando apenas duas vezes.
Início bom, erros e desestabilização
Escalação coerente e balanço defensivo
O São Paulo foi a campo com três zagueiros (Alan Franco, Nahuel Ferraresi e Robert Arboleda) e dois laterais (Cédric Soares e Enzo Díaz). Mais à frente, como volantes, teve Alisson e Oscar, que sucediam a dupla de meias-atacantes Luciano e Lucas e o centroavante Jonathan Calleri.
A escalação, que adicionou um homem à última linha defensiva, tinha como objetivo passar segurança. Isso, pelo menos nos primeiros minutos, funcionou bem, com boa organização de coberturas para impedir dobradinhas palmeirenses pelos lados.

Outro aspecto que chamou a atenção positivamente foi o balanço defensivo. Muitas vezes, enquanto a bola era palmeirense no lado direito ofensivo, o lateral-esquerdo Enzo Díaz se descolava da linha e, no lado oposto, Cédric centralizava.
O mesmo ocorria do lado oposto, com coordenação. Quando o Palmeiras circulava a posse para a esquerda ofensiva, a linha de cinco defensores se tornava, momentaneamente, de quatro, com o lateral-direito Cédric pressionando o setor da bola.
Construção descalibrada
Ao lado do “balé defensivo”, estava uma orquestra desafinada para criar chances. Tudo que o Tricolor produzia ofensivamente (ou tentava) era sob muito custo, ou guerreando no meio de campo por uma bola que sobrou de algum embate aéreo – às vezes forçado até por um erro na saída são-paulina.
O roteiro era o mesmo, tiro de meta atrás de tiro de meta. Rafael, goleiro, saía curto com Arboleda, zagueiro centralizado. O equatoriano, que não tem o passe ou a condução entre seus melhores atributos, era deixado livre na maior parte dos momentos, propositalmente.

Ferraresi, pela direita, e Alan, pela esquerda, eram vigiados. Aliás, ao contrário do companheiro do Equador, o venezuelano e o argentino têm como característica uma técnica mais apurada, capaz de desequilibrar o sistema adversário com um passe preciso, quebrando a pressão, ou realizando um lançamento longo.
Com esse combo, o Palmeiras tinha uma armadilha para o São Paulo. A partir do momento que um dos volantes recuava para diminuir a distância entre os setores e aparecer como opção, a pressão palmeirense saltava, forçando erros, desarmando no campo de ataque ou invertendo a posse de bola.
Foi assim que, com discussão ou não sobre o mérito do pênalti, o Verdão criou a situação que permitiu Vitor Roque interceptar um passe ruim de Rafael. Cenário reafirmado até por Abel Ferreira, em coletiva de imprensa: “Nós tínhamos a pressão estudada. Dar um pouquinho de iniciativa a um dos zagueiros do nosso adversário, para depois, no momento e no gatilho de pressão certo, poder fazer o que fizemos no gol.”
Desestabilização e, por fim, eliminação
O São Paulo, em um lance de erros seguidos do setor defensivo, teve um pênalti contestável marcado contra. Com a cobrança no fundo das redes, todo o contexto mudou, e a infertilidade ofensiva ficou ainda mais clara.
O quarteto ofensivo badalado, de Oscar, Lucas, Luciano e Calleri, pouco pôde fazer. Sem sucesso na primeira fase de construção, uma sequência de passes forçados ocorriam, obrigando o centroavante argentino a se resumir a um brigador.
Oscar, recuado, ainda fez o jogo girar mais vezes, com muita sobriedade nas escolhas. Lucas, de arrancadas velozes e incansáveis, parou em faltas táticas palmeirenses.
E Luciano, que por vestir a camisa 10 pode ter criado imaginário de ser um armador, mais uma vez parecia fora de seu habitat: a área e seus arredores, onde pode usar a boa capacidade de finalizar ou tabelar mais próximo da meta rival.

O que restou ao Tricolor, logo, foi explorar cruzamentos, que, no fim das contas, somaram 15. Número que casa perfeitamente com os 17 realizados contra o Novorizontino, nas quartas de final, com os 12 frente ao São Bernardo, na 12ª rodada, ou os 23 diante da Ponte Preta, no jogo anterior.
Consequentemente, alçando bolas para Calleri e André Silva – que entrou no decorrer do segundo tempo -, a equipe de Luis Zubeldía perdeu qualquer controle que ensaiou ter. Dessa maneira, sem a linha de cinco defensiva, por até honrável senso de urgência, e com o meio desfacelado, qualquer contragolpe palestrino assustava.
E verdade seja dita: o Palmeiras esteve mais próximo de vencer por dois gols do que de sofrer o empate. Já o São Paulo, que no Paulistão empolgou em raros feixes de brilho, terminou a participação somando pontos, e nenhum deles capaz de reverter a situação do Choque-Rei.