Futebol: Sertão pernambucano pode ter seu primeiro campeão estadual
Salgueiro, fundado em 2005, enfrenta o Santa Cruz na final do Pernambucano








Pela primeira vez na história do Campeonato Pernambucano, um time do interior poderá ser campeão estadual. A responsabilidade histórica caberá ao modesto Salgueiro, que enfrenta o tradicional Santa Cruz no primeiro jogo da final, nessa quarta-feira, em Salgueiro, no sertão pernambucano, a pouco mais de 500 quilômetros de Recife. Muito mais do que um duelo entre David e Golias, a decisão pode significar para o Salgueiro a consagração da filosofia de um clube que mistura elementos da cultura sertaneja como um modelo de administração semiamadora. “Queremos mostrar que clubes de menor expressão podem unificar a competividade com a identificação da cultura local”, afirma o presidente Clebel de Souza Cordeiro. A classificação ocorreu após o clube eliminar, nas semifinais, a principal força futebolística do estado, o Sport.
Os gastos mensais do clube sertanejo, com apenas uma década de existência, estão em 161.680 reais por mês, cerca de um terço do preço do elenco do centenário Santa Cruz. Enquanto o time da capital Recife tem dezoito cartolas cuidando das responsabilidades do clube, o Salgueiro tem apenas quatro – apenas um funcionário tem dedicação exclusiva e remunerada para administrar o clube. “Organizo da segurança ao transporte, e inclusive eu mesmo já dirigi ônibus para levar o time para disputar campeonatos”, conta o ex-motorista e atual faz-tudo do Salgueiro, José Guilherme Alencar Ferreira. Todos os salários do Salgueiro estão em dia e o maior é de 7.000 reais. “Não há diferença técnica entre um jogador que recebe 3.000 reais no Salgueiro ou 20.000 reais em um clube de segunda ou primeira divisão. Parte do nosso sucesso é mostrar que só veste a camisa do clube quem tem garra e vontade de jogar”, diz o presidente Cordeiro.
Para tirar forças e vencer desafios, torcedores se espelham no mascote e escudo do time: a ave de rapina sertaneja Carcará. “O carcará simboliza a raça e resistência em condições difíceis. Ninguém pode com ele no sertão, assim como ninguém pode com o Salgueiro no futebol local”, fala o torcedor Tarcisio da Buzina, 49 anos. A identificação no clube é tão grande com a ave que salgueirenses chamam muito mais o time de Carcará do que pelo nome de batismo, Salgueiro. A frase “Pega, mata e come…”, da música Carcará, de Luiz Gonzaga e Zé Ramalho, estampa a camisa do clube, e enche o estádio Cornélio de Barros, com capacidade para 12.000 pessoas. Nos gritos de torcida, dominam os ritmos regionais, sejam da organizada Fúria do Sertão ou das rivais Lampiões da Fiel, do clube Serra Talhada.
Até 2005, o Salgueiro, fundado em 1972 por Ailton Souza, era um clube amador, mas em 2005 o clube já disputava a segunda divisão do Estadual. Segundo pesquisa da Pluriconsultoria, nenhuma cidade do Brasil mobiliza tanto os moradores locais quanto Salgueiro: em média 11,18% da população da cidade, com cerca de 65.000 habitantes, comparece aos jogos no Cornélio de Barros.