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#TBT Placar ícone blog #TBT Placar Toda quinta-feira, um tesouro dos arquivos de nossas cinco décadas de história

Melhor que a encomenda: D’Alessandro, o presente do centenário colorado

Em 2008, argentino prometeu ganhar a Libertadores pelo Inter; fez isso e muito mais, e agora se prepara para seu primeiro Grenal em nova função

Internacional e Grêmio fazem no próximo sábado, 19, a partir das 16h (de Brasília), o aguardado clássico gaúcho válido pela 30ª rodada do Brasileirão, no Beira-Rio. O Grenal 443 tem como atração dois estrangeiros: o dinamarquês Martin Braithwaite, do Tricolor, e o colombiano Rafael Santos Borré, do Colorado. Outra estrela com sotaque apimentou esta rivalidade neste século: o argentino Andrés D’Alessandro, que viverá seu primeiro Grenal em uma nova função.

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O maestro argentino chegou ao Inter em 2008, em baixa após passagens frustrantes pela Europa. No entanto, em entrevista à PLACAR de setembro daquele ano, “El Cabezon” foi apresentado na reportagem de Leandro Behs como o “presente antecipado” para o centenário colorado do ano seguinte. Tudo saiu bem melhor que a encomenda. O meia revelado pelo River Plate se estabeleceu em Porto Alegre, obteve até a cidadania brasileira e se tornou um dos maiores ídolos da história do Colorado.

Curiosamente, D’Alessandro estreou pelo Inter num Grenal, em 13 de agosto de 2008, um empate em 1 a 1 pela Copa Sul-Americana, no antigo estádio Olímpico. Como atleta, ele disputou 40 clássicos contra o Grêmio. Foram 16 vitórias, 13 empates e 11 derrotas, com 50,8% de aproveitamento, e nove gols marcados, segundo levantamento do ge. Neste sábado, ele fará seu primeiro clássico no papel de diretor de futebol do Inter.

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D’Alessandro comemora gol diante do São Paulo no Brasileirão de 2012

Na primeira de muitas entrevistas à PLACAR, D’Alessandro agradeceu o apoio dos torcedores e revelou seu maior objetivo. “Fiquei muito emocionado com aquela demonstração de carinho. Sinceramente, não esperava nada daquilo. Quero retribuir isso tudo com muitas vitórias. Chego entusiasmado a um clube campeão do mundo e quero muito conquistar títulos pelo Inter. Principalmente a Libertadores.”

A promessa seria cumprida em apenas dois anos, com o título da Libertadores de 2010. O argentino ainda conquistaria sete títulos gaúchos (2009, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016) e a Sul-Americana de 2008, entre outras taças – são 13 no total. É o segundo jogador que mais vezes vestiu a camisa do Inter (529), atrás apenas de Valdomiro (803) e está entre os 20 que mais marcaram, com 97 gols.

O blog #TBT PLACAR, que toda quinta-feira recupera um tesouro de nossos arquivos, relembra a estreia de D’Alessandro em nossas páginas.

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Presente antecipado

O centenário colorado é só em 2009, mas a torcida já ganhou seu presente. D¿Alessandro chega ao Internacional para recuperar seu bom futebol e livrar-se do estigma que marcou seu passado: ser o “novo Maradona”

Leandro Behs

Andrés D”Alessandro era um garoto de 10 anos que jogava pelo Estrella de Maldonado, um dos tantos clubes de bairro portenhos. Gabriel Rodríguez, olheiro do River Plate, o viu jogar. “Parabéns, seu filho é um fenômeno. Tem a 10 do River tatuada nas costas”, disse a seus pais. Nos 17 anos que separam a profecia de Rodríguez de sua chegada ao Internacional, muita coisa se passou na carreira de D”Alessandro. Ainda júnior, antes mesmo de vestir a 10 do River, foi convocado por Marcelo Bielsa para a seleção principal. Na Libertadores de 2003, destruiu o Corinthians e deixou alguns queixos caí­dos no Brasil. Teria de escolher entre Barcelona e Juventus, diziam.

