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Destaque no México, Gustavo Leal destrincha estilo de jogo

Na comissão do ouro olímpico de 2021, técnico com trabalhos no exterior detalhou suas táticas e citou influências de outros esportes em entrevista à PLACAR

Ano após ano, o movimento de um estrangeiro assumir o cargo de técnico de um grande clube do Brasil tem se tornado mais comum. Essa tendência, que já causou acalorados debates, no entanto, é menos frequente na mão contrária. Sendo, assim, raro encontrar um brasileiro em uma potência de outro país.

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Entre os poucos profissionais que se aventuram mundo afora, um exemplo de sucesso é Gustavo Leal. Aos 38 anos, o treinador, que já acumulava experiência no STK Samorin, da Eslováquia, deixou recentemente o cargo do Atlético de San Luís, do México.

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No clube que pertence ao Atlético de Madri, da Espanha, Leal desembarcou como auxiliar de André Jardine, assumiu a vaga com a ida do colega ao América do México e alcançou grandes feitos em uma temporada. Agora, ainda muito jovem, já sonha com um novo trabalho, como contou à PLACAR, em entrevista exclusiva, com direito a detalhamento de seu estilo de jogo e lembranças do futebol mexicano.

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Como jogam os times de Gustavo Leal?

“O meu gosto de futebol é ter a bola. Então, posso definir que meus times são propositivos.” Foi assim que o técnico definiu inicialmente o que pensa do jogo, ao ser questionado sobre como seria uma equipe com seus ideais.

Partindo disso, Gustavo passou a descrever as nuances da partida, contando como seu time se organiza a partir das fases iniciais de construção. Adepto de goleiros que participem desse momento, ele valoriza essa característica como estratégia para buscar um jogador livre no setor.

Atlético San Luís de Gustavo Leal em ataca com seis jogadores com distâncias curtas e um mais aberto – Edição sobre Afizzionados

“Minha saída é apoiada. Isto é: com passes curtos desde atrás, sendo o goleiro um dos jogadores que participam. Acredito que isso seja importante para criarmos uma vantagem numérica, já que também espeto três, que prendem quatro defensores do adversário, transformando minha superioridade para de dois atletas”, explicou o ex-técnico do Atlético San Luís.

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“Naturalmente essa estratégia vai atrair o adversário para pressionar. Achando um espaço pelo chão, conseguimos progredir. E também não descarto a possibilidade de uma ligação direta direcionada”, falou deixando claro que pode buscar bolas longas. O profissional, porém, afirmou não gostar de trabalhar com lançamentos de forma aleatória.

Na sequência do momento de saída de bola, Gustavo pontuou que suas equipes buscarão controlar o jogo, independente da fase. “Como eu disse, gosto de ter a posse. Ganhando campo, vamos sempre ter dinâmicas para achar um homem livre e atacar com muitos jogadores, às vezes até em 2-2-6. E perdendo a bola no ataque, é pressionar imediatamente para recuperar. Não conseguindo, quero permitir meu adversário de trabalhar apenas onde ‘nós deixarmos’. Gosto desse controle.”

É posicional? Faz jogo de mobilidade?

Em muitos momentos ao falar de seus métodos, o treinador utilizou termos comuns em adeptos do Jogo de Posição, filosofia tradicional na escola espanhola e aplicada por grandes nomes como Pep Guardiola. Questionado sobre suas preferências, Gustavo diz ter, sim, influências desse modelo, mas pontua também gostar de ataques “de mobilidade”, termo utilizado para descrever equipes que criam com menos referência aos espaços e mais à bola – estilo comum em times de Fernando Diniz.

“É um debate muito interessante, mas que ainda não teve tanta profundidade, seria legal ter. Mas gosto muito, sim, de métodos posicionais. Depois, tive bastante contato com o jogo de mobilidade. Hoje, me vejo como alguém que tenta mesclar os dois mundos”, iniciou a explanação.

O treinador continuou, citando exemplos durante o jogo. “Sobre usar pontas ou laterais abrindo, tudo isso vai das características dos atletas. E também você vai ver em alguns momentos setores mais densos (com mais jogadores acumulados em um lado), ao invés de todos distribuídos com simetria.”

Gustavo trabalhou com André no Fluminense - Instagram / @gustavojsleal
Gustavo trabalhou com André no Fluminense – Instagram / @gustavojsleal

Nessa linha, o ex-auxiliar do Brasil sub-23 acrescentou a um debate que tem crescido recentemente. Ao responder sobre um suposto distanciamento do futebol brasileiro de sua essência, refletiu: “Esse assunto poderia render horas, mas devolvo com uma pergunta: o que é o jeito brasileiro? O país é muito grande, isso pode variar inclusive de estado para estado. Tivemos grandes técnicos reativos, que venceram. E tivemos grandes propositivos, que também marcaram época.”

