Ousadia FC: o time brasileiro que joga a última divisão da Espanha
Equipe presidida pelo influenciador Queixinho é sediada na Catalunha, atua com o nome Ibero-Americano e inicia trajetória no último degrau do futebol espanhol
O sonho de ser jogador profissional de futebol é uma realidade de diversos jovens do Brasil. Entre os milhares que tentam entrar em clubes por meio de peneiras, grande maioria esbarra na falta de espaço e investimento fora das badaladas primeiras divisões.
Alguns desistem e partem para diferentes voos, enquanto uma parcela segue em busca do sonho. Em meio ao grupo de persistentes, estão os jogadores do Ousadia FC, um time formado por brasileiros que vai jogar a última divisão do Campeonato Espanhol a partir do dia 22 de setembro.
Fundado pelo influenciador Edivando Júnior, conhecido como Queixinho, o clube que nesta temporada está com o nome Íbero-Americano de Futbol Barcelona vai atuar na “Quarta Catalana”, a última prateleira do futebol regional da Catalunha. Em termos nacionais, seria equivalente à 11ª divisão – a última que um time pode jogar na Espanha.
Ver essa foto no Instagram
A história do Ousadia FC
O nascimento do projeto passa pela história de Queixinho. Atualmente com mais de 1,5 milhão de seguidores no Instagram, o influenciador decidiu se mudar para a Europa e tentar se tornar jogador de futebol.
Após algumas tentativas sem sucesso, Edivando conheceu o dono da BCN Academy, uma academia que trabalha com o intercâmbio esportivo para Barcelona. Com isso, a ideia foi estabelecer uma parceria para a criação de um time federado, partindo da divisão mais baixa possível.
A empresa que já tinha experiência anterior no ramo arcou com os custos de “fundação”, enquanto avaliações foram feitas para a montagem do elenco. Mesmo com a participação em torneios amadores, como a Barcelona Cup – na qual o título foi do Ousadia -, trâmites não foram finalizados a tempo da equipe ser inscrita com o “nome original”, o que culminou no batismo temporário por íbero-Americano.
Time de jogadores brasileiros
Grande parte dos atletas já fazia parte de uma equipe amadora do país. Um deles é Enrique Paiva, jornalista que já produzia conteúdo em jogos não-profissionais e agora faz parte do projeto.
Em entrevista à PLACAR, o brasileiro detalhou sua trajetória até chegar ao clube. “Eu decidi vir para a Europa porque eu estava fechado para fazer três meses de teste em um time de Valência que se chama Burriana. Cheguei no meio da temporada, em janeiro de 2023, eles me prometeram algumas coisas que acabaram não cumprindo. Tinha pensado em voltar para o Brasil, mas quis ficar mais um tempo aqui porque a minha mulher é daqui, até que no meio disso tudo apareceu o Ousadia.”
Ver essa foto no Instagram
Enrique ainda contou que sua quebra de expectativas no time valenciano o fez voltar a tentar produzir conteúdos na comunicação: “Depois que eu tive esse problema em Burriana, eu acabei pensando em tentar alguma coisa na minha área, de jornalista. Pensei em deixar o futebol só pra me divertir, pra gravar, porque eu também faço vídeos de futebol amador no meu canal, no YouTube, com a GoPro na cabeça.”
É realmente profissional?
“Eu sempre tive o sonho de me profissionalizar, mas nunca tive essa chance. Tentei quando era menor, fiz vários testes e nunca passei em nenhum. E no primeiro contato com o Ousadia já foi aqui. Através de um aplicativo de futebol aqui em Barcelona, que chama Celebreak, e eu acabei conhecendo o Queixinho pessoalmente, falei que era brasileiro, e acabei virando amigo dele. Surgiu esse projeto dele de montar um time de brasileiros na Espanha, mas um time amador, pra disputar campeonatos amadores, e ele perguntou se eu toparia”, detalhou o atacante da equipe.
Paiva anda contou que, com o tempo, a popularidade do projeto saltou. Ele pontua que com 400.000 seguidores no Instagram, o clube já tem mais popularidade do que muitos times da primeira divisão do Campeonato Espanhol.
O brasileiro, no entanto, ainda não consegue se ver como um atleta profissional e cita a questão da recompensação financeira. “Eu me considero um jogador semiprofissional, porque aqui eles dizem muito isso. A gente não ganha salário, agora no começo do projeto a gente até gasta um pouco com alimentação e transporte. Ainda assim, o Queixinho ajuda muito, bancando alimentação e acomodação quando jogamos fora de Barcelona. Só que, por outro lado, ter uma rotina faz eu me sentir federado, olhando meu nome com toda a documentação certinha, com exames médicos e tudo mais”.
Ousadia FC: um diferencial na Europa
“Quando eu fiz os meses de teste lá em Valência, estava só eu de brasileiro. Os caras fecham muito entre eles, eu ficava com vergonha, não me soltava, ficava com medo de errar algum passe, algum drible, e consequentemente não jogava bem”, disse Enrique ao relembrar dificuldades de se adaptar em um contexto estrangeiro.
Ele continua, pontuando que sente, sim, um tratamento diferente agora estando em um clube apenas de brasileiros. Segundo o jogador, a língua e a cultura são pontos positivos, o que transforma o grupo em uma espécie de família.
Por outro lado, uma possível perseguição dos adversários também foi apontada. “O próprio técnico, que é chileno, já falou que escutou que os caras estão mordidos para vir jogar contra a gente. Eles caras vão bater, nessa última divisão é um jogo muito físico. A gente já está se preparando para isso, principalmente porque também tem um time inteiro de argentinom, então imagina (risos)”.
O regulamento do futebol espanhol
A Espanha tem seis divisões nacionais. Na sequência, o futebol é organizado em regiões, comandadas pelas federações de cada província. No caso do Ousadia FC, a subdivisão é da Catalunha, que tem a Liga Elite da Catalunha, que quem for campeão da Liga Elite sobe pra disputar a nacional.
Abaixo da Liga Elite, estão as ligas Primeira Catalana, Segunda Catalana, Terceira Catalana e Quarta Catalana. Logo, o time de brasileiros está na última divisão possível em sua federação.
Um outro fator a ser pontuado para a continuidade do Ousadia também está no regulamento. Visto que atualmente o time é composto apenas por atletas nascidos no Brasil, o atual elenco não poderia disputar divisões da Segunda Catalana em diante, por limite de estrangeiros.