Lições não aprendidas em pênaltis: especialista critica brasileiros
Assim como na Copa do Catar, seleção deixou a Copa América sem saber lidar com ‘o chute mais decisivo da carreira’; confira entrevista com o autor norueguês Geir Jordet
A disputa de pênaltis não é uma ciência exata, tampouco uma loteria. A análise de dados aponta o canto preferido dos batedores, a força que ele emprega na bola e até seu com portamento diante do placar adverso, por exemplo. Nada disso basta sem um acompanhamento psicológico para “o chute mais importante de suas carreiras”.
A análise é do norueguês Geir Jordet, autor de Pressão: lições da psicologia na disputa de pênaltis (tradução livre), em que é possível perceber uma semelhança crucial nas eliminações da seleção brasileira diante da Croácia na Copa do Mundo do Catar, em dezembro de 2022, e do Uruguai na Copa América nos Estados Unidos, em julho deste ano. Há alguns fatores por trás das batidas ruins de Rodrygo e Marquinhos, Éder Militão e Douglas Luiz.
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Em ambas as situações, os auxiliares Cléber Xavier e Lucas Silvestre tomaram a palavra no círculo formado pelos atletas antes da disputa. Ali, os jogadores olhavam atentamente para as instruções previstas em um pedaço de papel ou em um tablet. O problema é que nem Tite nem Dorival Júnior, os comandantes do grupo, se comunicaram corretamente com seus jogadores. Pelo contrário, ficaram alheios ao momento.
Ainda nos EUA, Dorival minimizou a questão, se irritou com as críticas e disse não ver problemas em delegar tal função ao auxiliar.
“Os brasileiros, talvez mais que os europeus, querem essa conexão. Pelo menos dê a eles um contato visual. Faça-os acreditar no processo que foi treina do e que aquilo dará certo”, disse Jordet, que analisou todas as 35 disputas de pênaltis que aconteceram em Copas do Mundo até agora e por isso se lembra bem da vibração de Mario Jorge Lobo Zagallo nas semifinais contra a Holanda, em 1998.
“Esse exemplo, o olho no olho de Zagallo com seus jogadores em momento de tanta pressão, era um dos que poderiam ser seguidos”, analisou.
Jordet explicou que há formas de treinar a cabeça para a tensão da marca da cal e elogiou as novidades promovidas pela Inglaterra do técnico Gareth Southgate na Euro – no triunfo sobre a Suíça, cada batedor tinha um companheiro designado para deixar o círculo central e cumprimentar o colega após a cobrança, entre outros macetes.
“Não digo que todo time tenha que ter um psicólogo. Digo que todo time tem que ter um psicológico bom. Pode reparar que os jogadores recebem água, isotônicos, suplementos alimentares, relaxamento, massagem, diversas ações para suas necessidades físicas, mas você não vê aspectos psicológicos sendo tratados ali. Há um abismo nessa relação”, disse.
Os cinco nomes ideais para uma disputa de pênaltoi
- Ivan Toney
- Robert Lewandowski
- Neymar
- Lionel Messi
- Gabigol
- Edwin van der Sar (goleiro)
Jordet, estudioso em cobranças de pênaltis, foi provocado por PLACAR a escolher os cinco batedores ideias em seu hipotético time além do goleiro. A pergunta arrancou risos do especialista em psicologia do esporte. Depois de alguns minutos de reflexão, a resposta surpreende não propriamente pela qualidade dos batedores, mas por seu comportamento na marca da cal.
Apesar dos elogios ao argentino Emiliano Dibu Martínez, pela forma como controla os batedores mentalmente, no gol, a escolha é pelo hoje aposentado Edwin van der Sar.
“Entre os batedores, fica uma decisão chata, mas tem que ser uma decisão chata pelo comportamento que ele tem na cobrança de pênalti está em um outro nível: Ivan Toney, da seleção inglesa e do Brentford. Para essa seleção, escolheria também jogadores que conhecem as técnicas dos goleiros e esperam que eles tomem decisão por eles como Lewandowski, Neymar, Messi, Gabi Barbosa [Gabigol], que é um dos meus favoritos também”, disse.
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