Mas o garoto que parecia predestinado a brilhar, que havia “começado a carreira do avesso”, como diziam os argentinos, perdeu-se pelo caminho. Foi parar no Wolfsburg, da Alemanha, e vagou por Portsmouth e Zaragoza até voltar ao futebol argentino, pelo San Lorenzo. Parece ter sentido o peso da expectativa criada em torno de si e de todo meia habilidoso que surge no futebol argentino: ser o substituto de Maradona. A tarefa de D”Alessandro no Inter não chega a ser tão inglória quanto substituir don Diego, mas não deixa de ser árdua. É ele o presente antecipado para o centenário colorado, em 2009; espera-se que ocupe a vaga de Fernandão no time e no coração da torcida.

Entre a contratação de D”Alessandro e sua inscrição junto à CBF, o Inter negociou por mais de 60 dias com San Lorenzo, Zaragoza e um grupo de investidores argentinos, e investiu 5,5 milhões de dólares ” a mais cara contratação da história do clube. Para comprar D”Alessandro, o Inter foi auxiliado pelo supermercadista e investidor Delcyr Sonda, que adquiriu 50% de seus direitos econômicos. Logo que acertou a transferência do Zaragoza para o Inter (pertencia ao clube espanhol, mas estava emprestado ao San Lorenzo), D”Alessandro fez um pedido: gostaria de jogar com a camisa 15, número com o qual conquistou, entre outras coisas, a medalha de ouro nos Jogos de Atenas, em 2004.

O desejo já deixa clara sua pretensão em terras brasileiras: “Espero ter no Brasil o mesmo sucesso de Carlitos [Tevez] e Mascherano. Sei que jogaram bem aqui e foram campeões brasileiros”, diz. Questionado sobre uma possível bronca com brasileiros (após a conquista do ouro em Atenas, teria se negado a dar entrevistas para a imprensa brasileira), D”Alessandro trata de desmentir. “Adoro o Brasil. Já passei férias em Salvador e admiro Pelé [nega-se a responder se o Rei foi melhor que Maradona], Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Lúcio e Roberto Carlos. Me encanta como vocês se divertem com o jogo”, diz.

Talvez D”Alessandro ainda demore a liderar o Inter, como fez no River Plate, com apenas 22 anos. Mas, desde o início, o meia de talentosa canhota e criador do drible “la boba” ” sua versão particular do elástico ” foi recebido como herói pelos colorados. Mesmo com um atraso de três horas no vôo que o trouxe ao Salgado Filho, mais de 300 torcedores o aguardavam em frente ao aeroporto. Sua chegada fez com que a massa irrompesse aos gritos. “Dá-lhe D”Alessandro/ Dá-lhe D”Alessandro/ Dá-lhe D”Alessandro”. Ao ver a inesperada cena, o argentino perguntou ao procurador Fernando Otto, entre a incredulidade e a emoção: “Isso tudo é para mim?”

Duas horas depois, D”Alessandro chegava ao Beira-Rio para assistir a Inter e Santos. Identificado nos camarotes do estádio, o meia passou a receber uma chuva de camisetas, bonés e casacos; todos queriam um autógrafo do novo ídolo. “Fiquei muito emocionado com aquela demonstração de carinho. Sinceramente, não esperava nada daquilo. Quero retribuir isso tudo com muitas vitórias”, diz. “Chego entusiasmado a um clube campeão do mundo e quero muito conquistar títulos pelo Inter. Principalmente a Libertadores.”

Se D”Alessandro é atencioso com os torcedores, o mesmo não se pode dizer de sua relação com a imprensa. Logo nos primeiros dias de treinos no clube, deixou claro que só dá entrevistas quando quer. Costuma abrir caminho entre microfones e câmeras, sempre com o mesmo mantra: “No, no, no, no falo hoxe…” No River Plate e no San Lorenzo, falava apenas uma vez por semana. No Zaragoza, idem. Quando passou pela Inglaterra, no Portsmouth, sequer era requisitado para entrevistas.

Guiñazú, D’Alessandro e Cavenaghi, jogadores argentinos do Internacional –

No vestiário, porém, D”Alessandro já fez amigos. Guiñazu, argentino como ele, chegou a trocar uma oferta do Al Jazira, dos Emirados Árabes  – o time de Abel Braga -, pela permanência em Porto Alegre. Além da família e do bom ambiente no Inter, na decisão de “El Cholo” pesou também a chegada do conterrâneo. “D”Alessandro é craque. Ele tem personalidade forte, claro, é argentino. Mas tem um toque brasileiro, uma categoria diferenciada”, afirma o camisa 5 do Inter. Além de Guiñazu, D”Alessandro diverte-se com o meia Taison, que costuma pegar no pé do argentino por causa do corte moicano. “Ele é muito gente boa. Às vezes, não entende o que a gente fala, mas logo entra no espírito e nas brincadeiras do grupo”, diz Taison.

