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Mundial de Clubes

Mazembe: a maior zebra da história dos Mundiais?

Em 2010, Adriano Silva, torcedor do Inter, foi a Abu Dhabi e narrou a "Tragédia Colorada" diante do clube do Congo na semifinal

Publicado por: Redação em 19/06/2025 às 07:30 - Atualizado em 19/06/2025 às 10:38
Mazembe: a maior zebra da história dos Mundiais?

Estádio Mohammed Bin Zayed, em Abu Dhabi, 14 de dezembro de 2010. Neste local e data foi registrada uma das maiores surpresas da história dos Mundiais (e a mais desagradável lembrança para o torcedor colorado). O até então desconhecido TP Mazembe, do Congo, bateu o Internacional por 2 a 0, com gols de Kabangu e Kaluyituka, na semifinal do Mundial de Clubes

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Esta foi a primeira vez que um clube brasileiro caiu antes da decisão no novo formato, a primeira eliminação diante de um africano (o Atlético-MG repetiria a dose em 2013 diante do marroquino Raja Casablanca). A dança do goleiro congolês Kidiaba e a frustração do craque colorado d’Alessandro foram destaque da edição de PLACAR de janeiro de 2011.

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Uma das grandes zebras dos Mundiais em todos os tempos, o Mazembe não conseguiu repetir a dose na final diante do outro Inter (a Inter, no caso, de Milão), e foi derrotada por 3 a 0, mas celebrou com orgulho o vice-campeonato mundial.

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Kaluyituka fez o segundo dos congoleses no ‘Mazembaço’ nos Emirados Árabes Unidos- Pier Giavelli/PLACAR

Na PLACAR, a “Tragédia Colorada” foi narrada por Adriano Silva, torcedor colorado que “tenta convencer o leitor (e a si próprio) de que vale a pena atravessar o mundo para ver seu time perder.”

“Tenho a felicidade de ter participado de uma jornada épica. Ajudei a compor a maior declaração de amor que uma torcida brasileira já deu ao seu clube – mais de 10.000 colorados em solo estrangeiro, transformando um estádio no meio do deserto, a 13.000 quilômetros de casa, no Beira-Rio. Aplaudi longamente um adversário que me venceu, no momento em que ele impôs ao meu clube uma das maiores tragédias da sua história. Mantive a hombridade diante do goleiro Kidiaba, com suas firulas, suas idiossincrasias e seus milagres dentro do campo”, escreveu Adriano Silva.

O torcedor do Inter considerou que Abu Dhabi foi o nosso Sarriá, o nosso Maracanazo”, mas manteve a tese de que tudo valeu a pena.  “Se você é que estiver na situação de ir, aqui lhe digo, desde já: vá. Não pense duas vezes. Não estamos falando de sair para jantar ou comer em casa, de escolher entre ir ao cinema ou ver o filme em DVD. Estamos falando de professar sua religião como se deve, de cumprir sua missão neste mundo como torcedor, de oferecer seu sacrifício pessoal aos deuses do futebol.”

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Jogadores do Mazembe dançam no triunfo sobre o Inter, em 2010- Pier Giavelli/PLACAR

O blog #TBT Placar, que todas as quintas-feiras recupera um tesouro de nossos 55 anos de acervo, reproduz na íntegra o texto sobre a derrota do Inter para o Mazembe.

Tempestade no deserto

Nosso enviado conta como foi a invasão colorada em Abu Dhabi. E tenta convencer o leitor (e a si próprio) de que vale a pena atravessar o mundo para ver seu time perder

Adriano Silva, de Abu Dhabi

Amigo torcedor, eu estive lá. Eu vi. Eu senti. E eis o que tenho a lhe dizer, na intenção de que você também possa viver um dia as intensas emoções de seguir seu time ao topo do futebol mundial – de onde ele, não se esqueça disso, pode cair na velocidade de um contra-ataque bem encaixado.

