Há algo de simbólico no gramado de um estádio. Ele é, ao mesmo tempo, palco e personagem do futebol. É sobre ele que se constrói o espetáculo, onde o talento floresce e a paixão coletiva ganha forma. Ainda assim, o gramado brasileiro vive sob uma pressão sem precedentes, resultado direto de um calendário extenuante, estádios pouco adaptados à realidade climática e decisões que priorizam o lucro imediato em detrimento da qualidade do jogo e da saúde dos atletas.
Nosso país tem dimensões continentais, e isso por si só já torna a tarefa complexa. Uma grama que se adapta bem ao clima de Belém não necessariamente terá o mesmo desempenho no Paraná. É por isso que o trabalho de estudo e adaptação de variedades é tão essencial. No centro de pesquisas da Itograss, em Ribeirão Preto, testamos espécies desenvolvidas em centros de pesquisa mundo afora, especialmente Universidades dos Estados Unidos, avaliando seu comportamento nos diversos biomas brasileiros. Por trás de um campo verde e uniforme, há anos de ciência e tecnologia.
Mesmo com todo o avanço científico, o maior desafio do gramado no Brasil é estrutural: o país tem a maior carga de jogos do mundo. Por exemplo, no ano em que o Liverpool e o Flamengo foram campeões (Champions League e Libertadores, respectivamente), o Maracanã recebeu quase três vezes mais jogos do que o estádio do time inglês (mais de 100 jogos contra pouco mais de 30).
A polêmica sobre os estádios de grama artificial do futebol brasileiro
Soma-se a isso a intensidade crescente do futebol moderno: atletas mais fortes, campos menores (reduzidos pela Fifa desde 2014) e um jogo cada vez mais concentrado em espaços curtos. O resultado é uma pressão brutal sobre a grama, que precisa ter capacidade de regeneração quase imediata. Eventos paralelos, como shows e festivais, agravam o desgaste.
Outro fator crítico é a luz, ou a falta dela. As novas arenas, com suas coberturas amplas, projetam sombra sobre boa parte do campo. A grama, ser vivo que depende da fotossíntese, sofre com a redução da luminosidade. Mesmo com tecnologias suplementares, como iluminação artificial e irrigação controlada, a escolha da variedade certa continua sendo determinante.
Diante dessa realidade, é preciso reconhecer que manter um gramado natural em bom estado só é possível quando há planejamento desde o plantio, na fazenda, até à manutenção, no estádio. Hoje há soluções que já estão ao nosso alcance. Tecnologias como o Ready to Play e o Play on Time, que desenvolvemos em parceria com a empresa americana Carolina Green, permitem trocas rápidas e precisas do gramado, garantindo superfícies novas e resistentes em poucos dias, sem abrir mão do natural. Essa inovação já é aplicada nas principais ligas do mundo, e começa a ganhar força também no Brasil.