Bem antes de chegar ao Inter, D”Alessandro já mantinha laços com o clube, ainda que por vias tortas. Seu ídolo de infância era o meia uruguaio Rubén Paz, que defendeu o Inter nos anos 80, antes de jogar pelo Racing-ARG. “Sempre admirei como ele manejava a bola. Espelhei-me muito nele no começo da carreira. É um ídolo e uma referência”, diz o jogador. E não é para fazer média com os colorados: D”Alessandro já havia se declarado fã de Rubén em 2003, a Placar.

QUADRADO COLORADO

D’Alessandro, Daniel Carvalho, Nilmar e Alex, jogadores do Internacional.

Caso Alex permaneça no Internacional, o técnico Tite poderá escalar, no segundo turno do Brasileirão, uma versão em vermelho e branco do quadrado mágico, com D”Alessandro, Alex, Daniel Carvalho e Nilmar. “Todos sabem que o D”Alessandro é muito habilidoso e tem uma variação grande de jogadas. Acho que o Inter tem um futuro brilhante com ele no grupo”, afirma Alex. Preocupado em não “roubar” a vaga de ninguém, o meia canhoto prontificou-se até mesmo a atuar pelo lado direito, deixando a esquerda com Alex, dono da função há pelo menos três temporadas. “D”Alessandro é um armador na essência: aquele jogador que faz a ligação para os homens da frente. Um cara rodado, experiente e que tem espírito de grupo. Além disso, é um grande cobrador de faltas”, afirma o técnico Tite.

Empenhado na contratação de D”Alessandro, o assessor de futebol do clube, Fernando Carvalho, ficou impressionado com a personalidade do meia. Durante uma conversa em Buenos Aires, D”Alessandro mostrou bom conhecimento do Inter e do futebol brasileiro. Além da idéia de voltar à seleção, o jogador disse ao dirigente que o desafio de brilhar no futebol brasileiro surgia como uma meta de vida aos 27 anos. “Ele tem tudo para ser destaque do Campeonato Brasileiro nos próximos anos. Joga demais e vai dar um toque diferenciado ao nosso futebol”, diz Carvalho.

Conhecido como “El Cabezón” ” apelido dado pelo pai, na infância, e que o acompanha até hoje “, D”Alessandro é famoso pelos dribles e também pelo temperamento explosivo. Nos tempos de Zaragoza, teve seus dissabores. Brigou com o amigo Pablo Aimar e com o técnico Victor Fernández. “Mas D”Alessandro amadureceu muito. Voltou com outra cabeça para o San Lorenzo e, creio, também terá melhor atitude no Inter”, afirma Diego Santonovich, repórter do jornal Olé. Mesmo tendo amadurecido, D”Alessandro já deixou claro que não irá abandonar seu estilo de dribles fáceis e jogadas que, por vezes, irritam os adversários. E garante não ter medo das botinadas de zagueiros enfurecidos. “Tenho consciência de que, na minha função, estamos expostos a sofrer faltas, por vezes, até mais ríspidas. Mas não tenho medo. Não vou deixar de ser eu mesmo. Serei o D”Alessandro de sempre”, garante. Os colorados agradecem.

De promessa a incógnita
Da base do River ao Inter, a trajetória da carreira de Andrés D¿Alessandro

D'Alessandro

RIVER PLATE-ARQ – 1999-2003
Estreou como profissional em 2000 e logo assumiu o posto de craque do time. Foi três vezes campeão do torneio Clausura (2000, 2002 e 2003). Marcou 23 gols em 98 jogos.

WOLFSBURG-ALE – 2003-2005
Contratado por 9 milhões de euros, não teve muito brilho na Bundesliga. Fez oito gols em 61 jogos e não conquistou títulos. Em sua última temporada, foi emprestado ao Portsmouth-ING.

PORTSMOUTH-ING – 2005-2006
Emprestado ao clube inglês, jogou 13 partidas da Premier League e marcou um gol (só um, mas um golaço, contra o Charlton). Ajudou o clube a se salvar do rebaixamento na última rodada.

