Corinthians x Palmeiras: quem tem razão na briga pelos números do dérbi
Clube alvinegro pode superar o eterno rival no retrospecto geral do clássico; palmeirenses contestam as estatísticas

Corinthians e Palmeiras fazem neste domingo, 4, em Itaquera, a partir das 19h, um dérbi que pode ser histórico do ponto de vista estatístico. Pela primeira vez em mais de cinco décadas, o clube alvinegro pode ultrapassar o rival em número de vitórias no principal clássico da capital paulista. O duelo está empatado em 127 vitórias para cada lado, com mais 106 empates, em 360 encontros. O Palmeiras contesta a conta e apresenta seus próprios números, que lhe dão vantagem. Mas afinal, quem tem razão?
O Palmeiras adota critérios estatísticos diferentes de todos os seus rivais. O clube alviverde contabiliza 370 jogos contra o Corinthians, com 131 vitórias, 129 derrotas e 110 empates. A diferença de dez jogos se dá pelo fato de o Palmeiras considerar duelos do Torneio Início do Campeonato Paulista e pelo Troféu Henrique Mündel, competição organizada em 1938 para angariar fundos para o São Paulo.
O Corinthians, assim como São Paulo e Santos, não contabiliza estes confrontos porque as partidas tiveram duração reduzida, como 15 e 30 minutos, e critérios de desempate pouco convencionais como número de escanteios. O jornalista Celso Unzelte, historiador do Corinthians e autor do “Almanaque do Corinthians”, explica sua posição.
“O Palmeiras está na contramão da história, as estatísticas dele não batem com a de nenhum outro clube. É uma situação mais ampla que o dérbi. O que agrava essa questão é o fato de a diferença do Palmeiras, que era muito grande, só existir hoje graças ao Torneio Início. Cada um tem sua opinião e critérios, eu respeito, mas acho que esses jogos não devam ser contabilizados.”
Fernando Gallupo, historiador do Palmeiras, diz que o clube contabiliza os jogos de Torneio Início por considerá-lo uma “competição oficial organizada e chancelada pela entidade máxima do futebol estadual, com regulamento definido, premiação e arbitragem”, entre outros fatores. Gallupo negou que tenha alterado seu critério devido à aproximação do Corinthians no retrospecto e transferiu a responsabilidade para o próprio “concorrente”.
“Desde o primeiro trabalho licenciado, o Almanaque do Palmeiras, publicado pela editora Abril em 2004, os jogos do Torneio Início foram contabilizados. Inclusive, o Almanaque do Corinthians mantinha o mesmo critério, e ambos foram produzidos pelo mesmo autor, o jornalista Celso Unzelte.”
Unzelte se defende. “De fato, quando fiz estes almanaques, contabilizei os jogos do Torneio Início. Mas meu objetivo naquelas obras era dar o máximo de informações possível. Posteriormente, cheguei a um acordo com o próprio Palmeiras de desconsiderar esses jogos, justamente pelo fato de nenhum outro clube fazê-lo. Me dei por vencido, porque considerei que do ponto de vista estatístico não se deve contar jogos de tempo não regulamentar.”
O jornalista Paulo Vinicius Coelho, estudioso da história do futebol e autor de livros sobre a rivalidade, concorda com Unzelte. “Para mim, jogos de Torneio Início não devem entrar na conta.” Não há, no entanto, um critério “oficial”, já que entidades como CBF e Federação Paulista de Futebol (FPF), só apresentam dados das competições que organizam, excluindo informações sobre amistosos e outros torneios. Caso semelhante ocorre na rivalidade entre as seleções de Brasil e Argentina, que têm contas diferentes – a que mais lhe beneficia, evidentemente.
Ao menos, os dois clubes concordam em desprezar no levantamento um triunfo do Corinthians por W.O. pelo Campeonato Paulista de 1923. A última vez em que o clube da zona leste, que venceu o único dérbi de 2019, no Campeonato Paulista, apareceu à frente nas estatísticas foi em dezembro de 1966.