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‘Me preparo para chegar à Champions’, diz Zanardi, técnico do São Bernardo

Destaque do Paulistão, treinador de 44 anos foca agora na disputa da Série C; à PLACAR TV, ele revelou alguns métodos e exaltou "estágio" com Sampaoli

Márcio Zanardi é um dos nomes mais promissores da nova geração de técnicos brasileiros. Aos 44 anos, em sua primeira experiência como treinador principal, ele levou o São Bernardo ao título da Copa Paulista de 2021, ao acesso à Série C do Brasileirão no ano passado e em 2023 já iniciou o ano com a segunda melhor campanha da primeira fase do Paulistão, atrás apenas do Palmeiras, seu algoz nas quartas de final e que se sagraria bicampeão.

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Em entrevista ao programa Redação, de PLACAR TV, Zanardi abriu o jogo sobre sua filosofia de trabalho, assédio de outros clubes, as comparações entre técnicos brasileiros e estrangeiros e sobre a influência de Jorge Sampaoli, recém anunciado pelo Flamengo, em sua carreira. Também deixou claro que sonha alto: ‘Falo inglês e me preparo diariamente, quem sabe eu não possa ser um treinador de Champions League? Gosto muito da Premier League. Não sei se vou chegar, mas me preparo para isso diariamente. Sei onde estou e faço tudo com calma e tranquilidade, mas por que não?”, questionou. Assista à integra e confira alguns trechos, abaixo:

Zanardi revelou que a ótima campanha no Estadual lhe rendeu propostas, mas se disse focado em conseguir mais um acesso inédito do time do Grande ABC, agora à Série B do Brasileirão. “Hoje 90% do elenco do São Bernardo tem contrato até o final do ano. Claro que com uma campanha como essa, você fica exposto a sondagens, mas temos calma. Tive cinco ou seis propostas para sair, mas estou muito engajado num projeto importante para desenvolver o que acredito. É um projeto novo se auto-sustentando”, disse Zanardi, que está perto de completar dois anos de casa.

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‘Estágio com Sampaoli’

Antes de chegar ao Tigre, Zanardi trabalhou durante muitos anos como treinador das categorias de base de Portuguesa, Corinthians e Santos, e participou do desenvolvimento de estrelas como Marquinhos, Gabriel Martinelli, Yuri Alberto, Kaio Jorge, entre outros. Também conquistou diversos títulos, em diversas categorias, mas garante que seu melhor “estágio” foi justamente no período de maior insucesso dentro de campo.

Em 2019, ele era treinador do sub-20 do Santos quando ouviu um convite da comissão de Jorge Sampaoli, o treinador da equipe principal. O argentino pediu a Zanardi que selecionasse seus melhores atletas e lhe ajudasse a treinar a equipe profissional com base na formação de jogo de seu próximo adversário. “Eu não entendia bem o esse conceito de sparring, a gente só conhece do boxe. Ele me pediu uma seleção dos melhores sub-20 e sub-23 para treinar com os profissionais. Tinha Yuri Alberto, Kaio Jorge, Marcos Leonardo, Ivonei, Sandri…” conta.

“O Santos ia jogar contra o Flamengo do Jorge Jesus eu montava uma organização ofensiva para treinar a defensiva [e vice-versa]. Ele realmente gastava os sparrings. Isso era na quarta de manhã e à noite eu ia jogar [pelo sub-20] com o São Paulo no Morumbi e perdia, claro. O Paulo Autuori [diretor de futebol] me dizia: não fique preocupado com o resultado, você está ajudando o profissional, essa era a metodologia. E eu pedia que ele avisasse isso ao presidente também”, brinca Zanardi.

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“Foram seis meses dessa dificuldade, mas valeu a pena porque o Santos foi vice-campeão brasileiro. O Sampaoli até me chamou para ir para o Atlético Mineiro, seguir como treinador do sparring, mas eu não quis, expliquei que minha meta era também virar treinador. Foi um ano de trabalho de resultado esportivo péssimo, mas foi um estágio de um ano e dois meses com um dos melhores técnicos que eu poderia ter”, diz, ressaltando que a convivência com o argentino não era tão fácil.

“Muitas coisas minhas se assimilavam com o que ele pensava. Personalidade não muda, eu também tenho a minha, que é forte, e no começo pensei que teríamos atritos, porque o Sampaoli realmente é um cara muito difícil de lidar, não sei como acabei caindo nas graças dele. Mas talvez, até pelo fato de eu sempre falar o que eu pensava, não só o que ele queria ouvir. Ele me abraça e diz a todos que o Márcio faz parte da minha filosofia (…)”disse.

Ele cita alguns aspectos diferenciais do trabalho do argentino. “A responsabilidade no dia a dia, a paixão que ele tem pelo futebol, o envolvimento que ele tem com o atleta, a cobrança (…) Jogador que faz corpo mole com ele não participa com ele jeito nenhum. E a leitura de jogo é muito importante. Não adianta ter o treino dele, isso é público, está na internet, assim como os do Guardiola, o difícil é pensar o futebol como ele pensa. Ele gosta de laterais internos, ataca marcando o tempo todo, muitas vezes, ganhando de quatro gols ele continua em cima e também podia levar quatro. Mas é um cara que tem uma paixão pelo futebol, chegava cedo, ia embora tarde.”

Zanardi contou que Sampaoli chegou a abolir a folga de domingo e segunda de manhã, e passou o descanso para segunda à tarde e terça-feira, visando uma melhor recuperação dos atletas. “Ele mudou a parte cultural do brasileiro. Imagine, no domingo o time ganha, o jogador quer sair com a família, ir para uma balada, mas tinha que ir para a concentração. Foi difícil. Ele mudou, mas conseguiu mostrar para o jogador que o resultado estava acontecendo. Com todo respeito, aquele time do Santos não era para ter sido vice-campeão. Ele deixou um legado de muita inteligência e conteúdo. Treinos curtos e intensos, de no máximo uma hora. E é um cara que não contava história para o jogador. Nada contra quem faz, mas ele acreditava 100% no campo.”

Mauro Horita/FPF
Zanardi no ‘Bernô’: clube-empresa com expectativas altas

Na entrevista, Zanardi disse não ter preferência entre um técnico brasileiro ou estrangeiro na seleção e apontou seu nome favorito. “Sou a favor de ter o melhor, independentemente da nacionalidade. Tive o prazer de trabalhar com o Fernando Diniz, é um cara extremamente trabalhador e merecedor, e não é só pelo título que ganhou agora. Tem muito conteúdo, é extremamente profissional e merece tudo isso, pois ganhou jogando bem. O Abel [Ferreira] e o Diniz são os melhores, qualquer um dos dois estaria de bom tamanho.”

O jovem treinador também falou sobre a importância dos cursos que realizou, na CBF, na federação argentina e na Uefa, e ressaltou sua filosofia de jogo. “A gente não pode perder a essência do futebol brasileiro. Tem que dar responsabilidade setorial, mas no último terço vai para dentro, pedala, dribla… eu treino fundamento. Mas no Brasil é assim, a Espanha foi campeã, vamos copiar os espanhóis, Portugal foi bem, vamos copiar os portugueses, a Alemanha… Temos que copiar o profissionalismo, a estruturação, mas a nossa essência temos de manter.”

Márcio Zanardi com a camisa do São Bernardo
Márcio Zanardi com a camisa do São Bernardo
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