Grande sensação do Brasileirão, técnico de 44 anos falou sobre referências, estilo "funcional" e trajetória; confira entrevista exclusiva
O Mirassol é um dos destaques do Campeonato Brasileiro. Após a disputa do primeiro turno, o time do interior paulista se encontra na sexta posição, com campanha de poucas derrotas e bom futebol. Um dos principais responsáveis pela façanha é o técnico Rafael Guanaes.
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De carreira sem grandes badalações como atleta e repleto de experiência em cenários menores, o profissional de 44 anos ainda prega calma.
Estreando na elite justo no ano de seu centenário, o Mirassol tem 29 pontos após 18 jogos e vai a campo neste domingo, 24, contra o Fortaleza, no Castelão, para tentar se aproximar do G4. No entanto, o treinador reforça a dificuldade do campeonato, em entrevista exclusiva à PLACAR.
“É cedo. O Brasileiro é uma competição extremamente desafiadora, especialmente no segundo turno, que considero ainda mais difícil. Por mais que tenhamos atingido essa colocação e um desempenho que chama atenção, aqui dentro estamos conscientes das dificuldades. O caminho é o mesmo: se soubermos para onde estamos indo e onde queremos chegar, há menos chance de oscilações.”
A cautela de Guanaes dialoga com o modo como o Mirassol se estruturou nos últimos anos. A chegada do treinador, após passagem pelo Atlético Goianiense, não foi sustentada por promessas de resultados ou garantias de permanência no cargo, mas por uma sintonia de ideias.
Rafael Guanaes comanda a boa campanha do Mirassol – Divulgação / Mirassol FC
“Esse tipo de promessa não existiu. Eu já conhecia bem o clube e as pessoas daqui também já me conheciam. Sempre esteve claro que uma temporada de sucesso seria a permanência na Série A. Isso não nos impede de, no momento certo, desenhar novos objetivos. Mas, neste primeiro momento, o foco total é somar os pontos necessários para permanecer”, disse.
Essa visão, segundo o treinador, se conecta diretamente ao trabalho do vice-presidente Junior Antunes: “O Juninho é o nosso grande líder estratégico, o maior responsável por hoje o Mirassol viver esse contexto de Série A, conseguindo se desenvolver e crescer. Ele pensa muito nos aspectos de ambiente, desempenho, melhores práticas e ferramentas para que todos nós possamos trabalhar bem em prol do clube.”
Ex-jogador de carreira discreta, encerrada no Joseense, Rafael partiu para a Campbell University, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, para estudar Educação Física. Formado posteriormente em cursos de capacitação da CBF e da ATFA (Associação de Treinadores de Futebol da Argentina), Guanaes acumulou experiência em diversos contextos.
Atuante, passou pelas categorias de base no Athletico Paranaense, foi auxiliar no Cruzeiro e comandou divisões inferiores. Assim, à frente de clubes como Tombense, Votuporanguense e Sampaio Corrêa, o estudioso revela ter criado uma casca importante para o atual momento.
Uma das experiências de Rafael Guanaes foi no Athletico Paranaense – Divulgação / Athletico
“Trabalhar em condições limitadas aguça a criatividade, faz buscar soluções, não apenas reclamar de problemas. Já vivi os dois mundos: clube pequeno com boa estrutura, clube grande com dificuldades. Essas experiências vão contribuindo para aumentar o repertório e dar mais ferramentas para lidar com fatores externos, gestores, resultados”, afirma.
O Mirassol de 2025, algoz de gigantes, tem se destacado pela capacidade de se adaptar aos adversários sem perder sua identidade. Essa dualidade, explica o treinador, é o que sustenta o desempenho.
“Nossa essência é sempre a mesma: pressionar e ter a bola. Queremos estar o mais longe possível do nosso gol. Em alguns momentos, somos obrigados a baixar o bloco, mas nunca por opção, sempre pela imposição do adversário”, inicia.
“Vejo o Mirassol como equilibrado e versátil. Contra o Cruzeiro, por exemplo, tivemos menos posse, mas produzimos mais ataques. Contra o Flamengo, terminamos com mais posse que eles, mesmo no Maracanã. A essência, pressionar e jogar, nunca muda”, conclui.
Rafael Guanaes se considera um apaixonado por futebol. Com isso, por dentro dos principais debates da atualidade, não esconde suas preferências: “Eu gosto de um jogo mais funcional. Mas não sou o cara que vai falar que tais pensamentos estão errados ou certos. Há várias ferramentas para construir, mas o essencial é saber o que você quer.
Mirassol fez grandes partidas no ano – Pedro Zacchi/ Agência Mirassol
“Modelar a equipe, potencializar o indivíduo, ajustar conforme contexto, sabendo ter humildade para ouvir, mudar, cercar-se de uma equipe boa. Criatividade nasce da prática, o nosso cérebro é plástico”, concluiu.
Se a prática define o método, as referências de Guanaes ampliam a base conceitual. Entre suas referências, ele cita nomes de estilos contrastantes, do futebol e até de outros esportes.
“Do Fernando Diniz, admiro o jogo aposicional próprio. De Pep Guardiola, gosto da capacidade de ser o melhor naquele contexto de grandes investimentos. Do Diego Simeone, me inspiro na intensidade e clareza. Do Tite, bato palmas para gestão. Também gosto do Bernardinho, do vôlei, e do Phil Jackson, do basquete”, refletiu o profissional.
Rafael ainda completa: “Minha forma de treinar é artesanal, sai de várias interpretações próprias. Não é copiar, mas aprender, reformular e aplicar dentro da minha visão.”
Atualmente, então, a busca por evolução passa pela neurociência, graduação que cursa remotamente. Segundo o treinador, esse estudo faz parte de uma busca por conhecimento em diversas áreas, que casa com a vontade de conhecer com profundidade aspectos como comportamentos, emoções e nuances mentais de cada indivíduo.
Fã de jogos de “treinador de futebol”, como o Football Manager, Rafael Guanaes destaca aspectos da vida pessoal como essenciais no seu desempenho. De acordo com o próprio, seu estilo de vida pode ser definido como “família” e “simples”.
Esse equilíbrio pessoal, segundo ele, é o que sustenta a serenidade no trabalho. Nessa linha, admite sonhos, mas a todo momento busca retomar o foco e pontuar a necessidade de manter o foco no Brasileirão.
Mirassol e Guanaes se acertaram neste ano – Divulgação / Mirassol
“Zero papo sobre 2026 e o que fazer no ano que vem. O foco é manter os pés no chão e permanecer na Série A. O segundo turno é ainda mais difícil, porque clubes eliminados de outras competições passam a focar no Brasileiro. Cada jogo exige o nosso máximo e só depois de atingir o primeiro objetivo, que é a permanência, será hora de planejar o futuro”, frisou.
O Mirassol de Guanaes ocupa no momento uma posição que garantiria classificação à Libertadores de 2026. Recém-promovido para a primeira divisão, o time do interior paulista ainda não perdeu como mandante no Brasileirão deste ano.
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