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Wellington Tanque, o parceiro de Iniesta, David Villa e Podolski

No Japão há três anos e meio, atacante teve propostas de Chapecoense e Internacional, mas preferiu ficar no Vissel Kobe ao lado dos campeões mundiais

O grandalhão Wellington Luís de Sousa nasceu em Ourinhos, interior de São Paulo, mas iniciou sua carreira no futebol gaúcho. Desde os tempos de base, quando trocou o Grêmio pelo Internacional e ganhou o apelido de Wellington Tanque, por causa de seu quase 1,90 metro, até hoje, aos 31 anos, segue com uma feliz coincidência na carreira: sempre esteve cercado de grandes estrelas do futebol mundial. Atualmente, divide vestiário e resenhas com três campeões mundiais, o alemão Lukas Podolski e os espanhóis David Villa Andrés Iniesta, no clube japonês Vissel Kobe.

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“O Iniesta não tem vaidade, ele até nos deixa constrangidos com tanta humildade”, conta o brasileiro que ganhou destaque aos 15 anos, quando o Inter foi acusado “roubá-lo” do rival Grêmio. Na base do Colorado, jogou com Luiz Adriano, Alexandre Pato, e Taison, todos com passagem pela seleção brasileira. Com os dois últimos, divide uma história de cumplicidade: uma cinematográfica fuga da concentração que culminou no primeiro encontro com sua futura esposa, Bianca, com quem tem três filhos.

Ele também jogou na Alemanha e na Holanda e esteve no elenco do Twente, campeão holandês pela primeira e única vez na temporada 2009/2010. Há três anos e meio no organizado futebol japonês, mantém o sonho de retornar ao Brasil e ser destaque no campeonato nacional.

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Nesta entrevista, Tanque falou de sua idolatria pelo sueco Zlatan Ibrahimovic, contra quem jogou em amistoso no começo do ano, e contou suas experiências, sonhos e os problemas em onze anos de carreira profissional.

Como é jogar ao lado de três campeões do mundo como Iniesta, Villa e Podolski? O Villa chegou há pouco tempo, e tenho ótimo relacionamento com eles, principalmente com o Iniesta. É um sujeito fantástico. Não só como jogador, mas como amigo. Ele me surpreendeu muito. Não tem vaidade, é de uma simplicidade absurda, tem uma humildade que impressiona. Conheço o Villa e o Iniesta há seis meses, o Podolski há um ano e meio. É meio surreal  jogar, treinar e conviver com eles. É difícil de acreditar, parece um sonho.

Jogar com estrelas ajuda? Ajudaria muito mais se nosso time tivesse em bom momento no final do ano passado. Fiz mais gols antes da chegada do Iniesta, antes da Copa do Mundo na Rússia, quando o Podolski estava machucado. Foi meu melhor momento no clube, mas depois, com a saída do técnico japonês Takayuki Yoshida para a chegada do espanhol Juan Manuel Lillo, o desempenho do time e o meu caíram. Se tivesse feito mais gols com esses jogadores em campo, iria aparecer muito mais.

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Podolski (esq.) é companheiro de time de Wellington Tanque (dir.) Foto/Arquivo pessoal

O Podolski não é tão animado como parece nas redes sociais? Ele é fechado mesmo? Ele melhorou um pouco. É centrado, mais calado. Tem dias que aparece, brinca com todo mundo, tem outros que vem, faz o treinamento e volta para casa. A vida no Japão é diferente do que era na Europa, onde também joguei. O futebol no Japão é como uma profissão qualquer. Ganhando ou perdendo, tanto faz para o japonês. Para quem joga e quer vencer, ser o melhor, treinar em alta intensidade, é complicado. Acho que é por esse motivo que ele fica tão fechado.

Como foi sua adaptação ao Japão? O que me ajudou foi ter passado pelo futebol alemão, que é muito parecido, dinâmico, com muita disciplina tática. Nunca pensei em jogar no Japão. Quando saí da Alemanha, tive uma passagem pelo Pelotas e, em uma partida contra o Caxias, um diretor do clube japonês Shonan Bellmare foi me ver, gostou e me contratou. Como o treinador do Shonan era o sul-coreano Cho Kwi-Jea, no clube desde 2012, gostava muito do futebol alemão e já havia tentado me contratar, eu me encaixei na filosofia de jogo dele. Fomos campeões (segunda divisão japonesa de 2014) e ele se “apaixonou” por mim. Com isso, me adaptei logo.

