À PLACAR, Beckenbauer apontou o melhor entre Pelé e Maradona
Em entrevista à edição de outubro de 2003, o Kaiser, morto nesta semana aos 78 anos, exaltou sua relação com o Rei do Futebol; leia na íntegra
O futebol iniciou a semana de luto, com as mortes de duas lendas da bola, o brasileiro Mário Jorge Lobo Zagallo e o alemão Franz Beckenbauer, ambos campeões mundiais como atleta e treinador. Assim como o Velho Lobo, o Kaiser (Imperador, em alemão) foi tema de diversas reportagens em PLACAR e concedeu algumas entrevistas à revista. Numa delas, em outubro de 2003, Beckenbauer elegeu o maior atleta de todos os tempos, criticou o excesso de jogadores estrangeiros na liga alemã e lamentou a falha de Oliver Kahn na final da Copa do Mundo de 2002 diante do Brasil.
Beckenbauer, que chegou a jogar ao lado de Pelé no New York Cosmos, não titubeou no eterno debate sobre quem foi melhor: o rei ou o argentino Diego Armando Maradona? “Sem dúvida alguma, o melhor foi o Pelé. Durante 20 anos, ele esteve no topo. Os outros estão abaixo: Maradona, Cruyff, Platini, alguns até me colocam nesse nível…”, afirmou o alemão, em papo com o repórter Maurício Barros durante visita ao Brasil.
Beckenbauer revolucionou o futebol como o primeiro líbero ‘moderno’
O blog #TBT PLACAR, que todas as quintas-feiras recupera um tesouro de nossos arquivos, homenageia a lenda alemã, que morreu aos 78 anos, com a transcrição na íntegra desta entrevista:
“Nunca mais joguei futebol”
O Kaiser Franz Beckenbauer, presidente do Bayern de Munique e do Comitê Organizador da Copa 2006, fala da vida de cartola e mete a colher até na polêmica entre Pelé e Maradona
Por Maurício Ribeiro de Barros
O senhor se lembra do Müller, que esteve nas Copas de 1986, 90 e 94 com a Seleção Brasileira? Ele está na entrevista da outra página. Quem foi melhor: ele ou o xará Gerd Müller, seu companheiro na seleção alemã campeã do mundo em 1974?
Claro que lembro, os dois são atacantes e artilheiros. Mas acho que o melhor Müller é o nosso. Fez mais sucesso.
Aliás, como está hoje o Gerd Müller? Ele teve problemas com o álcool e o senhor até o ajudou…
Sim, o Gerd teve esses problemas, mas hoje está recuperado. Ele faz parte da equipe de treinadores do Bayern. Esses dias, recebeu uma homenagem e foi escolhido como o mais importante jogador alemão dos últimos 30 anos.
Ter muitos estrangeiros não prejudica o futebol europeu?
Há uma situação na Alemanha onde os clubes às vezes começam com 11 estrangeiros (risos). Os torcedores aceitam isso e vão para os estádios, porque nós nunca tivemos tantos espectadores como hoje. É assim em vários lugares, na Espanha, na Itália… Temos cada vez mais estrangeiros, e talvez eles estejam bloqueando o surgimento do talento nacional. O talento alemão está sentado no banco de reservas. Hoje, o estrangeiro tem prioridade.
Qual o melhor brasileiro que passou pela Alemanha? E o pior?
O melhor foi mesmo o Élber. Mas não existem jogadores brasileiros ruins. Todos sabem jogar bem futebol.
E por que o Élber saiu do Bayern depois de tantos anos?
Foi ele quem quis sair. Como o Bayern contratou o Roy Makaay, o Élber não queria correr o risco de ficar na reserva. Mas a imagem dele não foi arranhada. Os alemães o amam.
O Kaká foi vendido por 8,5 milhões de dólares, um preço considerado baixo para um talento como ele. Em 1998, o Denílson foi vendido por 30 milhões. Por que essa queda?
O poder financeiro dos clubes europeus decaiu. Na Alemanha, Espanha, Itália, os contratos com as televisões são menores. Não há mais tanto dinheiro.
Por que as equipes da Europa não dão muita bola para o Mundial de Clubes da Fifa?
Há muitas competições, são jogos demais. Tem a Copa dos Campeões, a Copa da Uefa, os campeonatos nacionais, as copas nacionais. As seleções jogam a Copa das Confederações, as Eliminatórias para a Eurocopa e para a Copa do Mundo. Isso sem contar os torneios sub-23, sub-20…
O senhor se arrependeu de ter virado dirigente?
Não. Foi uma decisão espontânea. Fui treinador da seleção por muito tempo. No final, já não tinha mais toda aquela vontade. Não consigo mais me imaginar no banco.
O senhor ainda bate a sua bolinha de fim de semana?
Não. Faz oito anos que não jogo mais. Quando fiz 50 anos, não quis mais jogar futebol. Estou velho demais. Nas últimas vezes que joguei, fiquei três dias sem poder andar direito por causa das dores. E, além disso, já não enxergo tão bem. Hoje, prefiro passear com o meu cachorro e jogar golfe.
No Brasil, costuma-se pegar no pé do jogador que gosta de tomar uma cervejinha. Na Alemanha também é assim?
Não, na Alemanha é diferente. Se um profissional toma sua cerveja, ninguém vê com maus olhos. Lá, as pessoas são bastante tolerantes sobre o que cada um faz da sua vida. Além disso, a maioria dos patrocinadores no futebol alemão é de cervejarias (risos).
Qual o melhor jogador do mundo hoje? E o melhor técnico?
Tem que olhar direto para o Real Madrid. O jogador mais completo é mesmo o Zidane. O melhor técnico é o Rudi Völler. Ele conseguiu levar a seleção alemã ao vice-campeonato do mundo no ano passado. E a equipe era apenas razoável. Isso é um mérito dele.
Brasileiros e argentinos vivem se pegando por causa do título de melhor jogador de todos os tempos. Quem, afinal, foi o melhor?
Sem dúvida alguma, o melhor foi o Pelé. Durante 20 anos, ele esteve no topo. Os outros estão abaixo: Maradona, Cruyff, Platini, alguns até me colocam nesse nível…
Aqui no Brasil, ficou a impressão de que o goleiro Oliver Kahn é um tremendo mau-humorado. Isso é verdade?
Às vezes ele passa essa impressão (risos). Mas acho que é mais uma capa de proteção que ele criou. É que muita gente o procura: jornalistas, fãs…
O senhor acha que o Kahn falhou na final da Copa?
É, ele soltou o chute do Rivaldo… Mas foi a única falha na Copa inteira. Só que, nessa falha, foi decidido o Mundial.
Como está o clima entre os alemães para receber a Copa?
Os alemães estão muito felizes e não vêem a hora de começar a Copa. A gente percebe a alegria das pessoas. Se o Brasil se classificar, então, a alegria fica total.