Matéria publicada na edição 1529 de PLACAR, de novembro de 2025, já disponível em versão digital e física em nossa loja

Está tudo errado no futebol brasileiro. A arbitragem, que deveria ser o ponto de equilíbrio do jogo, virou o retrato da desorganização que domina o esporte no país. Não há hoje um árbitro sequer em quem se possa confiar. Nenhum. O caso de Ramon Abatti Abel, que falhou feio ao não marcar um pênalti claríssimo no clássico entre São Paulo e Palmeiras, fritou um juiz que já havia apitado uma final de Olimpíada. E tudo isso só expõe a ponta de um iceberg de desmandos, falta de preparo e ausência de comando.

O VAR, que nasceu para corrigir injustiças, se transformou em um tribunal confuso, barulhento e burocrático. É um amontoado de gente diante de telas, opinando sem critério e sem convicção. É como se a cabine fosse um botequim digital, onde cada um dá um palpite. O árbitro, que deveria ser o condutor da partida, tornou-se refém da tecnologia e das vozes que o cercam.

Sempre digo: arbitrar um jogo de futebol é como dirigir um carro. É preciso estar concentrado, descansado e seguro. Agora, imagine dirigir em uma estrada movimentada, falando ao celular, mexendo no rádio e ouvindo várias pessoas dando ordens diferentes. É exatamente assim que o árbitro atua hoje. Ele entra em campo pressionado, cansado e sem confiança. O resultado é o que vemos toda semana: indecisão, demora e falta de autoridade.

Até o quarto árbitro, que deveria apenas levantar a placa e substituir o juiz em caso de emergência, passou a se meter nas decisões. Já vi um correr 30 metros para apartar briga, como se fosse policial. Quando todo mundo tem poder, ninguém tem autoridade. O árbitro de campo virou coadjuvante, o bandeirinha é quase figurante. Qualquer lance duvidoso é paralisado para revisão, e quanto mais se olha, menos se decide.

'É um amontoado de gente diante de telas, opinando sem critério e sem convicção', diz o ex-árbitro - Divulgação/CBF