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Brasileirão

Peladeiro, rei da resenha… Reinaldo, o King, quer ser levado a sério

Caricato lateral tenta se desgrudar da fama de ser só uma figura folclórica no futebol. Mais maduro e no sossego de Mirassol, o jogador de inconfundível sorriso luta para provar que merece respeito como um dos melhores do país

Publicado por: Guilherme Azevedo e Klaus Richmond em 23/05/2025 às 15:00 - Atualizado em 23/05/2025 às 15:50
Peladeiro, rei da resenha… Reinaldo, o King, quer ser levado a sério
Lateral-artilheiro quer ser olhado pelo que faz dentro de campo - Mirassol FC/Divulgação

Entrevista publicada na PLACAR de maio, edição 1523, já disponível em nossa loja e no formato digital

A figura brincalhona e descontraída da televisão e das redes sociais, de riso fácil e de presença leve, não é um personagem: Reinaldo é assim mesmo, exatamente o que aparenta.

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Carismático e despojado, o lateral-esquerdo de fato não passa muito tempo sem exalar bom humor. Seja com um sorriso contido ou uma gargalhada escancarada, bastam alguns minutos de conversa para entender por que sua personalidade conquistou tanta fama.

Constantemente elogiado por seus companheiros, ele aceita bem os apelidos de Kingnaldo ou de Rei da Resenha. Mas hoje, aos 35 anos e como uma das principais referências do Mirassol, faz questão de destacar: não deve ser confundido somente como um personagem folclórico – e merece, sim, ser levado a sério.

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“Tem pessoas que ainda confundem. Dentro de campo, a parte da brincadeira fica um pouco de lado. Sou um jogador que quer muito, que briga muito”, conta à PLACAR.

Os números ajudam a sustentar o discurso de autodefesa. De acordo com números do Sofascore até o fim de abril, ele é o lateral mais consistente somando todas as últimas dez edições do Campeonato Brasileiro. São 290 jogos, 34 gols e 36 assistências, dados que colocam para trás qualquer tentativa de rotulá-lo como “peladeiro”.

Os números de peso do King - Reprodução/Placar

Os números de peso do King – Reprodução/Placar

Nem mesmo ao tratar do tema mais incômodo, o alagoano perde a leveza no semblante. “Um peladeiro com números desses é alguém que se dedica muito, não é?”, cutuca, rindo.

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A declaração traduz a convicção de quem saiu da pequena Porto Calvo, no interior alagoano, trabalhando como feirante, servente de pedreiro e até de abatedor de aves em um frigorífico, sem formação completa nas categorias de base, para construir passagens de sucesso por São Paulo, clube em que mais atuou na carreira, mas também por Grêmio, Ponte Preta, Chapecoense e outros.

A história, ele garante, ainda está longe de acabar: “Nem faço projeções de parar, amo muito o futebol”.

Autor de cinco gols na temporada pelo Mirassol, Reinaldo escolheu o sossego do interior paulista para mostrar que ainda tem muito mais lenha para queimar. Contudo, não se surpreenda se no futuro ele aparecer de terno e gravata atuando nos bastidores do futebol. “Quem sabe, quem sabe…”. O King é um caso sério.

Confira a entrevista completa:

Como estão os primeiros meses em Mirassol? Aqui é bem perto de Penápolis, onde morei no começo de carreira. Mirassol é uma cidade bem tranquila para se viver bem com a família. Em Porto Alegre ou em São Paulo havia muita pressão. Quando perdia, não dava pra ir ao restaurante ou ao shopping para passear, por exemplo. Aqui tem cobrança, claro, mas sem afetar muito o jogador nem nossos familiares. Quando jogava mal, as críticas acabavam indo para eles também, escutavam muitas coisas. Interiorzinho, tranquilidade. Lugar quente e gostoso de se morar.

Na saída do Grêmio, você disse que ainda tinha condições de ficar e ajudar para 2025. O que houve, afinal? E por que optou pelo desafio? Eu acompanhava o Mirassol de longe, notava que sempre montava times competitivos. A estrutura aqui, então, nem se fala. Tudo isso pesou. O Paulinho (coordenador técnico, ex-Corinthians) me falou muito do clube, da cidade e dessa calmaria. Sinto que tinha condições de permanecer no Grêmio, mas optaram por uma renovação no elenco. E aceito, está tudo bem. Após a ligação do Paulinho, falei com a minha esposa e a nossa escolha foi bem fácil. Sinto que foi a melhor coisa que fizemos. É um time muito bom, competitivo, com uma boa comissão técnica, excelente gestão… Sem falar da estrutura de fisioterapia, de academia e os campos. Tranquilidade não tem preço.