Wellington Tanque tirou foto com seu ídolo, Ibrahimovic, nos Estados Unidos Foto/Arquivo pessoal

Jogou contra seu ídolo, Ibrahimovic, num amistoso nos EUA, certo? Esse jogo teve um significado muito grande. É um ídolo e foi muito engraçado. Fizeram um jogo de quatro tempos de 30 minutos (120 minutos no total) e começou com David Villa nos primeiros 30, depois eu entrei. No escanteio, a marcação era individual, e eu, por ser alto, fiquei responsável por marcar o Ibra. Foi uma grande emoção jogar contra meu ídolo, e ao mesmo tempo fiquei preocupado por poder machucá-lo, sem querer. Fiquei impressionado com sua habilidade, com a facilidade que tem para se locomover, fazer os dribles, rapidez de raciocínio. Com Ibra, Iniesta, Villa e Podolski em campo, o jogo tem outro nível. Eles pensam um tipo de jogada que os companheiros não conseguem acompanhar. Hoje entendo os motivos pelos quais ele se estressa tanto dentro de campo. Ao término da partida, pedi para tirar uma foto: ele parou de fazer massagem e foi nos atender, na maior humildade e simplicidade. Conversou conosco e me proporcionou um momento que não vou esquecer. Foi muito marcante.

Wellington Tanque participa de treinamento do Vissel Kobe ao lado de Podolski Foto/Arquivo pessoal

Ainda na base, você se transferiu do Grêmio para o Inter. Qual a reação dos times? Estava muito bem na base do Grêmio e havia a conversa de que chegaria ao time profissional. Mas um dia meu empresário na época chegou, sem dar explicações, e disse: “Você vai jogar no Inter.” Peguei minhas coisas, assinei contrato e virei motivo de reportagens: “Inter rouba centroavante dos juvenis do Grêmio” e “Atacante sai escondido do estádio Olímpico.” Com 15 anos, foi um choque. No fim, mesmo com muitos jogadores de talento, tudo deu certo. Eu me tornei profissional.

Tanque, o segundo de pé, da esquerda para a direita, começou na base do Grêmio Foto/Arquivo pessoal

Tem uma história de fuga da concentração do Inter junto com o Alexandre Pato. Atrás do campo de treino do Beira-Rio tinha um galpão feito para festas de faculdade, toda quinta-feira. Nós só podíamos sair até meia-noite e quem fosse dormir fora tinha de ter uma autorização. Naquela quinta eu não peguei autorização e já passava de meia-noite. O Ramon (lateral esquerdo do Vasco) estava na festa e ligou falando que estava rolando um show de hip-hop. Eu, Taison, Alexandre Pato e o Luiz Carlos decidimos sair pela janela. Amarramos lençóis para descer e eu saí primeiro porque era maior. Mas o lençol  arrebentou – não desceram nem o Pato nem o Taison, que me acobertou. No show, conheci minha esposa, com quem sou casado até hoje.

Wellington Tanque, terceiro de pé da esquerda para a direita, foi para o Inter em 2005 Foto/Arquivo pessoal

Depois de passar por São Caetano e Náutico, como foi conquistar o único título holandês da história do Twente? O time era muito bom. Foi um ano em que tudo deu certo. Estava tudo a nosso favor. O Luis Suárez ainda jogava pelo Ajax, o time mais forte, mas éramos treinados pelo inglês Steve McClaren, que dirigiu a Inglaterra na Copa de 2006. Gostei muito, foi outra experiência incrível de trabalhar com um treinador de seleção.

