Messi foi aplaudido em sua estreia no Brasil. Como será na despedida?
Aos 36 anos, craque volta ao Maracanã — onde perdeu uma final histórica e ganhou outra —, para encerrar uma relação íntima, de idas e vindas, com os brasileiros
RIO DE JANEIRO – Lionel Messi desembarcou nesta segunda-feira, 20, no Rio de Janeiro, para aquele que deve ser seu último compromisso em solo brasileiro. Aos 36 anos, consagrado como campeão do mundo e um dos maiores jogadores de todos os tempos, o craque será a grande atração do duelo entre Brasil e Argentina de terça-feira, 21, no Maracanã, pela sexta rodada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa de 2026, e, à despeito da rivalidade histórica entre os países, pode receber o mesmo tratamento de sua estreia, há 15 anos: aplausos e reverência.
A primeira vez de Messi no Brasil foi no Mineirão, em Belo Horizonte, em 18 de junho de 2008, em clássico pelas Eliminatórias da Copa da África do Sul. O Brasil vinha em má fase depois de perder para Paraguai e Venezuela, e, por isso, o humor da torcida em BH não era dos melhores. Na ocasião, Messi tinha apenas 20 anos, vestia a camisa 18 e ainda era conhecido como o pupilo de Ronaldinho no Barcelona.
O craque, no entanto, foi o melhor em campo, com sobras, no empate em 0 a 0 garantido por boas defesas do goleiro Júlio César. Num misto de apreço pelo talento do argentino e de fúria contra o time dirigido por Dunga, Messi teve seu nome gritado e deixou o jogo aplaudido, enquanto o técnico brasileiro enfrentou o coro de “burro.”
A história do futebol comprova que a admiração por gênios como Pelé, Maradona, Cruyff, Ronaldo e tantos outros costumam transcender fronteiras e rivalidades, mas a relação de Messi com o Brasil sempre foi especial. Primeiro, começou na amizade com veteranos do Barcelona como Ronaldinho, Deco, Sylvinho e Thiago Motta, que o “adotaram” em seus primeiros anos de profissional. Já consagrado, teve em Neymar um de seus grandes parceiros, no histórico trio MSN que ainda contava com Suárez.
As aparições no Brasil também serviram para aproximá-lo da torcida “inimiga”. Somando Eliminatórias, Copas América e Copa do Mundo de 2014, Messi fez 22 jogos no Brasil, com 13 vitórias, cinco empates e quatro derrotas e nove gols marcados. O Mineirão foi o palco mais habitual, com cinco aparições, marca que será igualada nesta terça no Maracanã. No templo carioca, Messi viveu duas sensações distintas: a perda do Mundial de 2014, diante da Alemanha, 1 a 0 na prorrogação; e o título da Copa América de 2021, diante do Brasil, sem torcida no estádio, encerrando um jejum de títulos da seleção que já durava 28 anos.
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Idas e vindas na relação
Na Copa América de 2019, vencida pelo Brasil, depois de bater a Argentina por 2 a 0 na semifinal, Messi viveu seu momento de maior conflito com os vizinhos ao denunciar, em raro momento em que fugiu ao perfil discreto, um suposto complô a favor dos anfitriões. “Sem dúvidas, lamentavelmente, creio que está armado para o Brasil. Tomara que os árbitros e o VAR não interfiram e que o Peru possa competir, porque tem time pra isso. Mas vai ser difícil”, afirmou, depois de ser expulso na decisão de terceiro e quarto lugares, diante do Chile, em São Paulo.
Na ocasião, milhares de brasileiros foram ao estádio do Corinthians apenas para ver Messi, mas foram surpreendidos com o cartão vermelho precoce, após bate-boca com Gary Medel, hoje no Vasco. As falas de Messi geraram revolta no técnico Tite. “Aquele a quem reputei como extraordinário, extraterrestre, tem que ter um pouco mais de respeito. Tem que entender e aceitar quando é derrotado. Fomos prejudicados em uma série de jogos. Tome cuidado com o que falar. Botou pressão muito grande pela grandeza que tem”, afirmou o então técnico da seleção brasileira, com quem Messi bateu boca em campo em outra ocasião.
O tempo passou e o título da Copa América de 2021 ajudou a estreitar a relação com os brasileiros. O gesto de Neymar, que apesar da truculência dos rivais na final, fez questão de cumprimentar o amigo e até se divertir diante de seu alívio por, enfim, ter conquistado um título, foi visto com simpatia em ambos os países. Na ocasião, Messi também teve um gesto de esportividade e respeito ao exigir que Rodrigo de Paul e outros colegas parassem de cantar uma famosa música de provocação aos brasileiros e a Pelé no campo do Maracanã.
Ainda no Maracanã, alguns jogadores argentinos tentaram puxar uma provocação ao Brasil, mas parece que Messi não gostou muito da Ideia.
A música era:
"Brasilero, Brasilero
que amargado se te ve
Maradona es más grande,
es más grande que Pelé" pic.twitter.com/jVMLYwPcGT— PHOTO EDIT FUT 📷 (@photoeditfut) July 12, 2021
A final da Copa do Mundo no Catar dividiu torcedores brasileiros. Boa parte disse ter torcido pelo maior rival justamente para ver Messi chegar ao topo, algo que o camisa 10 fez questão de exaltar ao receber, recentemente, sua oitava Bola de Ouro. “Quero fazer uma menção especial a todas as pessoas que acompanharam a minha carreira e tinham o desejo de que eu fosse campeão do mundo, que eu conquistasse o sonho que me faltava, recebi muito carinho, e foi muito especial que pessoas de diferentes nacionalidades queriam que a Argentina fosse campeã…”, discursou, em Paris.
Em entrevista ao repórter brasileiro Marcelo Bechler, da TNT, Messi foi mais direto. “Sim, eu já sabia que os brasileiros tinham muito carinho por mim, mas daí a torcer pela Argentina na Copa era algo que eu não esperava. Aconteceu o mesmo em muitos países sul-americanos, da Ásia, da África, na Europa… Fico muito agradecido, pude sentir este carinho.”
Brasil e Argentina realizam seus últimos treinos preparatórios nesta segunda-feira, na Granja Comary e em Ezeiza, respectivamente. Os campeões do mundo viajara,m ao Rio de Janeiro no fim da tarde. O provável último jogo de Messi e também de seu melhor sócio, Ángel Di María, em solo brasileiro terá casa cheia (os 69.000 ingressos colocados à venda já foram esgotados) e início marado para às 21h30 (de Brasília), na terça, 21.
Após cinco rodadas, a Argentina lidera as Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa de 2026 com 12 pontos, seguida por Uruguai (10) e Colômbia (9). O Brasil, com 7 pontos, é o quinto colocado. O Brasil jamais perdeu uma partida em casa pelas Eliminatórias – são 51 vitórias e 13 empates.
Prováveis escalações:
Brasil: Alisson; Emerson Royal, Marquinhos, Gabriel Magalhães e Carlos Augusto; André e Bruno Guimarães; Martinelli, Gabriel Jesus, Rodrygo e Raphinha.
Argentina: Emiliano Martínez; Nahuel Molina, Cristian Romero, Nicolás Otamendi e Nicolás Tagliafico; Rodrigo De Paul, Alexis Mac Allister e Enzo Fernández; Lionel Messi, Lautaro Martínez (Julián Álvarez) e Ángel Di María (Nicolás González).
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