Tricolor negociará ações de FIP para melhorar formação de atletas, em negócio que envolve a gestora Galapagos e potencial aporte do bilionário grego Marinakis
O São Paulo negocia a criação de um Fundo de Investimento em Participações (FIP) para o Centro de Formação de Atletas de Cotia. A estratégia do clube tem o objetivo de captar inicialmente R$ 250 milhões (podendo chegar a R$ 350 milhões).
Os recursos serão destinados à modernização, contratação de profissionais e ampliação da captação de jovens. Tudo isso com o intuito de aumentar ainda mais a arrecadação com revelação e venda de novos jogadores.
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A operação é estruturada para que o São Paulo mantenha 70% das ações a princípio. Enquanto isso, a gestora Galápagos Capital, parceira do clube também no FIDC (leia abaixo), ficará com os 30% referentes ao aporte inicial.
O plano já conta com aprovação do Conselho de Administração. No entanto, para poder ser posto em prática, ainda necessita de um “sim” do Conselho Deliberativo.
A estrutura financeira do FIP prevê a liberação escalonada de recursos negociados com a Galápagos. Logo após o acerto, R$ 50 milhões serão para quitação de dívidas e R$ 100 milhões terão destino imediatamente na base (R$ 22 milhões para contratações, R$ 15 milhões em infraestrutura e R$ 63 milhões para capital de giro).
Julio Casares, presidente do São Paulo, e Pablo Maia, cria de Cotia – Divulgação / Instagram
Além disso, R$ 75 milhões e R$ 25 milhões serão liberados após 12 e 24 meses, respectivamente. Recursos extras, de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões, podem ser desbloqueados após cinco anos, condicionados a cumprimento de metas.
Com exceção dos R$ 50 milhões para pagamento de dívidas, todo o outro valor será destinado exclusivamente à base. O São Paulo não poderá utilizar o orçamento para custear contas do futebol profissional.
Nesse sentido, a Galápagos contará com dois representantes dentro do Centro de Formação de Atletas. Trata-se de um chefe de recrutamento de promessas e de um diretor de vendas.
O futebol será de responsabilidade do clube, que não deseja ter menos que 50,1% das ações do fundo. Ainda assim, o objetivo é profissionalizar áreas antes negligenciadas, como scouting, análise de desempenho e vendas de atletas.
Ryan Francisco, promessa criada em Cotia, foi destaque na Copinha pelo Tricolor – Guilherme Veiga / São Paulo
Outra ideia é aumentar de três para 12 o número médio de atletas vendidos por ano. Por outro lado, caso a ideia seja realmente aplicada, o Tricolor precisará repassar 30% do lucro liquído (valor de venda – custo de formação) das negociações para a Galápagos.
Ou seja, um atleta transferido por R$ 10 milhões, que custou R$ 2 milhões ao São Paulo, representaria um lucro líquido de R$ 8 milhões. Em cima desse valor, a companhia de investimentos receberia os 30%, equivalente a R$ 2,4 milhões, mesmo sem ter participação nos direitos econômicos dos atletas.
Simultaneamente a esse movimento, o São Paulo tem um memorando de entendimento assinado com Evangelos Marinakis. O documento de intenção com o bilionário tem como objetivo um futuro acordo envolvendo as categorias de base são-paulinas.
Dono de Olympiacos, Nottingham Forest e Rio Ave, o empresário do ramo de transportes marítimos é uma das figuras mais controversas do futebol atual. Investigado e absolvido diversas vezes por supostos crimes de manipulação de resultados e corrupção esportiva, o grego vive processo de parceria com John Textor para a recompra do Botafogo junto à Eagle Football Holding.
Marinakis, magnata grego, é dono de três clubes – EFE/EPA/PETER POWELL
Membro do conselho de Piraeus, na Grécia, Marinakis também já esteve no alvo de polêmicas além do futebol. Em 2018, o dono da Alter Ego Media, grupo de mídia grego, foi acusado de financiar uma operação de tráfico de mais de 2 toneladas realizada no navio Noor One, embarcação da qual ele seria “dono oculto”.
O crime e sua deflagração, que aconteceram em 2014, deram início a um período sangrento e de mortes suspeitas na Grécia, Turquia e região. O magnata negou qualquer ligação com todos os acontecimentos e foi absolvido, tendo em vista falta de provas concretas.
Julio Casares, presidente do São Paulo, por sua vez, deixa claro que qualquer parceria seria limitada a investimentos e apoio operacional, sem transferência de controle da base.
A necessidade do fundo se explica pelo contexto econômico do São Paulo. Em relatório recente da comissão do Conselho Deliberativo, foi divulgado um alerta para um déficit de R$ 48 milhões ao fim de 2025.
Esse fator contraria o orçamento aprovado em 2024, que previa superávit de R$ 44,8 milhões. Assim, a dívida do clube, que já está na casa de R$ 968 milhões, poderá ultrapassar R$ 1 bilhão, com pressões sobre folha salarial, impostos e pagamento de credores.
Julio Casares comanda Tricolor em crise financeira – Divulgação / São Paulo
Desse modo, o FIP se insere em um contexto já praticado pelo São Paulo com o FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), pensado para reestruturar dívidas superiores a R$ 200 milhões. O FIDC, gerido também pela Galápagos, com sua arrecadação, permite consolidar alguns débitos, estender prazos e reduzir juros.
Contudo, o plano ainda não foi capaz de sanar a necessidade da criação de novos compromissos. No dia 20 de agosto, o Conselho Deliberativo do São Paulo aprovou um empréstimo de R$ 50 milhões junto ao Banco Daycoval.
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