O Nubank está muito perto de adquirir os naming rights do novo estádio do Inter Miami, em um acordo estimado em cerca de 190 milhões de dólares por dez anos. Mais do que um investimento em futebol, o movimento revela uma estratégia clara: usar o esporte como porta de entrada para o mercado americano, justamente no momento em que o banco brasileiro avança no processo de obtenção de licença para operar nos Estados Unidos. Ao associar seu nome ao clube que ganhou visibilidade mundial com a chegada de Lionel Messi, o Nubank se apoia em um ambiente onde o esporte funciona como plataforma integrada de entretenimento, mídia e consumo.
Esse passo ousado levanta uma pergunta inevitável. Por que o Nubank não faz algo semelhante no Brasil, onde já é uma das marcas mais fortes e conhecidas do país? A explicação está menos no valor do investimento e mais na maturidade do ecossistema. O mercado americano está muito mais avançado no que chamamos de sportainment, a junção de esporte com entretenimento que transforma estádios, ligas e atletas em ativos globais de comunicação. Lá, naming rights significam presença em um sistema completo de conteúdo, eventos e experiências que amplificam marcas em escala internacional.
No Brasil, embora o futebol seja gigantesco em paixão e audiência, o modelo comercial ainda não opera nesse nível de integração e retorno. Naming rights existem, claro, mas a entrega é majoritariamente doméstica e menos conectada a um ecossistema de entretenimento capaz de sustentar estratégias de expansão global. Para o Nubank, já consolidado no país, o ganho incremental seria pequeno. Nos Estados Unidos, porém, a associação ao futebol em ascensão e ao universo cultural que envolve a MLS funciona como um cartão de visita poderoso para quem deseja se apresentar a um novo mercado.
Além disso, o movimento do Nubank se encaixa em uma tendência global de empresas de tecnologia usando o futebol como acelerador de marca. A presença de Messi nos Estados Unidos elevou a MLS a um novo patamar de atenção internacional e transformou o Inter Miami em um ativo midiático de escala planetária. Associar-se a esse fenômeno permite ao Nubank acessar não apenas o público americano, mas também comunidades latinas e uma audiência global que acompanha o jogador. É um tipo de alavanca que dificilmente existiria no Brasil, onde, apesar da paixão, os clubes ainda não operam com a mesma lógica de internacionalização e distribuição de mídia.
O caso também evidencia uma mudança no papel das marcas brasileiras no exterior. Durante décadas, poucas empresas nacionais arriscaram movimentos de marketing estruturados fora do país. O Nubank, ao contrário, entende que a construção de reputação global exige ousadia, presença cultural e associação a símbolos fortes. E hoje, no cenário mundial, o futebol é um dos maiores símbolos de conexão entre mercados. O banco se posiciona não apenas como um player financeiro que chega aos EUA, mas como uma marca que compreende a linguagem do entretenimento contemporâneo, uma linguagem que o público americano consome com naturalidade e que o Brasil ainda precisa aprender a traduzir melhor em negócios.