ZARAGOZA-ESP – 2006-2008
Chegou por empréstimo ao clube espanhol, que depois adquiriu seus direitos federativos. Foi bem em sua primeira temporada, mas caiu de produção em seu segundo ano. Ao todo, disputou 50 jogos e marcou cinco gols.

SAN LORENZO-ARG – 2008
Chegou com o respaldo de Ramón Díaz, que havia sido seu treinador no River Plate. Jogou apenas 13 partidas, marcou dois gols e deixou o clube após a saída do treinador.

D'Alessandro e Francescoli

A dura herança de Don Diego

Elias Perugino

Todos eles já foram chamados de “o novo Maradona”. Eis o ranking dos que mais chegaram (ou podem chegar) perto de Diego.

1º Lionel Messi
É quem chega mais perto da categoria inalcançável de Diego. Capaz de decidir um jogo sozinho. Grande nome do Mundial sub-20 de 2005 e maior trunfo do Barcelona atual. Na Copa de 2006, esteve mais perto de levar a Argentina ao título que Maradona em 1982. Ainda lhe faltam cinco anos para ter a idade de Diego em 1986.

2º Carlos Tevez
Tem o carisma e a personalidade vencedora de Maradona ” e também nasceu em uma favela. Como jogador, se parece na potência do arranque, mas é menos habilidoso. Foi rei nos países “inimigos”, Brasil e Inglaterra. Artilheiro e grande nome do Ouro Olímpico de 2004. É o jogador mais querido pelo povo argentino na atualidade.

3º Sergio Agüero
Às vezes, mostra uma habilidade “maradoniana”. Estreou como profissional no Independiente aos 15 anos. É o único argentino bicampeão mundial sub-20 (2005 e 2007). Destaque no Atlético de Madrid, dá seus primeiros passos na seleção. Diferentemente de Maradona, que era meia, Agüero é um atacante que gosta de armar.

4º Juan R. Riquelme
Apesar de suas características ” futebol mais pausado, visão mais coletiva de jogo ” serem diferentes das de Maradona, de Román sempre se esperou a mesma importância de Diego na seleção. Passarela (1998) e Bielsa (2002) não o tiveram em conta na seleção principal ” coisa que fez Pekerman em 2006 e Basile deve repetir em 2010.

5º Ariel Ortega
Um ponta veloz e habilidoso, que com o tempo converteu-se em meia. Ídolo no River Plate, não repetiu o êxito na Europa (Sampdoria, Parma, Valencia e Fenerbahçe). Jogou sua primeira Copa aos 20 anos, em 1994, sendo o preferido de Maradona. Esteve em mais duas Copas (1998 e 2002). Pintou como o novo Diego, mas não pôde sê-lo.

6º Javier Saviola
Estreou no River aos 16 anos e causou furor. Atacante rápido e habilidoso, foi a grande figura do Mundial sub-20 de 2001, do qual foi artilheiro. Seguiu sua carreira em grandes clubes da Europa (Barcelona, Monaco, Sevilla e Real Madrid), mas com menos explosão que em seu início, e nunca se firmou como titular. Jogou a Copa de 2006.

7º Pablo Aimar
Sua aparição no River foi deslumbrante. Mostrava qualidades de meia e de ponta. Na Europa (Valencia e Zaragoza), ganhou maturidade e serenidade, mas perdeu explosão. Passou pelas copas de 2002 e 2006 sem muito sucesso; nunca se consolidou na seleção principal. Acabou muito longe de ser o novo Maradona.

8º Marcelo Gallardo
Típico organizador de jogo, com mais pausa que Diego, mas com menos brilho e mudança de ritmo. Marcou época no River Plate e teve campanhas aceitáveis no futebol francês (Monaco e PSG). Esteve nos mundiais de 98 e 2002, mas acabou preterido por outros jogadores, já que chegou lesionado a ambos. Nunca voou tão alto como se imaginava.

9º Andrés D’Alessandro
Canhoto como Diego, também teve uma aparição deslumbrante no River. Foi importantíssimo quando Argentina foi campeã mundial sub-20 em 2001 e um jogador a quem Bielsa deu muito respaldo na seleção principal. Sua passagem pela Europa o alijou da consideração do público argentino, que voltou a valorizá-lo ao redescobri-lo no San Lorenzo.

D’Alessandro, jogador do Internacional.
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