A tempestade perfeita
Estamos em um momento único do futebol brasileiro, no qual todas as variáveis nos permitem ter convicção de um futuro promissor
Tempo esquisito no Rio de Janeiro… Estamos em outubro e o inverno ficou para trás. Mesmo assim, olho pela janela e vejo um Rio chuvoso, frio, repleto de trovoadas e ventos. As tempestades viraram parte da rotina do carioca nos últimos dias, fazendo da capa e do guarda-chuva inquilinos permanentes em nossos carros, nossas mochilas. Quando a tempestade vem, nos aborrecemos, refletimos e torcemos para que ela passe logo. É nessa busca incessante por dias melhores, ensolarados e prósperos que encaramos as tempestades e renovamos as esperanças. É o que nos move. Agora, pergunto ao leitor: será que não seríamos mais felizes se soubéssemos que existe uma tempestade perfeita? Uma tempestade onde os astros e todas a variáveis estivessem alinhadas para garantir um dia de amanhã verdadeiramente abundante, repleto de conquistas e que do solo florescesse o que há de mais nobre e valioso? Pois bem, a tempestade perfeita existe, e ocorre dentro do futebol brasileiro!
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Por aqui, é bom lembrar, foram anos debaixo de muita chuva. Do famoso Campeonato Brasileiro de 1987, passando pela Copa João Havelange de 2000, pela implosão do Clube dos 13 até a consolidação do Campeonato Brasileiro da Série A com 20 clubes em 2006. Nessa época, a tempestade estava longe de ser perfeita. Nossos clubes continuavam a permitir desmandos de dirigentes, as dívidas das agremiações se arrastavam por gerações, os campeonatos terminavam nos tribunais… Sabíamos que no dia seguinte, no campeonato seguinte, as práticas seriam as mesmas e que, invariavelmente, venceria aquele com maior envergadura política, sobrepondo o desempenho desportivo. Eram dias nublados.
De uns tempos pra cá, o futebol brasileiro amadureceu. Veio o Estatuto do Torcedor, surgiram os “cases” de sucesso e, na esteira da Copa do Mundo, vieram as arenas. A Série D ampliou seu leque para 64 clubes, a Série C atingiu um formato altamente competitivo, com elevado apelo comercial, e a Série B passou a ser constantemente frequentada por grandes clubes, se tornando um excelente produto para a televisão. A Copa do Brasil se transformou em um fenômeno desportivo e financeiro e o Campeonato Brasileiro virou uma competição estável, competitiva e de altíssimo valor agregado. A tempestade, porém, ainda não era perfeita. Seguíamos incertos quanto ao futuro e não poderíamos ter a segurança de um amanhã abundante.
Chegamos a 2022 e os astros e todas as variáveis finalmente se alinharam. Temos hoje a Lei da SAF e a Lei do Mandante, permitindo uma injeção de capital sem precedentes nos clubes e a simplificação da venda de direitos televisivos. A discussão de uma eventual Liga de 40 clubes se dá em níveis de maturidade jamais vistos. A dívida dos clubes, aliada à pressão por resultado desportivo e do próprio mercado, passou a ser prioridade. Os programas de centralização e parcelamento dessas dívidas, associado à busca por dívidas “boas”, hoje são uma realidade. A quantidade de clubes profissionais no Brasil, algo em torno de 700, é um campo de oportunidades ao mesmo tempo em que se observa uma seleção natural. Sobreviverão os mais fortes, os mais estruturados.
A tempestade perfeita está aí! Estamos em um momento único do nosso futebol, onde todas as variáveis nos permitem ter convicção de um futuro promissor. Essa chuva irá nutrir nosso solo fértil e precisaremos estar dispostos a enfrentá-la sem capa, sem guarda-chuva, pois dela poderemos sugar grande aprendizado. Chegou a hora de sair de casa e se molhar. Todos aqueles que se prepararam e que verdadeiramente amam esse esporte devem assumir esse compromisso. Pois somente assim os dias nublados ficarão para trás e enfim iremos florescer para o mundo.
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