Reinaldo e Suárez juntos no Grêmio; foram 95 jogos, 9 gols e 10 assistências pelo Imortal - Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Reinaldo e Suárez juntos no Grêmio; foram 95 jogos, 9 gols e 10 assistências pelo Imortal – Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Para quem não conhece, qual é o diferencial do CT do clube? Foram mais de R$ 15 milhões investidos. Sim, tem todos os aparelhos de alta performance, tudo com muita qualidade. São quatro campos muito bons, um centro de recuperação com piscina, banheiras, sauna, quartos para descanso, tudo o que um atleta profissional precisa. Pesando os lugares que já passei, o Mirassol não deve para nenhum. Tem uma grande estrutura que nos fará crescer ainda mais no cenário do futebol brasileiro. Espero que a gente consiga realizar o sonho de ficar na Série A em 2025 e por muitos anos.

Você carrega a fama de ser uma figura querida e engraçada. O mesmo aconteceu com Rodinei, outro bom lateral. Acha que as pessoas confundem um pouco esse olhar caricato do jogador eficiente? Sim, tem pessoas que ainda confundem o fato de eu ser brincalhão com o que faço dentro de campo. Quando jogo, sou nervoso, quero muito, brigo muito. Então fica de lado a parte da resenha, que é mais para o vestiário com os meus companheiros. Se um dia virar treinador, quero ter caras como o Rodinei ou o Reinaldo porque animam o grupo, colocam para cima a rapaziada, sabe? Existe a hora de brincar e de estar sério dentro de campo, desde o dia a dia nos treinos até os jogos. Com todo o respeito aos treinadores que passaram pela seleção, mas o Rodinei devia ter uma oportunidade porque é um cara que entrega muito desde o Internacional, passando pelo Flamengo e agora no Olympiacos. Ele poderia ajudar muito, está atuando em alto nível lá na Grécia. Então, tem que parar um pouco de levar essa face brincalhona de fora de campo para dentro. Mas chega uma hora que as pessoas vão percebendo que precisam de caras assim: que brincam, mas levam muito a sério a profissão.

Rodinei em ação pelo Olympiacos; ex-Flamengo, lateral foi campeão europeu e é titular absoluto na Grécia - Andrej Cukic/EFE

Rodinei em ação pelo Olympiacos; ex-Flamengo, lateral foi campeão europeu e é titular absoluto na Grécia – Andrej Cukic/EFE

Acredita que essa visão pública, de ser o cara da resenha, te atrapalhou em chegar ainda mais longe? Hoje estou mais maduro, com 35 anos. A lateral é uma posição carente, e com o que eu joguei e ainda estou jogando desde o São Paulo, com certeza. Merecia ser lembrado [para seleção], mas, infelizmente, não fui. E respeito. Tem gente que pesa o fato de ser um cara brincalhão, mas em campo procuro me doar e deixar tudo para ajudar meus companheiros com gols ou assistências como tenho feito durante esses anos.

Houve algum episódio que o fez refletir um pouco mais sobre tudo isso? Houve, mas não vou citar nomes. E eu sempre vou ser o mesmo cara, isso não tem jeito. Posso estar rindo, mas ao mesmo tempo bravo por não estar jogando, p… da vida. Só que, na hora que eu tiver que dar risada e brincar com meus companheiros, vou fazer. Acho que tem alguém que fica analisando: “Olha lá, ele não está jogando, mas fica lá dando risada, não está nem aí…”. Não é que eu não esteja nem aí, só sou feliz por causa de onde saí e onde estou hoje. Não tenho direito de ficar triste por alguma situação. Sou um cara realizado na vida: tenho uma família abençoada e isso me motiva todos os dias a estar dando risada e ser feliz. Isso ninguém vai tirar de mim, porque é a minha essência. Eu amo ser assim, amo quando alguém se senta do meu lado e dá risada, se sente acolhido. De onde eu saí, não foi fácil chegar.

