Felipão e o Kinder Ovo
A Alemanha venceu o Brasil sem precisar de jogadas individuais. Eles nos deram um imenso “sacode” apenas na base do coletivo A derrota dispensa qualquer adjetivação. Os números falam tudo. 7 a 1. Sete a um. Não importa a forma como se expresse isso. 7 a 1. Pronto. Não é mais necessário descrever o terremoto […]
A Alemanha venceu o Brasil sem precisar de jogadas individuais. Eles nos deram um imenso “sacode” apenas na base do coletivo
A derrota dispensa qualquer adjetivação. Os números falam tudo. 7 a 1. Sete a um. Não importa a forma como se expresse isso. 7 a 1. Pronto. Não é mais necessário descrever o terremoto que abalou as estruturas brasileiras. Já foi. Mas podemos falar um pouco sobre os deslocamentos das placas teutônicas, quer dizer, tectônicas. Como terminamos desse jeito? Uma pista veio da entrevista coletiva do treinador Luiz Felipe Scolari após a partida. Perguntado sobre a falta de treinamento do time que entrou em campo contra a Alemanha, Felipão se saiu com uma explicação curiosa. Ele treinou a opção dos três volantes, treinou o time com Willian no lugar de Neymar e escondeu a opção Bernard. Felipão explicou que, se colocasse Bernard no treinamento, os jornalistas veriam e contariam. O treinador adversário, assim, conheceria o “segredo de Felipão”.
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No fundo, o comandante da seleção entende o futebol como um grande Kinder Ovo. O importante não é o chocolate em si, mas a surpresinha que ele esconde. De fato, Felipão surpreendeu o técnico alemão Joachim Löw. Mas surpreendeu também o próprio time, que entrou perdidaço em campo. E ficou mais perdido quando percebeu que os bem treinados adversários sabiam exatamente onde cada companheiro estaria no segundo seguinte, numa semifinal de Copa do Mundo. Felipão botou em campo um time inédito. Teve alguns dias para ensaiá-lo, mas “aí ia estragar a surpresinha”. O Brasil tomou gols de linha de passe. Tabelinhas envolventes que pouco tinham de improvisação.
Na mesma entrevista, Felipão tentou explicar o terremoto como um “apagão”. Palavra vaga, que sugere acidente, não uma falha de organização. A escalação secreta de Bernard é simbólica, o problema é ainda maior. Se o Brasil real já é chegado na improvisação, o Brasil do futebol ama a improvisação. O coletivo nunca foi nosso forte, acreditamos nos craques, na capacidade inata do jogador brasileiro de encontrar soluções mágicas quando tudo está perdido. A Alemanha venceu o Brasil sem precisar de jogadas individuais. Eles nos deram um imenso “sacode” apenas na base do coletivo. De vez em quando, o drible, a improvisação até salvam. Na maioria das vezes, o coletivo vence. Ideal ter os dois. Neymar cansou de carregar o time de Felipão. No dia em que ele faltou, o time poderia ter ajudado. Mas deu apagão. Um apagão intelectual, que não é de hoje.
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