Tenho a felicidade de ter participado de uma jornada épica. Ajudei a compor a maior declaração de amor que uma torcida brasileira já deu ao seu clube – mais de 10.000 colorados em solo estrangeiro, transformando um estádio no meio do deserto, a 13.000 quilômetros de casa, no Beira-Rio. Aplaudi longamente um adversário que me venceu, no momento em que ele impôs ao meu clube uma das maiores tragédias da sua história. Mantive a hombridade diante do goleiro Kidiaba, com suas firulas, suas idiossincrasias e seus milagres dentro do campo.

Kidiaba – que, aliás, o Inter deveria contratar – me lembrou o Mazzaropi dos anos 80 (Danrlei, querido, você será sempre uma figura menor). Fui testado emocionalmente ao aprender que futebol não é controle do jogo, nem favoritismo, nem posse de bola. Nesses itens o Inter tem sido imbatível. Futebol, como diz Mano Menezes, “é bola dentro da caixinha”. O Inter perdeu quatro chances óbvias e cristalinas de gol. O Mazembe teve duas chances e converteu. Viva a endiabrada charanga congolesa, onde se viam algumas camisas do Grêmio amarradas a grossos pescoços de ébano.

Quando o placar do estádio mostrou que havia ali mais de 22.000 pessoas, e era claro que mais da metade do público era colorada, devíamos ter aplaudido a nós mesmos. Havíamos atravessado dois continentes, com algumas viagens chegando a 36 horas. Algumas torcidas brasileiras estão percebendo o tremendo papel que lhes cabe em apoiar o time incondicionalmente, em fazer a sua parte sem olhar para o placar. Esse novo torcedor sabe que o time não é o clube, que a paixão pelo escudo é maior que jogadores, técnicos e dirigentes. Esse é um amor que se cultiva a fundo perdido, uma relação em que se paga para ver, sempre.

Espero voltar outras vezes com o Inter à final do Mundial. Quem sabe já neste ano, e patrolando o Grêmio na semifinal da Libertadores, no que seria o Grenal do Milênio, para lavar de vez a alma. Se você é que estiver na situação de ir, aqui lhe digo, desde já: vá. Não pense duas vezes. Não estamos falando de sair para jantar ou comer em casa, de escolher entre ir ao cinema ou ver o filme em DVD. Estamos falando de professar sua religião como se deve, de cumprir sua missão neste mundo como torcedor, de oferecer seu sacrifício pessoal aos deuses do futebol.

Minha jornada de fé começou no domingo, dia 12. Deixei família e empresa para trás e embarquei às 19h num avião da South African. Cheguei a Dubai às 9h de terça, num avião da Emirates, depois de passar a segunda como um zumbi num city tour em Joanesburgo, na África do Sul, com uma guia portuguesa racista, ainda inconformada com o fim do apartheid. Claro que não dormi nos dois voos – tente resistir a essa tentação e durma. Quando arrumava a mala rumo ao Oriente Médio, tratei de não levar nada azul e nenhuma referência à África ou à Itália. Percebi também que tenho 11 camisas diferentes do Inter – uma a mais em relação aos dez dias de duração do pacote. Só ali me dei conta de que tinha tantas. E só ali compreendi na íntegra a razão de tê-las.

Três horas antes do fatídico jogo contra o Mazembe, os ônibus começaram a despejar colorados no largo diante do estádio do Sheik. O retrato da invasão colorada se revelou pela primeira vez, inclusive para quem estava lá – éramos de fato uma horda inédita, de milhares de guerreiros, conquistando solo estrangeiro. Valdomiro circulava entre os torcedores, distribuindo sorrisos e autógrafos. Alguém emprestou um CD da banda Ataque Colorado ao DJ da Fifa que comandava tudo de cima de um palco central e o mar vermelho delirou com os hinos colorados. Se o Inter tivesse ganhado, aquilo viraria uma rave sem precedentes e sem hora para acabar.

