Em confrontos pela Copa Libertadores, é comum que surja a dúvida entre os torcedores: o Racing, adversário do Flamengo na semifinal deste ano, é de Avellaneda ou de Buenos Aires? A resposta é: de ambos.
E, embora pareça simples, envolve uma lição pouco conhecida sobre a divisão territorial da Argentina, cuja organização administrativa cria três “camadas” diferentes quando se fala em Buenos Aires: a capital federal (Ciudad Autónoma de Buenos Aires), a província (Buenos Aires) e a região metropolitana (Grande Buenos Aires). Essa distinção é o que muitas vezes confunde até mesmo quem acompanha de perto o futebol sul-americano.

A verdade é que o clube não pertence à capital, mas sim a uma cidade vizinha com identidade própria. Por outro lado, pertence, sim, à Província de Buenos Aires e também à Grande Buenos Aires.
Ciudad Autónoma vs. Província
Para entender a localização do Racing, é fundamental diferenciar as três “Buenos Aires” existentes no mapa político argentino. A primeira é a Cidade Autônoma de Buenos Aires (CABA), a capital federal.
Ela deixou de fazer parte da província em 1880, quando foi federalizada após décadas de conflito político entre elites portenhas e governos provinciais. Desde então, La Plata se tornou a capital provinciana, enquanto a capital federal passou a ser uma unidade administrativa própria, equivalente a uma província, com prefeito (chefe de governo), constituição local e jurisdição independente.
A segunda referência é a Província de Buenos Aires, um território gigantesco que circunda a capital – e não faz parte dela, ou vice-versa. A provincia possui governo próprio, leis e uma organização municipal baseada em partidos, que equivalem aos municípios brasileiros.
Grande Buenos Aires
Entre essas duas esferas existe uma terceira dimensão: a Grande Buenos Aires, uma região metropolitana que combina o território da capital com dezenas de partidos da província ao seu redor. Não é uma unidade administrativa formal — não tem governo próprio —, mas um conceito urbano-demográfico.

É a continuidade física de cidades coladas à capital, formada sobretudo no período de industrialização e expansão populacional do século XX, quando fábricas, portos e ferrovias empurraram o crescimento para fora da CABA. Uma comparação cabível é a realidade da cidade de São Paulo, que forma a Grande São Paulo, junto de Guarulhos, Osasco e outras cidades.
É essa mistura de cotidiano integrado, com fronteira administrativa definida, que gera a confusão. Outros clubes tradicionais também fazem parte da mesma região metropolitana, como é o caso de Independiente, grande rival do Racing em Avellaneda, Estudiantes, de La Plata, e Lanús, de província homônima.
Avellaneda: a casa do Racing
Avellaneda está dentro da província, mas ao mesmo tempo no coração da Grande Buenos Aires. Isso, pois, está logo ao sul do Matanza-Riachuelo, rio que historicamente marca a fronteira urbana entre o território federal e o território provincial.

A cidade já se chamou Barracas al Sud, antes de ser batizada, em 1904, como homenagem ao ex-presidente argentino Nicolás Avellaneda. Ao longo da história, se tornou um dos berços industriais da Argentina e, a partir de 2020, foi considerada pelo senado como a capital nacional do futebol.
Um dos motivos para isso é que o estádio do Racing, o Presidente Perón, tem uma curiosidade que envolve sua localização. A casa de La Acade está a poucos metros do Estadio Libertadores de América, do Independiente, protagonizando um fato charmoso da grande rivalidade.





