Por que Rogério Ceni fazia questão de usar meias brancas
Superstição do ídolo do São Paulo, revelada em reportagem de PLACAR em 2000, chegou a causar confusões com a arbitragem da época; entenda
O ex-goleiro Rogério Ceni é o jogador com mais títulos (18) e jogos disputados (1237) pelo São Paulo Futebol Clube, único clube que defendeu, entre 1992 e 2015. Ao analisar o álbum de fotos da carreira do ídolo tricolor é possível notar uma coincidência: enquanto as cores e desenhos das camisas variaram bastante, as meias foram quase sempre na cor branca. Não é mera obra do acaso: Ceni fazia questão de utilizar a cor predominante do uniforme tricolor, o que nem sempre foi simples ou possível.
Em edição de PLACAR de dezembro de 2000, Rogério explicou a sua preferência, em reportagem assinada por Arnaldo Ribeiro:
Nos jogos, segundo Rogério, o sucesso de uma cobrança depende, digamos, das condições climáticas e espirituais. O ideal é um dia sem vento, chuva e em que ele, acima de tudo, esteja vestindo meias brancas, uma de suas raras, mas indispensáveis superstições. “Não me sinto bem quando não estou sem meiões brancos, não sei o motivo. Faço questão de usar.”
A mania de Rogério nem sempre era aceita pelos árbitros, por uma razão óbvia: o próprio São Paulo utilizava meiões brancos em seu uniforme titular e eventualmente os adversários, e a regra do jogo diz que a roupa dos goleiros não pode causar choque com a de atletas de linha ou juízes. A solução encontrada por Rogério foi, muitas vezes, usar meias brancas, mas com detalhes diferentes dos companheiros ou mesmo “ganhar no grito” – ou então, caso não houvesse solução, vestir meias brancas por baixo das exigidas pelo arbitragem.
O ex-árbitro Oscar Roberto de Godói contou recentemente, em entrevista ao podcast Benja Me Mucho. que a superstição de Rogério era motivo de discussões (e risadas) nos bastidores.
“Com o Rogério eu já discutia no preenchimento da súmula. Era superstição dele jogar com a meia branca, e os jogadores de linha também usava meia branca. E ele dizia que uma tinha listras e a outra não. E eu perguntava: que cor é a sua meia e qual a cor da meia dos seus companheiros, c******? Eu cheguei a comprar um par de meia cor laranja e mandava o quarto árbitro entregar a ele se ele não tivesse outra, mas ele nunca usou (risos). Era um circo. Ele testava o árbitro, né, tinha personalidade forte. Se o juiz perdesse no par de meias, imagina quando marcasse um pênalti?”
O fato é que, com vistas grossas da arbitragem ou não, Rogério Ceni viveu os momentos mais gloriosos de sua carreira vestindo meiões brancos, como as conquistas da Libertadores e do Mundial de 2005 e o centésimo gol da carreira, em clássico diante do Corinthians, em 2011.