Tanque chegou ao Inter depois de jogar pelo Grêmio Foto/Arquivo pessoal

Na Alemanha, a experiência não foi tão boa… No Hoffenheim foi complicado, porque foi uma transferência muito rápida. Estava no Náutico, emprestado, e jogaríamos com o Athletico-PR na quarta-feira. Viajaríamos na segunda-feira, dia em que sofri uma lesão na panturrilha. Viajamos e naquela noite, o Sangaletti, diretor do Náutico, informou que eu estava vendido para a Alemanha. Tinha de voltar a Porto Alegre para assinar contrato. Na terça-feira pela manhã assinei contrato com os alemães e à noite peguei voo para a Alemanha. Na quarta pela manhã, antes dos exames médicos, fui para um treino, senti dor e não consegui terminar a atividade. Quando fiz o exame, descobri que estava com uma lesão de quatro centímetros na panturrilha. Assinei contrato e fui lesionado sem saber. Isso atrapalhou muito na adaptação à Alemanha. O time estava bem, venceu o primeiro turno e entrei em algumas partidas depois da recuperação. Conversaram comigo e disseram que me emprestariam para me adaptar ao futebol europeu. Fui para a Holanda e depois voltei a ser emprestado ao Fortuna Düsseldorf.

No Fortuna, eu, o zagueiro Tiago Calvano e o meia Thiago Rockenbach demos azar por pegar uma sequência de oito derrotas consecutivas no começo da temporada. O treinador resolveu tirar os três brasileiros e o time ganhou . Na cabeça dele o problema éramos nós. Como tinha mais seis meses de contrato, voltei ao Brasil, onde joguei por Figueirense, Goiás e Linense. Mesmo sem ser tão boa, não tenho críticas à minha passagem pela Alemanha. Saí do Brasil com 19 anos e lesionado. Não tinha experiência e não soube controlar. Na minha cabeça, lembrei do meu bom momento no Brasil e por isso resolvi voltar,.

Wellington joga no Vissel Kobe desde 2018 Foto/Arquivo pessoal

E o retorno foi bom? Comecei bem no Figueirense, na disputa do Campeonato Catarinense. Mas com a chegada de Jorginho (treinador), fui afastado. Depois de um tempo, voltei ao Figueirense para saber o  motivo do afastamento e meus ex-colegas disseram que queriam diminuir meu salário e me afastaram. São coisas que acontecem nos bastidores e não entendemos bem. No Pelotas, em 2013, tive uma experiência boa e ruim ao mesmo tempo. Estava na Alemanha, em uma das maiores ligas do mundo, e voltei  para um clube que infelizmente não disputava nenhuma divisão. Foi um choque, mas superei, fui para o Japão (Shonan Bellmare) e depois de ser campeão não quis renovar contrato. Em uma conversa com o Guto Ferreira, treinador da Ponte Preta na época, fui para o clube de Campinas. Mas meu erro foi não ter feito a pré-temporada. Cheguei no clube, em 2015, com o campeonato em andamento, sem ritmo, sem preparo físico. No mesmo ano, voltei ao Japão, para o Avispa Fukuoka, que disputava a segunda divisão. Depois da minha chegada, conseguimos o acesso. Fiquei dois anos e meio, e na minha última temporada, em 2017, fiz 19 gols. Em 2018, me transferi para o Vissel Kobe.

O Vissel Kobe é bem maior… É um time que tem muito dinheiro. O dono (Rakuten) patrocina o Barcelona, o Golden State Warriors (na NBA) e um time de beisebol no Japão. E é sensacional a chegada de atletas com o peso de Iniesta, Villa e Podolski. Moro no mesmo prédio que todos no Japão.

Tem vontade de jogar no Brasil? Meu contrato com o Vissel Kobe acaba neste ano. Tive proposta do FC Tokyo, do Japão, e do futebol chinês, mas penso em retornar ao Brasil. Especialmente pelo fato de não ter jogado mais tempo por um clube grande. Estou muito maduro e vivo o meu melhor momento, condição física e maturidade. Pela falta de centroavantes no Brasil, gostaria muito de retornar. Nas férias encontrei com um diretor da Chapecoense, que fez um convite, mas não evoluiu com o Vissel Kobe. O Internacional também fez contato. Estou indo para meu sexto ano no Japão, estou adaptado com as portas abertas, com diversas propostas, mas minha vontade é retornar ao Brasil.

Wellington Tanque é atacante do Vissel Kobe Foto/Arquivo pessoal
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