Campeão olímpico, influências olímpicas

Gustavo Leal foi campeão olímpico com o futebol masculino, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021. Auxiliar da comissão técnica de André Jardine, o profissional embarcou no “clima olímpico” e afirmou já ter se inspirado em outras modalidades para armar seus times.

“Eu sempre fui apaixonado por esportes. Sempre pratiquei todos. E hoje consumo muito, leio bastante coisa fora do futebol. Já aconteceu, sim, de eu adaptar alguns conceitos de outros esportes”, falou.

Leal concluiu, citando um desses momentos: “É normal ver meu camisa 10 buscando a bola direto com os zagueiros. E por que? Porque costumo ver ele como uma espécie de levantador do vôlei ou armador do basquete. É o centro de tudo, é a cabeça pensante, então pode precisar enxergar o jogo de frente.”

Outra análise do profissional foi utilizando o handebol, esporte que tem como tônica alternados momentos de ataque versus defesa. “Outra influência que penso é da questão da posse passiva do handebol, que é quando a arbitragem define que o time atacante sofre uma espécie de punição e precisa finalizar em alguns segundos. Vale bastante refletir isso quando, no futebol, estamos com a bola sem produzir.”

Futebol mexicano e suas particularidades

Atualmente, o Campeonato Mexicano é um dos centros com mais diversidade cultural da América. Na atual edição do Apertura, há jogadores de 25 nacionalidades diferentes, com direito a atletas além das Américas, como africanos e europeus.

Gustavo Leal: o promissor técnico brasileiro que brilha no Campeonato Mexicano - Divulgação / Atlético de San Luis
Gustavo Leal foi bem no Campeonato Mexicano – Divulgação / Atlético de San Luis

Entre os técnicos, a mescla também é grande. Dos 18 profissionais, há cinco mexicanos, quatro argentinos, dois espanhóis, dois uruguaios, dois brasileiros um sérvio, um português e um colombiano.

De acordo com Gustavo, esse contato foi enriquecedor em sua passagem. Ele contou que contou com diversas abordagens diferentes, tendo em vista que diversos adversários são comandados por profissionais de outras linhas táticas.

Um dos casos curiosos foi lembrado pelo brasileiro: “Aconteceu algo muito curioso quando enfrentei o Pachuca, do uruguaio Guillermo Almada. Ele me pressionou com oito jogadores, nunca tinha acontecido. Criou uma estranheza e aprendi com isso.”

Relembrando outros embates, resgatou os embates com André Jardine. Leal recordou que ambos os lados já se conhecerem trouxe um aspecto diferente para o duelo, mas cravou que taticamente essas foram as melhores partidas em sua jornada pelo Atlético de San Luís.

O histórico e o futuro de Gustavo Leal

Gustavo Leal é “cria de Xerém”, como ele mesmo se denomina. Ainda que tenha dado os primeiros passos ainda na casa dos 20 anos, em times cariocas de menor expressão, como Quissamã, Serrano e Mesquita, ele deu seus primeiros grandes voos comandando os garotos na formação do Fluminense.

Gustavo Leal viveu experiência na Eslováquia - Instagram / @gustavojsleal
Gustavo Leal viveu experiência na Eslováquia – Instagram / @gustavojsleal

Entre o período no Tricolor das Laranjeiras, também teve a primeira experiência como forasteiro, ao treinar o STK Samorin, da Eslováquia. De volta da Europa, retornou ao clube do Rio de Janeiro, antes de partir para a seleção brasileira, onde venceu o ouro na Olimpíada de Tóquio, como auxiliar.

Depois, partiu junto a André Jardine para o México e assumiu o cargo no Atlético de San Luís. Como treinador principal, levou o clube à Liguilla, fase final do Campeonato Mexicano, e parou apenas na semifinal, caindo para o América, treinado pelo ex-companheiro de clube e seleção. Em abril, deixou a equipe.

Sobre futuro, Gustavo admite ainda ter o México muito vivo em sua mente, mas não fecha portas. “Tenho tudo muito fresco, seria interessante. Mas estou aberto a ouvir projetos que tenham respaldo a meu trabalho. Falo inglês e espanhol bem, além do francês até a ‘página 5’, então muitos mercados podem ser interessantes.”

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