Shakhtar Donetsk: a realidade ucraniana em meio à guerra com a Rússia
À PLACAR, os brasileiros Pedrinho e Marlon Gomes relatam episódios com sirenes e bombas e destacam as dificuldades logísticas para jogar a Champions
A guerra entre Rússia e Ucrânia já dura mais de dois anos e ainda não tem previsão alguma para um desfecho. Há expectativa, no entanto, que a reunião da cúpula do G20, que acontece nesta semana do dia 20, terça-feira, possa ajudar em certa medida. Naturalmente, a guerra afeta todos os setores dos país ucraniano e o futebol não fica de fora. À PLACAR, os jogadores brasileiros Pedrinho e Marlon Gomes conversaram com exclusividade e relataram as dificuldades logísticas do Shakhtar Donetsk em meio à guerra, além de episódios com sirenes e bombas.
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“O jogo contra o Dnipro para mim foi marcante. A sirene não parava de tocar, de cinco em cinco minutos. O jogo rolava cinco minutos, sirene, parava e bunker. E também uma vez que eu estava em casa e foi uma das primeiras vezes que eu escutei uma bomba, e no dia seguinte eu soube que caiu a uns 20km do meu apartamento”. Essa é uma das histórias que conta Marlon Gomes. O meio-campista é um dos sete brasileiros que integram o elenco do Shakhtar Donetsk na atual temporada e que tem visto de perto as dificuldades do conflito Rússia e Ucrânia.
Ex-Vasco, Marlon chegou ao time ucraniano no início deste ano, quando a guerra já completava dois anos de duração. O meia de 20 anos conta que conversou com conhecidos (Eguinaldo e Kevin) para entender a situação antes de concretizar sua ida. Mais tarde, em junho, o Shakhtar ganhou também o retorno de Pedrinho, que estava emprestado ao Atlético-MG.
“Foi uma decisão muito difícil de vir para cá. Perguntei como estava a situação, disseram que estava mais tranquilo, que ficaríamos mais perto da Polônia. Resolvi vir para cá pelo projeto de competição do Shakhtar, disputar a Champions. Era um sonho para mim”, conta Marlon.
“A gente tenta se ajudar ao máximo, o nosso maior psicólogo é nós mesmos. A gente se ajuda, a gente se abraça, um está triste e o outro te levanta, a gente brinca e se diverte na medida do possível”.
O Shakhtar Donetsk é o único ucraniano na Champions League. Sem poder jogar dentro do próprio país, a equipe ucraniana tem adotado Gelsenkirchen, Alemanha, como casa e mandado os jogos na Veltins-Arena. Nas temporadas anteriores, Hamburgo, na Alemanha, e Varsóvia, Polônia, também receberam o time laranja.
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Uma das principais dificuldades deste cenário é a logística. A delegação do Shakhtar precisa sair da Ucrânia de ônibus e cruzar a fronteira com a Polônia para então pegar o avião: “Não é a quantidade de viagens, mas sim a quantidade de horas que a gente passa viajando. Sempre são umas oito horas de ônibus e mais três horas de avião, e repete para voltar. Tem jogos dentro da Ucrânia que são 13 ou 14 horas de ônibus. As locomoções são o mais complicado”, conta Pedrinho.
Em meio a guerra, o espaço aéreo do país foi fechado e não se pode viajar de avião, o que torna as viagens longas e extremamente cansativas.
A maior dificuldade dos brasileiros
“Apesar das viagens e logística ruim, a distância da família é o grande problema para nós, brasileiros. Quando a gente jogava no Brasil, ficávamos um ou dois dias longes, por conta de uma concentração ou viagem mais longa, mas tanto tempo assim… e tem dia que o psicológico tá ruim, às vezes a gente perde ou não joga tão bem, e longe da família é mais complicado”, desabafa Marlon.
Os brasileiros moram em Lviv, maior cidade da região oeste do país, enquanto as famílias seguem no Brasil por questões de segurança. A dupla conta que jogar a Champions League tem se tornado um escape para matar a saudade dos mais queridos: “É nossa maior felicidade, porque viajamos para outro país e aí podemos nos encontrar com alguns familiares. A gente tenta se ajudar ao máximo, o nosso maior psicólogo é nós mesmos. A gente se ajuda, a gente se abraça, um está triste e o outro te levanta, a gente brinca e se diverte na medida do possível”.
A rotina da guerra Rússia e Ucrânia
Apesar das tensões, a dupla brasileira conta que os episódios com mísseis e bombas são raros. Juntos, ao longo do ano, precisaram uma vez descer as escadas do hotel, às pressas, para passarem a noite no bunker. Eles contam que utilizam o aplicativo de comunicação dos ucranianos, que trocam mensagem e enviam alertas em caso de bombas.
“Dependendo do lugar a gente sente as tensões, algumas vezes toca até a sirene. Sobre destroços, poucas vezes passamos por cenários assim, mas a gente sempre fica em alerta”.
“Não que não seja pesada uma guerra, mas as reportagens aí no Brasil chegam muito fortes, deixam nossos familiares apreensivos. A gente que vive aqui tem muito medo, passamos por algumas cenas fortes, mas é uma vida normal. Vamos no mercado, no shopping, e se tocar a sirene, os lugares fecham por 10 ou 15 minutos. Se não tiver ataque, tudo volta ao normal. As pessoas vivem normal aqui, acho que já se acostumaram com isso. Para nós o começo foi bem difícil, mas essa é a nossa vida também agora”, completa Marlon Gomes.