Ligas europeias baniram gramados sintéticos após protestos de atletas
Na Holanda, onde o piso artificial foi recentemente proibido, clubes grandes concordaram em colaborar com um fundo para ajudar os times pequenos a manterem seus gramados
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A polêmica envolvendo a utilização de gramados artificiais na elite do futebol brasileiro ganhou um capítulo importante nesta terça-feira, 18, com o protesto de jogadores de peso, como Neymar, Gabigol, Philippe Coutinho, Alan Patrick, entre outros. O manifesto “Futebol é natural, não sintético” demonstra sua contrariedade com os campos de clubes como Palmeiras, Botafogo, Athletico-PR e o reformado Pacaembu, que deve ser usado pelo Santos, além da Arena MRV, do Atlético-MG, que estreará o novo piso no Brasileirão.
Em sua edição de agosto de 2023, PLACAR apresentou um especial sobre o tema, que mostrou que ligas europeias chegaram a adotar o uso de gramados artificiais, mas o baniram após protestos de atletas, que não consideram o piso seguro para a saúde, além de alterar as dinâmicas do jogo.
As grandes ligas europeias proíbem o uso de sintéticos, ao menos em suas primeiras divisões. França e Portugal – que também já interditou campos naturais impraticáveis, como o do Bessa, em Boavista – chegaram a testar o terreno, mas voltaram atrás diante da revolta geral.
O caso mais recente aconteceu na Holanda. Clubes pequenos justificavam a adoção dos campos de borracha por não terem condições financeiras de manter um bom gramado real em meio ao clima holandês. Ídolos locais como Dirk Kuyt e Ruud Gullit, no entanto, lideraram protestos que culminaram na proibição a partir da temporada 202-2026. Os clubes grandes como Ajax, PSV e Feyenoord concordaram em colaborar com um fundo para ajudar os pequenos a manterem seus gramados.
Em recente comunicado, a Eredivisie, a primeira divisão holandesa, informou que “todos os clubes de futebol profissionais concordaram unanimemente com essa nova regra, marcando o fim da grama totalmente artificial no mais alto nível na Holanda.”
“Devido à compensação que os clubes recebem quando mudam para grama natural ou campos híbridos, o número de campos de grama artificial no futebol profissional holandês vem diminuindo há algum tempo. Essa transição começou em 2018 com a Agenda de Mudanças da Eredivisie”, prossegue. Recentemente, o clube Heracles Almelo mudou para grama natural após 21 anos.
Na Holanda, a preocupação foi além do risco de lesões. Em 2016, pesquisadores holandeses alertaram que os gramados feitos de borracha reciclada poderiam aumentar os riscos de câncer nos atletas.
No ano passado, a liga escocesa também anunciou o banimento dos gramados sintéticos a partir da temporada 2026/2027. “O conselho da SPFL concedeu um período de dois anos para permitir que clubes com campos artificiais planejem a eliminação gradual de campos artificiais na primeira divisão do futebol escocês.” informou um porta-voz da Premiership à BBC.
Na França, a lesão de Sofiane Boufal, então no Lille, em 2016, no gramado sintético do Lorient, impulsionou protestos liderados pelo sindicato dos jogadores de futebol. Fora das principais ligas europeias, o gramado sintético segue sendo utilizado, sobretudo em países de inverno rígido, como na Rússia ou na Ucrânia.
Diversas equipes da elite europeia adotam os chamados gramados híbridos, que consistem em 93% de grama e 7% de grama artificial, como a Neo Química Arena, do Corinthians, que são permitidos e amplamente elogiados.
O que diz a Fifa?
Apesar de conceder às confederações e ligas nacionais a prerrogativa de vetar os campos sintéticos, a Fifa autoriza seu uso em competições oficiais desde 2001. Primeiro, os pisos são testados em laboratórios credenciados e precisam seguir os critérios que envolvem a segurança do atleta, amortecimento, durabilidade do campo e composição do produto, para depois receber um dos selos de qualidade: Fifa Quality, aos campos amadores, e Fifa Quality Pro, aos profissionais.
As inspeções nas arenas homologadas são feitas anualmente. A entidade, no entanto, proíbe gramados artificiais no maior dos eventos, a Copa do Mundo, o que obrigará que oito estádios da edição de 2026 (metade do total) sejam reformados.