No Leão, Reinaldo faz parceria com outros nomes experientes, como Léo Gamalho; são 5 gols e 4 assistências em 20 jogos - Agência Paulistão

No Leão, Reinaldo faz parceria com outros nomes experientes, como Léo Gamalho; são 5 gols e 4 assistências em 20 jogos – Agência Paulistão

Nessa sua face mais madura, sente hoje uma característica maior de liderança? Sim, sinto que conquisto as pessoas para que possam estar mais perto de mim, ter segurança para desempenhar seu melhor. Até quem está de fora vê que como eu sou um líder no vestiário, no dia a dia, mas um líder que deixa tudo mais leve e tranquilo para os meus companheiros, para os funcionários. E será assim enquanto jogar e depois também quando for fazer outras coisas.

E com tantos números favoráveis, como responde a quem te chama de peladeiro? Acho que os torcedores nos cobram muito que entreguemos gols e assistências todo jogo, e não é assim. A gente sabe o quanto é difícil o Campeonato Brasileiro, jogar contra qualquer equipe. Então eu procuro estar sempre em alto nível, seja marcando, seja enxergando na frente, mas quando as coisas não acontecem, aí vêm as críticas, não é? Os torcedores falam: “é peladeiro, é peladeiro”. Mas um peladeiro com números desses é um cara que trabalha muito, não? Que entrega muito. Em todas as equipes em que passei, eu entreguei. Sempre tive bons números, sempre estou disponível para jogar e dar a cara para bater. Para o bem ou para o mal, sempre pronto para ajudar meus companheiros e o clube onde estou. Graças a Deus tenho poucas lesões. Sou chamado de peladeiro porque querem que a gente jogue sempre, dê assistências, gols… e sabemos que não é assim.

Na Chape, o King iniciou a retomada na carreira e se transformou em batedor de pênaltis - Divulgação/Chapecoense

Na Chape, o King iniciou a retomada na carreira e se transformou em batedor de pênaltis – Divulgação/Chapecoense

O peladeiro é um cara pouco obediente taticamente. Você se vê assim? Sou um lateral que gosta de chegar muito na frente, mas muito (risos). Gosto de atacar, de dar passes, de cruzar… e me cobro muito nessa parte defensiva também. Eu sei que eu não sou um exímio marcador, mas eu tento fazer o meu melhor. Por onde passei, sempre fiz meus gols, dei minhas assistências, mas tenho contribuído bastante atrás. Ajudo os meus companheiros orientando, ainda mais agora mais maduro, e fechando os espaços.

Houve momentos delicados na sua carreira. Em algum deles chegou a pensar em desistir? Acho que 2014 foi o mais difícil. Em 2013 havíamos brigado para não cair, então os torcedores [do São Paulo] queriam mais de todos os atletas. E, quando não rendemos, atorcida começa a pegar no pé. Nessa época eu acompanhava muito as redes sociais e isso acabou um pouco comigo psicologicamente. Mas em 2015, no momento em que o meu filho nasceu, foi algo maravilhoso. Procurei me apegar  a ele, a minha esposa, e conversava sempre com jogadores experientes como Michel Bastos, Luis Fabiano, Ganso e outros. Esses caras me ajudaram com conselhos, me incentivaram a sair por empréstimo quando não ia ser aproveitado. E me apeguei a isso. E isso foi muito importante para mim e para o meu crescimento. Depois, pude ajudar muito o São Paulo nas competições e na conquista do Paulista.

Na Ponte, boa passagem de um ano selou o retorno ao Tricolor Paulista - Alexandre Battibugli/Placar

Boa passagem de um ano pela Ponte selou o retorno ao Tricolor Paulista – Alexandre Battibugli/Placar

Hoje há muito cuidado com a saúde mental. Precisou fazer algum tipo de acompanhamento psicológico? Ainda faz? Eu acho muito importante. Quem tem algum problema, tem que procurar ajuda. A minha esposa estava sempre conversando comigo, me dando forças. E eu procuro, em todos os clubes que eu passo, ver aquele jogador que é mais calado, mais quieto, para conversar. As pessoas que são mais fechadas, que guardam muita coisa para si, não liberando suas emoções, acho muito importante estarmos atentos. Tive o privilégio de pegar muitos treinadores experientes, como o [Paulo] Autuori, o Muricy [Ramalho] e o [Fernando] Diniz, que é um cara formado nisso, e sempre procuravam nos ajudar fora de campo. Diniz gostava de falar com cada um individualmente, isso é muito importante. Os treinadores não podem só ficar dentro de campo, precisam se preocupar com o atleta. Meus últimos dois anos foram maravilhosos com o professor Renato Gaúcho, também, um cara que dispensa comentários nessa questão de relacionamento. Falo aos jogadores: quem estiver com problema, procure ajuda, libere suas emoções e seja feliz. Sou muito feliz, para cima, e quero poder sempre estar ajudando quem está do meu lado também.

