O Bayern de Munique venceu o Borussia Dortmund, manteve o aproveitamento da temporada em 100% e, de quebra, parece ter ganhado um “todo-campista”. Durante Der Klassiker, o destaque dos bávaros anotou o seu tento, de cabeça, mas também foi influente em todas as fases do jogo, muitas vezes recuando para iniciar jogadas e até para recompor o setor defensivo.

Na escalação inicial do técnico Vincent Kompany, Kane apareceu como um segundo atacante, teoricamente para atuar em dupla com Nicolas Jackson. Com a bola rolando, porém, o que se viu foi um jogador livre para circular nos momentos de posse da bola, recuando junto aos volantes e até zagueiros.

No entanto, esse comportamento não se limitou à construção. O inglês ainda recuperou cinco bolas e bloqueou dois chutes, além de ter finalizado a partida com aproveitamento de 72,7% de sucesso nos duelos terrestres que participou.

O ‘todo-campista’ Kane

Atacante de muita mobilidade ofensiva, Harry Kane tradicionalmente sempre se movimentou bastante. Desde os tempos de Tottenham e início de Bayern, sempre foi possível observar que o jogador não se reduz apenas ao setor central de ataque.

No entanto, diante do Borussia, uma “versão mais radical” apareceu. Ao fim do jogo, o mapa de calor disponibilizado pelo Sofascore ilustrou que o camisa 9 esteve mais presente em setores recuados, como na parte comumente ocupada por zagueiros, laterais e volantes durante a fase de construção.

Além disso, o mapa de posicionamento médio coloca Kane na mesma linha de Joshua Kimmich, volante alemão de papel essencial nas primeiras fases do ataque bávaro. Até mesmo Aleksandar Pavlovic, outro meio-campista recuado na escalação “base”, teve posicionamento médio mais avançado do que o centroavante.

Destacado, Harry Kane fez grande partida defensiva – Montagem sobre Cazé TV

Outro elemento que evidencia esse caráter todo-campista está em imagens de seu posicionamento no momento defensivo. Na edição acima, o atacante (destacado pela seta) se posiciona compactado ao bloco defensivo bávaro.

Em uma posição logo em frente da linha de zagueiros, cobre espaço deixado por um dos volantes (fora da imagem), que havia se deslocado para o setor da bola. Esse comportamento corrobora com sua alta presença nos números defensivos.

Atacante-armador? Regista? Quarterback?

A liberdade posicional costumeiramente é grande amiga de jogadores altamente técnicos. Exemplos são as atuações de Lionel Messi como falso 9, podendo se deslocar para “enxergar o jogo de frente”, e de Neymar, que em seus bons momentos do PSG foi um atacante condicionado a armar o jogo.

O Kane do Bayern de Munique pode vir a ser caracterizado assim. Contudo, outros termos podem se tornar predicados do inglês, caso o nível de atuação nessa função se mantenha.

Resgatando do futebol italiano, Harry Kane foi uma espécie de “regista” em parte do clássico. Em frente à defesa, foi um armador recuado, com seus passes acumulando 345 metros progressivos durante os 90 minutos, ficando atrás apenas da distância somada por passes de Kimmich e do goleiro Manuel Neuer.

Outra adaptação de “apelido” pode partir de outro esporte: o futebol americano. Em perfis estrangeiros nas redes sociais, Kane foi chamado de “quarterback”, tendo em vista sua atuação no início das jogadas, com lançamentos precisos e boa visão de jogo.

Kane, destacado com círculo, deu início a ataque direto e rápido que ampliou vantagem do Bayern – Montagem sobre Cazé TV

Diante do Borussia, acertou nove das 10 bolas longas que tentou, com uma delas dando origem ao segundo gol do Bayern. Além disso, quatro desses nove lançamentos corretos percorreram mais de 36 metros e saíram de um lado para outro, caracterizando inversões de jogo, conforme o site FBref.