Horas depois, o atleta escreveu um texto afirmando ter orgulho de suas origens
“É lamentável e inaceitável que ainda haja espaço para esse tipo de coisa hoje em dia. Isso só mostra que o ser humano ainda tem muito a evoluir e a crescer”, disse Arouca
Menos de um mês depois de o volante Tinga ouvir ofensas racistas em Huancayo, no Peru, em jogo entre Cruzeiro e Real Garcilaso, pela Copa Libertadores, o também volante Arouca foi alvo de racismo na noite de quinta-feira, depois da goleada do Santos sobre o Mogi Mirim, por 5 a 2, pelo Campeonato Paulista. O jogador foi chamado de “macaco” por torcedores da equipe da casa no Estádio Romildão, em Mogi Mirim, enquanto dava entrevistas na saída do gramado. As manifestações racistas foram confirmadas pelos repórteres que trabalhavam no jogo. “Isso é bom nem ouvir, né? Melhor nem dar ouvidos a esses pessoas, se é que dá para chamá-las de pessoas. É difícil. Isso não acontece só no meio do futebol. Espero que alguém possa tomar uma providência muito severa, porque isso é lamentável”, disse Arouca à rádio ESPN, logo depois de ser xingado.
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Horas depois do jogo, o atleta divulgou um texto sobre o episódio, destacando o orgulho que tem de suas origens. “É lamentável e inaceitável que ainda haja espaço para esse tipo de coisa hoje em dia. Isso só mostra que o ser humano ainda tem muito a evoluir e a crescer, que não estamos nem perto de um mundo que vive a harmonia entre as pessoas e todas as suas diferenças”, escreveu o atleta de 27 anos. “Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros.”
Arouca lamentou também a violência nos estádios e cobrou punições aos que prejudicam o esporte. “O futebol é um espelho da nossa realidade, e isso não se resume apenas a xingamentos racistas. Continuam matando e morrendo por torcerem por um time diferente do outro. Espero, sinceramente, que casos como esse sejam severamente punidos, pois, enquanto isso não acontecer, nada vai mudar. A impunidade e a conivência das autoridades com as pessoas que fazem esse tipo de coisa são tão graves quanto os próprios atos em si. Somente discursos e promessas não resolvem a falta de educação e de humanidade de alguns.” Ainda na noite de quinta, o técnico Oswaldo de Oliveira protestou contra a situação vivida em Mogi Mirim.
Assim como seu atleta, o treinador cobrou providências mais eficazes. “Isso tem que ser coibido, como a violência, as brigas e uma série de outras coisas. Tem gente que gosta de aparecer negativamente. Acho isso baixo. Tem que ser severamente punido, como tantos outros eventos que temos acompanhado recentemente. Deveríamos ser mais severos”, disse o técnico. O árbitro Vinicius Gonçalves Dias Araújo não relatou as provocações da torcida local na súmula da partida. Poucas horas antes das ofensas dirigidas a Arouca, o árbitro Márcio Chagas da Silva, do Rio Grande do Sul, divulgou ter sido vítima de insultos enquanto apitava a partida entre Esportivo e Veranópolis, na noite de quarta, no Estádio Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves. Ele foi chamado de macaco pelos torcedores e teve seu carro depredado no estacionamento do clube. Silva encontrou bananas sobre o veículo e no cano do escapamento.
(Com Estadão Conteúdo)