No São Paulo, você parece guardar o título estadual de 2021 como algo especial. Por que significou tanto? A única coisa que eu lamento naquele ano foi não ter tido o Morumbi lotado por causa da pandemia. Esse título paulista é muito importante até hoje para mim e para aquele elenco que estava lá, porque abriu as portas. Com ele, o São Paulo conseguiu fazer grandes elencos e voltar a brigar tanto no Brasileiro como na Copa do Brasil. Trouxe a confiança de volta. Tenho certeza de que é o mais importante da minha carreira por tudo o que eu passei ali dentro, mas também por tudo o que o São Paulo estava passando, com tantas decepções em 2014, em 2019… Ficou marcado não só para mim, mas para todos os meus companheiros e todos os torcedores.

Conquista do Paulista que pôs fim ao jejum tricolor e considera o mais importante da carreira - Rubens Chiri/São Paulo FC

Conquista do Paulista que pôs fim ao jejum tricolor e considera o mais importante da carreira – Rubens Chiri/São Paulo FC

Em alguns momentos, houve interesses de clubes como Trabzonspor, Al Ahli… Pensa em como teria sido sua vida fora do país? Penso, sim, mas sempre entreguei tudo na mão de Deus, sabe? Para que sempre pudesse ser à vontade Dele. Eu poderia ter ido? Sim, foi por um pouco com o Al Ahli. Chegou a proposta, mas o São Paulo na época só contava comigo para a lateral esquerda, os demais haviam machucado. Então o clube optou por não me liberar e renovou o meu contrato por mais dois anos na época. Isso também foi muito importante para mim. Sonhei estar no São Paulo desde a Penapolense, então a cada renovação, a cada ano crescia a minha gratidão. Se fosse bom para mim e bom para eles, eu iria. Se não, como ocorreu, eu fiquei e tive muitos anos incríveis. Poderia ter dado super certo lá fora, mas também é um ponto de interrogação. Ninguém sabe. Sou realizado e feliz em ter permanecido, ainda mais olhando a minha história aqui no Brasil, tendo reconhecimento e sabendo que foi tudo permissão de Deus.

 

Pensa em estender a carreira até os 40, 41, ou sente que já está chegando ao fim? Gosta de ver outros jogos e estudar futebol? Até onde o meu corpo aguentar, eu vou jogar. Amo muito futebol, então vou desfrutar até o último momento porque foi tudo o que eu sonhei quando criança, quando morava em frente ao campo. O meu pai era dono de time e eu o acompanhava. Então, por enquanto, eu vou jogando. Estou atuando em alto nível, ajudando os meus companheiros. E gosto muito de ver futebol, de viver o dia a dia, principalmente. Então eu me vejo inserido nisso. Vou estudar, claro, para fazer alguma coisa como ser um gerente ou cuidar da carreira de alguns moleques que forem subindo. Talvez ser olheiro. Mas preciso estudar para vir para o clube todos os dias e trabalhar nisso quando chegar o momento.

Então não é muito sonhar com você de terno um dia como o Crespo? Pensa em virar treinador? Não é muito, não (risos). Mas me vejo mais como um auxiliar de alguns jogadores com quem eu joguei. Vai que o Diego Souza vira um treinador e me chama para ser seu auxiliar? Ou o Nenê? Quero primeiro estudar. Depois, quem sabe? Mas me vejo mais como um auxiliar, creio que posso acrescentar muito na comissão de alguém. Quando encerrar, podem me chamar que estou dentro.

Reinaldo com Crespo ao fundo: dupla fez parceria no São Paulo em 2021 - Paulo Pinto/São Paulo FC

Reinaldo com Crespo ao fundo: dupla fez parceria no São Paulo em 2021 – Paulo Pinto/São Paulo FC

O que acha que deixa para o futebol? Espero estar ensinando com essa minha alegria para que todos sempre desfrutem. Desfrutem da vida e de todos os momentos. Que aprendam e possam ser felizes assim como eu sou. Um cara para cima, do bem, que quer sempre a felicidade de todos.

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