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Londres, estrondoso sucesso, se despede, ‘feliz e gloriosa’

Foi assim que presidente do COI definiu a Olimpíada, encerrada numa divertida festa neste domingo. Os Jogos já figuram entre os mais memoráveis da história

Os britânicos surpreenderam a todos – e a si mesmos – com uma torcida barulhenta e uma recepção inesperadamente calorosa aos visitantes. Londres, uma das metrópoles mais cosmopolitas do planeta, recebeu gente de todas as partes tratando-as sempre da mesma maneira: com cordialidade e simpatia, ainda que na medida britânica desses atributos

A conta foi alta, a expectativa era enorme e a responsabilidade, maior ainda. Mas nem os britânicos mais otimistas – e não é tão fácil achá-los em meio a uma população que não costuma ficar satisfeita com pouca coisa – esperavam um desfecho tão positivo. Depois de um investimento de 9,3 bilhões de libras (o equivalente a quase 30 bilhões de reais), uma operação de guerra para manter a cidade funcionando com mais de 1 milhão de pessoas a mais nas ruas e um projeto revolucionário, que transferiu o foco do presente para o futuro, a Olimpíada de Londres foi encerrada neste domingo com uma bela e divertida cerimônia – e com a conclusão de que o esforço e os gastos valeram a pena. Ainda nem se fala em legado: esse foi um dos pilares da empreitada olímpica londrina, mas é impossível saber quais benefícios serão sentidos pela população daqui para frente. De qualquer forma, a imagem deixada pela Grã-Bretanha em seu primeiro grande evento esportivo internacional desde a Copa do Mundo de 1966 (e em sua primeira Olimpíada desde 1948) é a de um país moderno, dinâmico, aberto e multicultural. Com uma rara mistura de charme e eficácia, os britânicos conquistaram os visitantes, que foram quase unânimes nos elogios à festa. Ao fim de quase todas as Olimpíadas, discute-se se aqueles Jogos foram os melhores de todos os tempos. Por ser uma questão impossível de responder de forma objetiva, nem deve ser abordada. Não se deve comparar, quesito a quesito, Londres com outras concorrentes bem-sucedidas, em função das peculiaridades de cada um e do contexto em que sediaram os Jogos. Ainda assim, fica claro que esta edição, a trigésima da era moderna, está, de fato, entre os sucessos mais estrondosos da história olímpica.

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“Quando nosso momento chegou, fizemos tudo certo”, festejou Sebastian Coe, presidente do Comitê Organizador de Londres 2012, em seu discurso na cerimônia deste domingo no Estádio Olímpico. “Foram Jogos felizes e gloriosos”, emendou Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI). Os pronunciamentos dos cartolas resumiram bem o que foi a Olimpíada. Com execução próxima da perfeição, o projeto olímpico incluiu diversos aspectos elogiáveis, a começar pela iniciativa de revitalizar uma região desprezada da cidade. Houve ainda grande investimento na sustentabilidade e um combate implacável ao desperdício, através do uso de arenas temporárias em vez da construção de elefantes brancos. Temia-se um caos no trânsito, mas os focos de problema foram isolados – quase todos os envolvidos nos Jogos, incluindo autoridades e convidados de honra, preferiram usar o transporte público, que foi beneficiado com um ambicioso projeto de modernização. Na parte técnica e logística, portanto, Londres sai de sua prova de fogo com uma nota altíssima. Havia dúvidas, contudo, sobre o fator humano. No decorrer das obras para 2012 – e em função dos incômodos que elas traziam ao cotidiano -, os londrinos reclamaram muito, demais, sem parar. Como fazer uma Olimpíada de sucesso se o cenário era perfeito, mas o público não queria entrar na festa? A preocupação provou-se infundada. Os britânicos surpreenderam a todos – e a si mesmos – com uma torcida barulhenta e uma recepção inesperadamente calorosa aos visitantes. Londres, uma das metrópoles mais cosmopolitas do planeta, recebeu gente de todas as partes tratando-as sempre da mesma maneira: com cordialidade e simpatia, ainda que na medida britânica desses atributos.

Havia um momento, entretanto, em que os anfitriões deixavam que a emoção corresse solta. Bastava avistar nas quadras, pistas e piscinas um atleta vestido com o uniforme do “Team GB” – a delegação olímpica que reuniu, em clima de harmonia, os ingleses, escoceses, galeses e norte-irlandeses – para a torcida local ir à loucura. Na vitória de Jessica Ennis, uma descendente de jamaicanos, no heptatlo, o ruído no Estádio Olímpico era equivalente a ficar ao lado de um helicóptero pronto para decolar. No triunfo de Mo Farah, nascido na Somália e criado na capital britânica, os decibéis medidos na pista chegaram ao patamar de uma turbina de avião. Com tamanho incentivo e confiança, a equipe britânica disparou no quadro de medalhas: fez sua melhor campanha desde 1908, terminando em terceiro lugar (Estados Unidos e China foram os dois primeiros). O primeiro-ministro David Cameron já prometeu manter o mesmo nível de investimento nos esportes olímpicos no futuro, evitando que as marcas de 2012 sejam apenas um caso isolado de sucesso. O legado esportivo, aliás, foi uma das grandes bandeiras dos Jogos, que pretendiam envolver mais jovens e crianças na prática esportiva. Era outro objetivo de que se duvidava. O clima de euforia que cercou as duas semanas de Olimpíada, porém, dá pistas de que novos heróis como Jennifer Ennis e Mo Farah aparecerão nas próximas delegações britânicas nos Jogos. Mais do que um avanço esportivo, enxerga-se na Grã-Bretanha que se despediu dos Jogos neste domingo um país mais orgulhoso de sua história e confiante em sua capacidade de inovar e surpreender. Depois de tantas incertezas e hesitações, é difícil pensar num legado melhor que esse.

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