Um amigo que se convenceu a vir a partir da minha decisão de comprar o pacote – por volta de 8000 reais, em dez vezes no cartão – me dizia com os olhos brilhando, ao lado da mulher, no estádio: “Tudo isso só está acontecendo com a gente por sua causa”. A gratidão dele, que não mereço, sobreviveu aos dois gols do Mazembe. Ele tinha percebido a dimensão histórica de estar ali. Esse é o espírito. Como bem disse um colorado, reproduzido pelo jornal gaúcho Zero Hora, numa das edições especiais rodadas em Dubai: “Prefiro mil vezes perder em Abu Dhabi do que ganhar em Recife”, numa alusão ao feito considerado “inacreditável” pelos gremistas – escapar de mais um ano na segunda divisão.

Abu Dhabi foi o nosso Sarriá, o nosso Maracanazo. Uma noite em que vi pai chorar pela primeira vez na frente do filho pequeno, namorados soluçando abraçados. Diante de tudo isso, fico com o colorado que por questões de agenda só comprou a passagem, para a família toda, para o dia 15 de dezembro. Esse cara é a epítome de todos nós. Deveríamos carregá-lo em triunfo quando chegasse a Dubai.

Eis o que, por fim, quero lhe dizer, amigo torcedor: celebrei a minha paixão, mostrei devoção, dei a cara a bater e fui para o pau com meus ídolos e meus pares. É o que lhe desejo, quando for a sua vez. Nós, os colorados, estivemos todos juntos, de mãos dadas, no mesmo barco. E isso foi maravilhoso. É preciso correr os riscos e dar o seu quinhão. É preciso, enfim, merecer a vitória. Mesmo quando ela não vem. E saber que, dentro da grande magia cíclica do futebol, a grande derrota prenuncia o êxito seguinte – e vice-versa. Esteja o Inter encerrando ou não o seu ciclo de vitórias, eu estarei aqui.

E é isto que lhe recomendo: vá.

Soberba ou cautela?

Há controvérsias se o fiasco colorado se deu pelo salto alto ou por calçar as sandálias da humildade

Sérgio Xavier Filho

Arrogância, prepotência, presunção. Soberba. Boa parte da torcida justificou assim a mãe de todas as decepções na história colorada. Um segmento respeitável da imprensa trilhou o mesmo caminho. O Inter teria dançado no Mundial por desprezar o Mazembe e achar que já estava na final contra a Inter italiana. Os fatos oferecem uma versão contrária. Para enfrentar o clube do Congo, o Internacional preparou um volumoso dossiê com análises táticas e informações dos adversários. A motivação era total. Dois dias antes da partida, Bolívar chamou o dirigente Fernando Carvalho para uma conversa em seu quarto. Carvalho, que estava deixando a diretoria após a troca de presidência, foi surpreendido quando viu que havia ali um “complô”.

Guiñazu, Sóbis, Kleber, D”Alessandro e Andrezinho também estavam lá, pedindo para o cartola seguir no clube. Segundo Adroaldo Guerra Filho, da rádio Gaúcha, Carvalho foi às lágrimas e topou seguir em 2011 como assessor de futebol. A união se solidificava também pela generosidade do clube. Os 4 milhões de dólares da premiação seriam divididos entre jogadores e comissão técnica. Todos sabiam que era preciso passar antes pelo Mazembe. No fatídico 14 de dezembro, Celso Roth armou uma equipe cautelosa.

O Inter abafava nos primeiros minutos, mas depois não mostrava urgência para acabar com o jogo. Os relatórios e o próprio teipe da partida contra o Pachuca diziam que os africanos se cansavam e se desorganizavam no segundo tempo. Valia a pena evitar afobação. A ansiedade com o gol que não saía mostrou jogadores nervosos, não arrogantes. Sóbis perdeu gols que não costuma perder, Tinga errou passes que não costuma errar, Bolívar deu botes surpreendentemente equivocados. O primeiro gol do Mazembe apenas transformou o nervosismo em pânico. Na melancólica decisão do terceiro lugar, tudo deu certo, num 4 x 2 contra o Seongnam Ilhwa. Talvez o Colorado nunca descubra o que deu errado em Abu Dhabi. A única certeza é que o fracasso jamais será esquecido no Beira-Rio e fora dele.

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